Nas manhãs quietas de Bom Jesus do Itabapoana, há um ponto de encontro entre o sol e as histórias: a Banca da praça Governador Portela. Ali, entre revistas coloridas e o farfalhar de papéis, repousa um sobrevivente elegante do tempo, O Norte Fluminense. E quando atravessa as montanhas e desce até o Rio, encontra abrigo na Tijuca, na Banca do Rodolfo, como se buscasse também a brisa urbana para folhear suas páginas de memória.
Impressiona a longevidade deste jornal que nasceu num 25 de dezembro de 1946, já carregando no berço uma vocação natalina, de anúncio e esperança. Mantido pelos seus assinantes como quem sustenta um elo sagrado, o jornal caminhou por décadas sem perder o encanto do papel que respira, que dobra, que marca os dedos de tinta e presença. E continua assim: sustentado por aqueles que, ao assiná-lo, assinam também um pacto com a cultura impressa.
Pois é inegável: o jornal impresso ainda tem algo que nenhuma tela imita. Há no ritual de folhear um jornal uma espécie de recolhimento. O leitor se curva levemente, como em respeito. A mão avança, vira a página, e por um instante o mundo se ordena, sem a pressa vertiginosa dos feeds, sem a gritaria dos algoritmos. No papel, a informação tem tempo. E o leitor também.
O Norte Fluminense, fiel à sua própria vocação, dedicou-se sempre aos grandes e pequenos acontecimentos de nossa aldeia, aqueles que passam despercebidos aos olhos da grande mídia, mas que carregam a alma verdadeira de um povo. Há, nessa escolha, uma ternura quase arqueológica: recolher fatos que seriam engolidos pelo esquecimento e devolvê-los à comunidade como quem acende pequenas lanternas na memória coletiva.
Porque existe, sim, uma história soturna e luminosa ao mesmo tempo, correndo silenciosa entre as ruas do interior e as avenidas da cidade grande. Uma história feita de gente, de cultura, de humanidade. E o jornal, como um velho guardião, anota tudo, preserva, narra, e ao narrar, cria futuro.
O Norte Fluminense não é apenas um veículo: é um legado em movimento. É uma esperança impressa, dobrada cuidadosamente, entregue de mão em mão, das bancas aos assinantes que, tão fiéis, recebem quase uma banca inteira em suas casas.
E por isso saudamos a persistência das bancas, a da praça Governador Portela e a do Rodolfo, que, como faróis, mantêm acesa a circulação dessas páginas. Saudamos também os assinantes, anunciantes, escritores, poetas e colaboradores cúmplices desse milagre cotidiano que é sustentar um jornal que não apenas conta a história, mas também a constrói.
Porque enquanto houver quem leia, quem escreva e quem distribua, haverá sempre um Norte, ainda que de papel, apontando caminhos no tempo.






Nenhum comentário:
Postar um comentário