Rosal celebra 21 anos de consciência, cultura e luz
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| Ana Maria Souza, filha da saudosa Azenir Maria de Souza, prossegue como símbolo de resistência e esperança: guardiã da memória coletiva de Rosal |
O 21º Evento Cultural da Consciência Negra, realizado em Rosal, ergue-se como uma verdadeira lição, não apenas para o distrito, nem somente para Bom Jesus do Itabapoana, mas para o mundo inteiro. Uma lição que começa pelo próprio nome: há vinte e um anos, o Movimento Negro de Rosal organiza, com a força de suas mãos e a firmeza de sua consciência coletiva, um evento cultural de consciência negra. Vinte e um capítulos ininterruptos de resistência, afirmação e esperança.
José Martí, em sua clareza visionária, já nos lembrava: “ser culto é o único modo de ser livre”. Uma liberdade que, no Brasil, ainda disputa espaço contra o que o professor e pensador Paulo Cruz chama de cultura de subalternização do negro, não um fenômeno distante, mas algo entranhado em nosso ethos social, tão naturalizado que muitos sequer o percebem. Essa cultura, segundo ele, marginaliza práticas, saberes e expressões negras, afastando-as do centro da vida cultural e simbólica do país.
É justamente contra essa sombra, feita de séculos, que o Movimento Negro de Rosal acende sua chama. Porque, no processo de subalternização, o que se perde não é apenas o protagonismo, mas o direito de contar a própria história, de nomear o próprio mundo. E é através do conhecimento, da consciência desperta e da compreensão crítica das hierarquias sociais, todas elas nascidas de disputas, que cada indivíduo pode escolher quais batalhas está disposto a enfrentar.
Há duas décadas e mais um ano, o Movimento Negro de Rosal não foge à luta. Nasceu espontâneo, como broto que rompe o solo duro, afirmando identidade, valores e presença. Sustenta, desde então, a mesma bandeira: a da esperança. Esperança traduzida em empoderamento, protagonismo, fortalecimento cognitivo e participação ativa, a crença de que compartilhar cultura é, também, compartilhar humanidade.
A programação do evento, preparada com cuidado artesanal pela Comissão Organizadora - José Antônio (Tunico), Maria José da Silva, Maria Geralda, Ana Maria e André Luiz de Oliveira - reflete essa visão luminosa. O símbolo anual, uma mão negra cumprimentando uma mão branca, ambas projetando a mesma sombra, sintetiza a poesia política do movimento: somos diferentes em tom, mas iguais em dignidade, história e futuro.
E o futuro se constrói com gestos assim:
. Homenagens a Aninha, Carlito Gabriel e Isac Nascimento;
. Exposição de Trabalhos Afro dos Colégios Estadual e Municipal Luiz Tito;
. Exposição de livros de Djalma Pereira Campos e Tereza Cristina Nazaré;
. A tradicional Santa Missa;
. A retreta da centenária Lira 14 de Julho;
. O Almoço Comunitário, que mistura temperos e afetos;
. Oficinas de arte Consciência Negra;
. Apresentações do grupo de dança Corpo em Movimento e do espetáculo Canto das Três Raças;
. O Desfile de Carros de Bois, tradição que dá corpo à memória.
Cada ato, cada gesto, cada homenagem faz estremecer a velha lógica da subalternização. Rosal, com seu Encontro Cultural de Consciência Negra, torna-se farol, iluminando caminhos possíveis de igualdade racial. Caminhos trilhados lado a lado, com as lições do passado nas mãos e um horizonte de justiça à frente.
Não por acaso, o conceito africano Sankofa, “volte e pegue”, ecoou durante toda a celebração. É preciso voltar ao passado para recuperar o que foi esquecido, para honrar quem abriu veredas antes de nós.
A data, portanto, é de festa e reverência: celebra-se a excelência negra, aqueles que pavimentaram as estradas que hoje percorremos. Mas é também um convite a olhar para trás sem retroceder, compreender que o presente exige superação e partilha, partilha de sonhos, lutas e conquistas em direção a uma sociedade verdadeiramente igualitária e justa.
A TV Alcance, idealizada por Isac Nascimento, eternizou o momento. Naquele dia, Isac foi repórter e também reportado, cronista e personagem, testemunha e protagonista. Registrou a história e, simultaneamente, ajudou a escrevê-la.
E assim Rosal ensina. Ensina ao distrito. Ensina a Bom Jesus do Itabapoana. Ensina ao mundo. Porque onde há consciência, há cultura. E onde há cultura, há liberdade.






















































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