Dr Nino Moreira Seródio |
Era um domingo pela manhã, recebi a notícia pelo Levi (motorista do PU). Passei a recordar o meu tempo de criança... O casarão da Rua República do Líbano. O muro era o encontro da rapaziada após as nossas peladas de futebol, ali, em frente ao prédio dos bancários.
Recordei-me das vezes que fui acolhido no casarão da República do Líbano. Em minha casa, recebia os recados da Tia Maria para arrumar as amostras de remédios do Tio Seródio, mas em ordem alfabética, retirando os vencidos. Após essa tarefa, recebia o convite para sentar-me à mesa giratória para nos deliciarmos com aquele almoço de fartura e ainda recebia uns trocados, o que me deixava mais radiante de alegria.
Mas, uma coisa que sempre me chamou a atenção, na sala ao lado, havia um quadro negro, onde toda semana uma mensagem era escrita. Foi assim que passei a conhecer mais a Tia Maria. Por diversas vezes, presenciei as suas acolhidas por aqueles menos favorecidos, pela sorte que ao casarão chegavam para pedir um prato de comida. Isso sem falar no tempo de plantão médico no SANDU, quando Dr. Abelha e Dr. Seródio estavam lá e chegava aquele banquete, mandado pela tia Maria.
Essa semana, a Netinha (auxiliar de enfermagem), me dizia: "A dona Maria já saciou a fome dos meus filhos muitas vezes". Quando terminei meus estudos em Campos, recebi sua cartinha onde dizia: "Meu prezado sobrinho Nino, jamais se esqueça de recitar ao Mestre dos Mestres". No natal, jamais deixava de mandar o seu cartão e em uma das cartas dava forças à minha mãe Irene, com seus pensamentos.
No dia 13 de agosto do ano passado, cumpriu o que havia prometido, compareceu em minha casa, no encontro das Famílias Moreira e Seródio. Estava alegre, feliz e prometeu-me que o próximo ano seria a primeira a chegar. Recebi sua última cartinha no dia 06/10, lembrando as homenagens na praça, as flores e o poema Mãos de Médico.
Aos familiares
Tia Maria entrou para a outra vida desnuda de todas as ambições pessoais, mas condecoradas com as medalhas e diplomas de exemplos que a credenciaram a gratuidade de seu ingresso na verdadeira vida. Tia Maria era admirada pela humildade e pela grandeza de seu caráter. Trouxe de berço as qualidades que a fizeram trilhar o caminho do bem e, além disso, praticou a caridade sem divulgá-la.
Sou sumamente grato pelo bem que Ela me fez, pelas palavras que me dirigiu, pelos gestos, pelo amor que me deu. Ficam, aqui, os meus agradecimentos por sua vida, pois, hoje, tia Maria habita a terra do sol eterno, ao lado do cordeiro que tudo ilumina com sua gloriosa vida. Tempo... ah, inexorável tempo...
Saudades...
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