sábado, 16 de dezembro de 2023

Lao Monteiro de Carvalho: o exemplo para o mundo de um bonjesuense



Acervo: Saulo Monteiro
Lao Monteiro de Carvalho 




No dia 4 de outubro de 1947, tomaram posse os edis da 1ª  Câmara de Vereadores de Bom Jesus do Itabapoana, eleita após as eleições ocorridas em 1946. Até então, desde 1º janeiro de 1939, data de nossa 2ª e definitiva emancipação, o município era governado sem legislativo. 

Lao Monteiro de Carvalho  foi eleito para essa 1ª legislatura, ocupando o cargo de vice-presidente da Câmara. Ele foi também apoiador de Esio Bastos na fundação do jornal O Norte Fluminense, ocorrida no dia 25/12/1946, e participou da direção da sua publicação.

Lao Monteiro, junto com sua esposa, Maria Leite de Carvalho, conhecida como Cocota, constituem um extraordinário exemplo de vida ao mundo. O casal criou cerca de dezesseis crianças, muitas pobres, com todo o carinho e devoção. Essas crianças cresceram e se tornaram referência para a nossa sociedade, como Cyro Werdan Monteiro de Carvalho, Francisca Carvalho Machado e Ângela Maria Machado Pirozzi. Os netos de Lao são, por sua vez, exemplos de pessoas cultas e comprometidas com o desenvolvimento cultural da sociedade, como os netos Saulo Soares, escritor, residente em Piraí, o jornalista Bruno José 
Machado Pirozzi, residente em Rio das Ostras e irmãos deste,  Maria Francisca Carvalho Pirozzi, Angelo José Machado Pirozzi, José Tarcísio Machado Pirozzi e Maurício José Machado Pirozzi, residentes em Nova Friburgo.

Ângela Maria Machado Pirozzi, ao lado de seu filho, o jornalista Bruno Pirozzi, foi criada por Lao Monteiro de Carvalho e Maria Leite de Carvalho



Há oito anos, Saulo Soares escreveu um texto sobre o avô, intitulado "Sr Lao", que O Norte Fluminense republica a seguir.

                                   Sr. Lao
                                         

        Saulo Soares

               

Sabemos que a memória não é feita somente de fatos, acontecimentos. Não. Tudo isso é permeado, coberto e moído por sentimentos. Sentimentos que intensificam as recordações e que as marcam, ás vezes de forma indelével, como fazem os sacramentos na alma.
Não conheci o Sr. Lao. O que dele sei, ouvi de seu filho, Cyro. Este foi uma das crianças acolhidas por ele.
Creiam que conheçam a passagem bíblica que nos diz: “... todo aquele que se tornou discípulo do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que do seu tesouro tira coisas novas e velhas.”. (Mt 13,52).  Pois bem: do tesouro de uma “velha” e enferrujada lata de Cream Crakers Aymoré, retirei, de uma missiva, o sentimento de uma profunda admiração pelo Sr. Lao.
Numa carta endereçada a Francisco Werdan, Cyro, filho do Sr. Lao, relata: “Fui doado quando tinha vinte e dois dias de nascido e minha mãe estava quase morta com pneumonia dupla. Na roça, sem médico, tratada apenas por um farmacêutico. Esta doação não me trouxe revolta. Pelo contrário, enriqueceu-me em todos os sentidos. Passei a me orgulhar de duas famílias: os Werdan e os Monteiro de Carvalho. E, no lugar de perder, ganhei mais dois pais que, além de mim, criaram mais de dezesseis filhos dos outros, quase todos pobres ou doentes. [...] E me fez respeitar cada vez mais este casal que me adotou: Lao Monteiro de Carvalho e Maria Leite de Carvalho.” Qual não foi minha surpresa, senhores, quando li a etimologia do nome “Lao”: “Aquele que canta para adormecer as crianças.” Mais de dezesseis... pensei.
Cyro contou-me que o Sr. Lao “aposentava” – mesmo ainda com vigor e saúde - os animais que os serviram na Chácara. Certa vez comprou um cavalo pelo quádruplo do preço (!) somente para não vê-lo apanhar mais.
Enfim, o Sr. Lao, juntamente com o seu amigo, Esio Bastos, foram parceiros na 1ª Câmara de Vereadores de Bom Jesus e, desde a fundação (vejam só!) do nosso O Norte Fluminense. O Sr. Cyro, por sua vez, também escreveu, por anos, no importante e querido jornal.
Amigo leitor, a partir de hoje, compartilharemos este espaço. Uma honra para mim! Memórias e sentimentos, como disse... Sou orgulhoso de uma terra que não é minha (permitam-me, por favor, tal ousadia!), mas que me deu dois grandes homens honrados. Homens do norte fluminense, homens do O Norte Fluminense.
Meu nome é Saulo Soares Monteiro de Carvalho, filho de Cyro Werdan Monteiro de Carvalho e neto do Sr. Lao Monteiro de Carvalho.







"Vô Lao e amigos", em registro de uma reunião de algumas personalidades importantes de Bom Jesus
 







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