Veio de São Pedro do Itabapoana, com os olhos cheios de memória e o coração afinado com a poesia do tempo. O Dr. Pedro Antônio de Souza chegou à 3ª FLICbonjê (Feira Literária e Cultural de Bom Jesus do Itabapoana), não apenas como convidado ilustre, mas como mensageiro de um sonho antigo, tecido em silêncio por muitos anos: reviver Frauta Agreste, a única obra publicada por Maria Antonieta Tatagiba, poetisa e educadora nascida entre as montanhas em 1895, que deixou o mundo cedo demais, mas cujas palavras ainda respiram, doces e firmes, como o vento que desce das encostas.
Maria Antonieta escreveu com o peito aberto para o mundo e a alma sensível às dores humanas. Sua poesia sangra, floresce, sussurra. "Tudo revive com o dulçor do outono… Só tu não deixas este longo sono…" escreveu ela, no poema “Ruyzinho”, dedicado ao filho perdido. Que mãe, que poeta, que mulher.
Dr. Pedro, fundador e presidente da Academia que leva seu nome e seu legado, trouxe não só versos em folhas amarelecidas, mas um farol aceso, um chamado à memória, um tributo àquelas vozes que quase se perderam nas curvas da história. Em Frauta Agreste, reencontramos a força feminina em sua forma mais lúcida, visionária e delicada: "o homem não deve recear o feminismo", alertou ela, com uma atualidade que transcende quase um século.
Durante a FLICbonjê, Dr. Pedro participou do Encontro entre Academias e Autores. À noite, assistiu, entre a comoção e a ternura, à estreia da TUNA LUSO-BONJESUENSE, crianças se transformando em som, em esperança, em ponte para o amanhã. Era como se os versos de Maria Antonieta estivessem ali, tangendo as cordas invisíveis da infância.
No dia seguinte, seus passos o levaram ao Teatro Cinema Conchita de Moraes, recém-refundado, na Usina Santa Maria. E ali, em meio à vibração teatral da pequena Brenda Alessandra e ao dedilhar comovido do pianista Luis Otávio Barreto, Dr. Pedro reconheceu a arte viva, pulsando. Mais tarde, os acordes dos jovens músicos da Sociedade Musical da Usina Santa Maria o fizeram sorrir em silêncio, como quem assiste à aurora e reconhece a eternidade contida no instante.
No almoço de confraternização, na casa de Betinho Milão, Dr. Pedro talvez tenha sorrido mais leve, como quem já cumpriu uma etapa de sua missão.
Não importa se Frauta Agreste foi o único livro de Maria Antonieta. O que importa é que ele existe, como perdura a beleza de "Beleza Negra", a única obra de de Anna Sewell, como existe "E o vento levou", único livro de Margaret Mitchell, como permanece a voz que ainda ecoa em "O Bosque das Ilusões Perdidas", única publicação de Alain-Fournier, o mesmo ocorrendo com John Kennedy, com seu livro "Confraria de Tolos". O número nunca definiu a grandeza. É a luz que importa. E Maria Antonieta é luz.
Dr. Pedro deixou em Bom Jesus do Itabapoana um legado que não se fecha na moldura de uma Feira Literária e Cultural. Trouxe um passado que se recusa a ser esquecido, devolveu-nos versos que estavam à beira do silêncio, e plantou um farol que, agora aceso, começa a iluminar o país.
Que texto emocionante! Uma obra que transcende o tempo. Sua presença na FLICbonjê foi um tributo à memória e à arte, trazendo à luz " Frauta Agreste", mostrando que a grandeza não se mede pelo número de obras, mas pela luz que elas irradiam. É inspirador ver como a literatura pode conectar pessoas e lugares, mantendo viva a essência daqueles que nos precederam.
ResponderExcluirParabéns, Dr. Pedro!👏👏❤️
E para saber mais sobre o Dr. Pedro e sua academina acompanhe a reportagem sobre a Academia Maria Antonieta Tatagiba. zhttps://youtu.be/_Vrs_IXxCKQ?si=o47uj7Xz2h9lW5s1
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