domingo, 20 de setembro de 2015

Emoção na Homenagem a Mehige Hanna Saad


Merhige Hanna Saad foi homenageado no dia 18 de setembro, por ocasião da Festa da Providência, na Praça Governador Portela




O libanês Merhige Hanna Saad foi homenageado, juntamente com Padre Mello, no dia 18 de setembro passado, por ocasião da Feira da Providência, organizada por Raul Travassos, na Praça Governador Portela, em favor das obras da Igreja.

Michel Saad, Maria Cristina, Patrícia, Ismélia, Maura, Eunice e Marian Saad Sauma vieram a Bom Jesus para a homenagem a Merhige Hanna Saad

Estiveram presentes ao evento as filhas Ismélia, viúva do governador Roberto Silveira, Marian e Maria Cristina, além de Michel Saad, ex-deputado estadual e diretor do jornal A Voz do Povo, Eunice e Patrícia Saad.


Preciosidade arquitetônica da Praça Governador Portela foi preservada por Merhige Hanna Saad



Ismélia Silveira afirmou ao O Norte Fluminense, na residência de seus pais, localizada na Praça Governador Portela, que chegou a ser sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro por ocasião das Festas de Agosto nos anos de 1959 e 1960, quando Roberto Silveira foi governador: "Agradeço a Raul Travassos pela homenagem. Todos ficamos emocionados com a lembrança de meu pai, porque com ele aprendemos a ter o amor à família de uma forma sólida. Ao nosso pai, só temos palavras de agradecimento por tudo o que ele foi para nós".


Edifício Monte Líbano foi inaugurado por Merhige no dia 14 de agosto de 1950, com cinema com capacidade para mil pessoas


De acordo com Marian Saad,  "meu pai era um homem idealista e sonhador, que lutava pelo desenvolvimento de Bom Jesus do Itabapoana. Por isso, sempre luto para que o prédio do edifício Monte Líbano seja destinado a um fim útil para a comunidade. Recordo-me que minha mãe recusou a proposta de uma igreja que desejava comprar o prédio, pois ela também desejava que o imóvel tivesse uma finalidade pública, conforme o desejo de meu pai".

Prossegue Marian: "Recentemente, ao desfazer-me de livros para um sebo, observei um que me chamou a atenção: tratava-se de uma obra sobre  'Stonehenge', que é uma estrutura de pedras gigantes dispostas em círculos concêntricos e que foram encontradas nas Ilhas Britânicas. Estas pedras são, até hoje, alvo de estudos sobre sua origem. Este livro chamou-me atenção e decidi lê-lo. Ao folheá-lo, contudo, encontrei, para minha surpresa, um papel contendo uma "Prece Árabe", que eu desconhecia. Ao lê-la, observei que ela retratava tudo o que meu pai foi em vida. E me emocionei muito.

Prece Árabe







"Deus, não consintas que eu seja o carrasco que sangra as ovelhas, nem uma ovelha nas mãos dos algozes.

Ajuda-me a dizer sempre a verdade na presença dos fortes, e jamais dizer mentiras para ganhar os aplausos dos fracos.

Meu Deus, se me deres a fortuna, não me tires a felicidade; se me deres a força, não me tires a sensatez; se me for dado prosperar, não permita que eu perca a modéstia, conservando apenas o orgulho da dignidade.

Ajuda-me a apreciar o outro lado das coisas, para não acusar meus adversários com mais severidade do que a mim mesmo.

Não me deixes ser atingido pela ilusão da glória, quando bem sucedido, e nem pelo desespero, quando derrotado. Lembra-me que a experiência de uma queda poderá proporcionar uma visão diferente do mundo.

Ó Deus! Faça-me sentir que o perdão demonstra força, e que a vingança é prova de fraqueza.

Se me tirares a fortuna, deixe-me a esperança. Se me faltar a saúde, conforta-me com a graça da fé. E, quando me ferirem a ingratidão e a incompreensão dos meus semelhantes, cria em minha alma a força da desculpa e do perdão.

Finalmente Senhor, se eu Te esquecer,  Te rogo que nunca Te esqueças de mim".





Maria Cristina assentou, por sua vez: " Nosso pai nos deu exemplo de vida, de amor à família. E essa é uma preciosidade que levamos a cada momento em nossas vidas".


Michel Saad, ex-deputado estadual e diretor de A Voz do Povo


Segundo Michel Saad, " quando propuseram a Merhige investir seus lucros em Niterói, ele respondeu: - Vou investir em Bom Jesus o que ganhei em Bom Jesus. Isso revela o amor que ele tinha pela cidade. Na época, ele poderia ter comprado cerca de 9 (nove) apartamentos em Niterói, mas preferiu construir o edifício Monte Líbano em Bom Jesus. Ele era um homem desprendido e exemplo de dignidade ", salientou.



Para Maura Saad, "a palavra principal que tenho de utilizar, quando me recordo de Merhige, é 'gratidão'. Merhige esteve sempre presente em nossas vidas, apoiando-nos em todas as circunstâncias, sempre com um gesto de proteção e de amor, que incluiu meu saudoso marido Antônio Merhige. Isso é muito raro, hoje em dia".


Patrícia Saad: neta de Merhige e Alzira Saad
 
A neta Patrícia Saad, filha dos saudosos José Saad, ex-deputado estadual, e Olga Saad, esteve em Bom Jesus para a homenagem a seu avô. São 3 irmãos: Elizabeth, magistrada, e os empresários José (Zeca) e Ricardo, com 8 bisnetos de Merhige e Alzira. Ela assinalou ao O Norte Fluminense:  "meus avós eram discretos, carinhosos e honrados. Vejo em nossas famílias uma imagem de continuidade do que foram nossos pais e avós. A união de nossa família é fruto do legado de nossos avós".




UM POUCO DA HISTÓRIA DE MERHIGE HANNA SAAD

Da Série Famílias Tradicionais

Merhige Hanna Saad e Alzira Sauma Saad




Merhige Hanna Saad nasceu nas montanhas do Líbano, na localidade de Remahala em 18 de março de 1985, filho de Hanna Merhige Saad e Bader Saad. Casou-se em 24 de janeiro de 1927, na cidade de Tombos, MG, com Alzira Sauma, nascida em Santa Clara do Carangola, RJ, em 17 de setembro de 1908, filha de José Sauma e Marian Feres Sauma.


Em 1912, aos 17 anos, e já estando seus irmãos mais velhos Jarim Hanna Saad, no Brasil, e Salim Hanna Saad, na Argentina, embarca para o Rio de Janeiro em um navio de bandeira italiana. Aqui chegando, após passar poucos dias na capital segue com Karim para o lugarejo chamado "Matinada", na "Encruzilhada dos Turcos", como era conhecida a pequena casa misto de residência e loja comercial naquela área cafeeira, onde atualmente encontra-se a fazenda do Dr. Francelino França, em Natividade.


Porém, o jovem Merhige, ou "Jorge" como era conhecido, não sabia nenhuma palavra em português e tinha pouca instrução em árabe. Entretanto, com uma determinação surpreendente e ajudado por um carreiro que ali passava regularmente, aprende a ler e a escrever em português.


Em 1914, transfere-se para Bom Jesus do Itabapoana (RJ) e, já em 1916, abre com seu irmão Karim (ou Quirino como era conhecido) a firma "Quirino Antônio e Irmão", uma loja de armarinhos e tecidos localizada na Rua Buarque de Nazareth. Nesta época, mascateia pelo interior da região montado em um burrinho, levando um baú com as amostras das mercadorias da loja para encomendas, que eram entregues na viagem seguinte.


Em sua primeira viagem, é acolhido pelo casal Amélia e Joaquim Teixeira de Oliveira em um episódio que ficou-lhe na lembrança com demonstração da generosidade brasileira: chegando à tardinha na fazenda e pedindo pouso, é convidado para o jantar. Com vergonha, agradece e diz que já tinha jantado, mas é repreendido pela mentira e por fim levado à mesa do jantar, já que a dona da casa sabia que não havia por ali lugar onde se pudesse comer.


Por volta de 1926, os irmãos começam a negociar com café, comprando e vendendo a mercadoria pois parte do que recebiam ao mascatear tecidos era pago em café à época de safra.


De seu casamento com Alzira, em 1927, nascem seus 6 filhos: Marian Bader, que casou-se com Edmundo Sauma: Ismélia, que casou-se com Roberto Silveira; José Antônio, casado com Olga Borges Saad; Antônio Merhige, o "Pico", falecido em 1991, casou-se com Maura Mury Saad; Geraldo, falecido ainda criança; e Maria Cristina, casada co Luis Roldão de Freitas Gomes.


Com a grande crise econômica de 1929, os negócios com o café sofreram uma queda brutal obrigando-o novamente a mascatear montado em seu burrinho até que a situação se estabilizasse. Em pouco tempo, com trabalho árduo, os irmãos conseguiram construir na vizinha Bom Jesus do Norte, perto da antiga linha do trem, um grande armazém para estocagem do café, negociando já em 1939 mais de 40 mil sacas por ano. Começam também a plantar café em suas fazendas Estrela, São Benedito, e Boa-Fé, em Itaperuna.


Na década de 1940, os irmãos passam a fazer negócios separadamente, quando Merhige passa a investir em novas áreas como as salas de cinema, chegando a ser proprietário de 7 salas de projeção em Bom Jesus, Bom Jesus do Norte (ES), Vila Velha (ES), Colatina (ES) e Baixo Guandu (ES).


Em 14 de agosto de 1950, durante o banquete comemorativo de inauguração do Cine-Teatro Monte Líbano, recebe o título de cidadão bonjesuense do qual sentia grande orgulho. Marco na arquitetura da cidade, foi o primeiro edifício da região, contando com dois andares de salas comerciais e uma construção impecável que nada devia aos melhores teatros da capital. Por ali se apresentaram os maiores nomes do teatro e da música brasileira, que passaram a incluir Bom Jesus em suas turnês. Sete anos mais tarde, instala no segundo andar a Rádio Bom Jesus de sua propriedade que abrigava grande acervo musical.


Em 1951, sua filha Ismélia casa-se com a grande promessa política do Estado do Rio, o então secretário de Justiça e futuro Governador Roberto Silveira. Nesta época, a família se transfere para a casa ao lado do Cinema, em frente à praça Governador Portela, onde recebem grandes personagens da política brasileira.


Em 25 de abril de 1973, morre vítima de um infarto do miocárdio em sua casa em Bom Jesus, cidade que não gostava de sair porque dizia que era ali que queria morrer.

Sua viúva, Alzira Saad, falece em Niterói em 1992.

Em 1999, a família construída por Merhige e Alzira conta ainda com 17 netos e 17 bisnetos. 

Do livro "RESGATANDO O PASSADO, IMPORTANTE DOCUMENTÁRIO DE BOM JESUS - LEMBRANÇAS E RECORDAÇÕES", de Heliton de Oliveira Almeida e João Batista Ferreira Borges, Almeida Artes Gráficas, 2000. Republicado na edição de outubro de 2014, de O Norte Fluminense. 



OS ÚLTIMOS MOMENTOS DE MERHIGE HANNA SAAD

Quarto de Merhige e Alzira permanece intacto há mais de 60 anos



No dia 19 de abril de 2014, Marian Saad Sauma relatou ao O Norte Fluminense sobre os momentos que antecederam a morte de seu pai:


"Meu pai, certa vez, estava passando mal de saúde e resolvemos trazer um médico de avião do Rio de Janeiro. Esse médico recomendou a ida dele a Niterói. Recuperou-se na casa de Ismélia. Papai ficou cerca de 3 (três) meses até receber alta. Quando retornou a Bom Jesus, fez questão de ir ao Cine Monte Líbano e cumprimentar seus funcionários. Em seguida, foi até a sua casa e entregou um chinelo que trouxera de presente para a mamãe. Segurou-a, então, pela mão, e andou com ela em cada canto da casa. Ao final, ele disse à mamãe com emoção: '- É aqui que temos de ficar!'. Em seguida, minha mãe foi preparar uma canja para ele. Papai foi tomar banho e, como de costume, não trancou a porta do banheiro. Passado algum tempo, mamãe chamou por ele, que não respondeu. Mamãe resolveu então entrar no banheiro e viu papai caído no chão, envolvido na toalha: ele teve um colapso cardíaco e faleceu"


BONJESUENSE QUER HOMENAGEM OFICIAL A MERHIGE HANNA SAAD

No dia 25 de junho de 2014, o cidadão André Luiz de Oliveira encaminhou ofício à Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana indicando o nome de Merhige Hanna Saad para ser homenageado com o nome de via pública.

André Luiz de Oliveira quer homenagem oficial a Merhige Hanna Saad


Segue o teor de seu ofício.


Bom Jesus do Itabapoana, 25 de junho de 2014


Ilmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana, Dr. Luciano Nunes,


ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, residente à rua Itaperuna, n. 175, Bairro Lia Márcia, nesta cidade, vem respeitosamente indicar a Vossa Excelência, que, consultando seus pares, realize necessárias homenagens, através de nomes de ruas, às seguintes personalidades:

Merhige Hanna Saad, libanês que aqui se radicou e colaborou para o grande desenvolvimento de nosso município. Foi ele quem construiu com sua capacidade visionária, por exemplo, o prédio Monte Líbano, localizado na Praça Governador Portela, com cinema com capacidade para mil pessoas. Certa vez, quando lhe sugeriram que aplicasse os seus lucros na cidade do Rio de Janeiro, ele replicou: - aplicarei em Bom Jesus do Itabapoana, o que aqui eu ganhei. Deve ser mencionado, ainda, que, ao retornar de Niterói (RJ) onde fora para um tratamento de saúde, dirigiu-se ao cinema, cumprimentou os funcionários; em seguida, entrou em sua casa e, em companhia da mulher, Alzira, percorreu cada cômodo da residência, dizendo à mesma: - aqui é o nosso lugar. Momentos depois, faleceu.

Manoel Araújo dos Santos, conhecido como Neneco, ex-vereador pelo distrito de Calheiros. Foi amigo, desde infância, dos governadores Roberto e Badger Silveira. Quando crianças, todos se deslocavam até a escola da Barra do Pirapetinga, onde estudavam com a professora Olga Ebendinger.

Indica, ainda, que sejam conferidos títulos de cidadãos bonjesuenses a

Faustino Ruiz Fernandez, espanhol radicado em Bom Jesus do Itabapoana há vários anos. Seu pai e tio, oriundos da Espanha, construíram a porta e os bancos da majestosa Igreja Matriz. Casado com a bonjesuense Maria Aparecida Baptista, é pai do famoso jornalista esportivo Tino Marcos. Certa vez, em entrevista a um jornal local, afirmou: “Sempre vou a Madri, rever os parentes. Quando chego lá é tudo uma grande emoção por revê-los e aos amigos mas, passado um mês, já fico com vontade de retornar a Bom Jesus do Itabapoana, ao meu cantinho, onde vivo com tranqüilidade e paz. Aqui é o lugar que adotei para viver” e

Tino Marcos, filho de Faustino Ruiz Fernandez, com a bonjesuense Maria Aparecida Baptista, constitui uma personalidade nacional. Foi criado em Bom Jesus do Itabapoana e é casado com a bonjesuense Virgínia Maria Baptista. Está sempre em nossa cidade, por quem nutre carinho e consideração.

Atenciosamente

ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA











Um comentário:

  1. Parabéns, André Luiz de Oliveira, suas justas iniciativas são sempre imprescindíveis para a memória de Bom Jesus do Itabapoana.
    Muito comovente as homenagens aos saudosos Sr. Merhige e D. Alzira.

    ResponderExcluir