A fibra que conta histórias
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| Onde a Fibra Vira Destino |
Começou no modelar delicado do biscuit, mas foi a fibra da bananeira, humilde, rústica, generosa, que a chamou pelo nome. Primeiro como um sussurro, depois como vocação. Há encontros que mudam destinos; o dela tinha cheiro de natureza seca ao sol e promessa de transformação.
A bananeira, essa planta de gesto largo e vida breve, revelou-lhe seus segredos: o pseudocaule que parece tronco, mas é só folha empilhada; a resistência que nasce da flexibilidade; a força que se esconde naquilo que muitos consideram resto. Sônia compreendeu: a bananeira é como gente. Dobra, mas não quebra. Morre, mas renasce. Entrega seus frutos e, ainda assim, oferece mais, oferece fibra.
E fibra é mais que matéria-prima. É metáfora.
Nas mãos de Sônia, a “pelica”, a “renda” e o “filé” deixam de ser apenas classificações. Viram voz. Viram cesto, luminária, bolsa, poesia trançada. Cada peça carrega a memória de uma planta que cumpriu seu ciclo e, mesmo assim, encontrou novo destino. Não é assim também com a vida? Aquilo que parece sobra pode ser começo; aquilo que parecia fim pode ser renascimento.
Enquanto trabalha, Sônia parece conversar com as fibras, como quem escuta conselhos antigos:
"Seja como eu, que me curvo ao vento sem me quebrar".
"Transforme o que dói em beleza".
"Aceite os ciclos. Há força na entrega, há delicadeza na resistência".
E assim, no ritmo lento e sábio do artesanato, ela mesma se refaz. Cada peça concluída é também um pedaço de si que aprende, renova, floresce. Porque Sônia não apenas trabalha com fibra de bananeira, ela é fibra de bananeira: resistente, flexível, renascente. É matéria viva transformada em arte, e arte transformada em caminho.
No final, suas criações não são apenas objetos. São crônicas silenciosas sobre a vida, escritas em fios naturais, onde cada trama guarda uma história de resiliência. E é por isso que, quando alguém leva um de seus trabalhos para casa, leva junto um pouco da própria filosofia da bananeira, esse lembrete suave de que toda existência, por mais simples que pareça, guarda uma força profunda, capaz de florescer novamente.
Sônia Regina Vieira Ferreira: a artesã que descobriu que, antes de tudo, somos todos feitos de fibra.















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