sábado, 6 de dezembro de 2014

A SAPUCAIA DO ITABAPOANA



Da Série Entrevistas de O Norte Fluminense


Dejair Zanon

O  bonjesuense Dejair Zanon, radicado em Sapucaia (RJ),  concedeu entrevista ao O Norte Fluminense, por carta e telefone. A mesma resulta em duas publicações. Segue seu relato sobre a trajetória de sua vida.

"Bom Jesus do Itabapoana é o município do Estado do Rio de Janeiro que, talvez, seja o único do Brasil que tenha tido 2 irmãos governadores: Roberto e Badger Silveira..

Tendo escrito para o nosso respeitável e querido jornal "O Norte Fluminense", sugerindo uma reportagem com o meu filho, dr. Anderson Bárcia Zanon, o 1o. prefeito reeleito na história de Sapucaia (RJ), recebi da direção desse conceituado jornal a proposta para a publicação a respeito de minha passagem por este planeta. Com muita fé em Deus, determinação e coragem, completei 80 anos de idade no dia 31 de agosto passado. Meu nome é Dejair Zanon, filho de José Zanon e Maria Moreira Zanon, ambos falecidos. Dessa união, 7 filhos: Dalgiza (falecida), Dejair, Dejalma, Dgmar, Deusdeth, Delza e Maria José (também falecida).



Acervo Dejair Zanon


Após ter vivido na zona rural como pequeno sitiante, o nosso querido e honrado pai resolveu  mudar-se para Bom Jesus do Norte (ES), onde foi trabalhar no armazém de nosso saudoso tio-avô Eurico Moreira de Faria, pessoa dedicada e de grande visão empresarial.
Foi um dos fundadores da Cooperativa Agropecuária do Vale do Itabapoana Ltda (CAVIL), inclusive cedendo uma casa de sua propriedade, na qual foi instalada a aludida empresa, tendo sido eleito o seu primeiro presidente. 

Cursei o antigo primário no Grupo Escolar Horácio Plínio em Bom Jesus do Norte (ES), fazendo, a seguir, o admissão e o ginasial no Colégio Rio Branco. Na época, o educandário era dirigido pela professora Dona Carmita e tinha como competentes professores o dr. Francisco Baptista de Oliveira, de Português e Matemática, dr. Hélio Bastos Borges, de Latim, dr. Waldir Nunes da Silva, de Ciências, Pastor Cordeiro, de Inglês, Dona Yolanda, de Desenho, e vários outros amigos que, apesar de não terem formação para o magistério, faziam do Rio Branco um colégio respeitado e admirado na região.

José Zanon estudou no Colégio Rio Branco

Concluído o Ginasial, iniciei, em 1955, o Curso Técnico em Contabilidade. Porém, tendo feito concurso para o IBGE, no Liceu das Humanidades, em Campos dos Goytacazes (RJ), fui aprovado, juntamente com o José Lemgruber. Após as exigências legais, foi o saudoso José Lemgruber chefiar a agência de Natividade do Carangola e eu escolhi, entre 3 vagas, a chefia da agência do IBGE de Sapucaia. Não fiquei apenas trabalhando como servidor público federal e me transferi para o Curso de Técnico de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Sapucaiense, onde o concluí em 14/01/1959.


Dejair Zanon recebendo o diploma de Professor de Matemática da Secretária Estadual de Educação,  Professora. Mirtes Wentzel,  em 1975

Tendo concluído o 2o. grau e não havendo professores habilitados para lecionar, fui convidado, em 1962, para dar aulas de Matemática nas 1a. e 2a. Séries do Ginasial, no Colégio Sapucaiense. No ano seguinte, passei a lecionar para as 4 séries do antigo Ginasial, Curso Técnico em Contabilidade e Curso Normal na Escola Normal dr. Silveira Filho.

Tendo chegado a Sapucaia em 20 de julho de 1955, fundamos em 21/04/1956, um clube de futebol, o Independente Sport Club, com as cores vermelho e preto, uma vez que a maioria dos sócios-fundadores eram torcedores do Flamengo. Conseguimos mobilizar as comunidades dos distritos de Anta, Nossa Senhora Aparecida, Jamapará e da sede de Sapucaia. Organizamos, inclusive, campeonatos municipais dos quais até um clube de Minas Gerais, o Varginha F.C. participava. Como o estádio era da prefeitura, todos os clubes o utilizavam. Aconteceu que o prefeito de 31/01/59 a 06/09/62 renunciou para se candidatar a deputado estadual e resolveu, com a aprovação da Câmara Municipal, doar o único campo ao clube mais antigo, o Mangueira F.C. Os demais clubes, diante de tal atitude, ficaram sem local para a prática do futebol, que ficou praticamente inexistente no município até hoje.

Em 9 de junho de 1963, convidado pelo saudoso prefeito José Wantuil de Freitas, fundamos o Ginásio Governador Roberto Silveira, tendo como entidade mantenedora a CNEG, Companhia Nacional de Educandários Gratuitos, do qual fui o 1o. tesoureiro, cargo que ocupo até a presente data.




Colégio Cenecista  Governador Roberto Silveira, em Sapucaia, modelo de estabelecimento de ensino, conta com 10 salas de aula (acervo de Dejair Zanon)




ELOS ENTRE SAPUCAIA E BOM JESUS DO ITABAPOANA 

Além de Dejair Zanon,  outros são os elos que unem Sapucaia com Bom Jesus do Itabapoana, como Padre Mello,  Roberto Silveira e Gauthier Figueiredo.

1. PADRE MELLO

Padre Antonio Francisco de Mello, o Padre Mello, foi pároco de Sapucaia antes de vir a Bom Jesus do Itabapoana




Existem algumas coincidências entre a nossa querida Bom Jesus do Itabapoana e Sapucaia. O saudoso Pe. Mello, que foi pároco em Bom Jesus durante quase 50 anos, quando chegou de Portugal, sua pátria, veio para Sapucaia em companhia de sua mãe, também portuguesa. Após algum tempo nesta cidade, a sua digníssima mãe faleceu. Filho único, solicitou ao bispo de Valença (RJ) a sua transferência para outra diocese. Foi transferido para Campos dos Goytacazes (RJ), de onde foi designado para Bom Jesus, onde permaneceu até sua morte.



Jazigo perpétuo da família Ramos. Restos mortais de Roza Maria de Pimentel, mãe de Padre Mello, foram sepultados no antigo cemitério de Sapucaia

 A capela onde consta o túmulo perpétuo da família Ramos, tradicional grupo familiar de Sapucaia, é o que resta do antigo cemitério municipal onde foi sepultada a genitora do saudoso Padre Mello.

Na área, ao redor do referido túmulo, está sendo construída a "cidade saúde de Sapucaia", onde passarão a funcionar a Secretaria Municipal de Saúde, diversos setores da saúde de Sapucaia, como a "Casa da Mulher", "PSF", "Farmácia Municipal" e vários outros. Antes da deliberação sobre a construção da "cidade saúde de Sapucaia", houve comunicado ao público para que os familiares que tivessem seus entes queridos sepultados no antigo cemitério se manifestassem sobre o destino dos restos mortais.  



2. ROBERTO SILVEIRA 


Roberto Silveira em Sapucaia. Ao seu lado, Sábado Bronzo, que conheceu Padre Mello



Outra coincidência: o nosso saudoso e grande governador Roberto Silveira estudou advocacia no Plínio Leite em Niterói com o jovem de Sapucaia Álvaro Fernandes. Trabalhavam na cantina, porque não tinham condições de pagar as mensalidades. Se tornaram grandes amigos e resolveram se tornar políticos. O Roberto Silveira ficava na saída das barcas Rio-Niterói e o seu palanque era um caixote no qual subia e, como grande orador que era, pedia votos para deputado estadual. Foi eleito e na eleição seguinte, foi candidato a vice-governador de Miguel Couto. Como, pela lei eleitoral da época, se poderia votar num candidato a governador e num vice que não fazia parte da mesma chapa, conclusão é que obteve mais votos para vice do que o governador.


Na eleição seguinte, saiu para governador e foi eleito. O dr. Álvaro Fernandes se candidatou a deputado estadual e também se elegeu, devido à amizade com o Roberto. Foi eleito presidente da Assembleia. Devido à morte do governador Roberto Silveira, não voltou a ser candidato. Eu sempre afirmo que se o Roberto Silveira não tivesse morrido naquele desastre trágico, para dar assistência pessoal ao povo de Santo Antônio de Pádua, vítima de fortes chuvas, ele teria sido  Presidente do Brasil. 


Tive fortes emoções ao ler o no. 2278 desse jornal, dentre as quais destaco: "Roberto Silveira foi vítima de atentado". Este Colégio recebeu a denominação de "Colégio Cenecista Governador Roberto Silveira", porque o nosso amigo, ex-prefeito José Wantuil de Freitas, era do PTB e por unanimidade, a assembleia de fundação do mesmo, em 9/6/1963, aceitou referida indicação. Completamos 50 anos em 9/6/2013 e comemoramos com as participações do atual prefeito e seu vice, ambos nossos ex-alunos, da direção, funcionários e professores, além de muitos ex-alunos, ex-professores, atuais alunos e familiares. A Banda de Música Santa Cecília, desta cidade, esteve presente, apresentando números musicais de seu repertório, que a todos encantou. 




Em nossa aula inaugural, em 16 de março de 1964, também a nossa banda esteve presente. 

3. GAUTHIER FIGUEIREDO


Outra coincidência envolvendo os dois municípios:as professoras Maria Neuza Maria Campanário de Almeida e a sua saudosa irmã, já falecida, foram trabalhar no magistério em Bom Jesus do Itabapoana. Alugaram uma casa ao lado da residência do sr. Gauthier Figueiredo, candidato a prefeito (1o. mandato). Assim que chegaram, Gauthier procurou-as pedindo votos. Ambas votaram em Gauthier, que venceu as eleições, salvo lapso de memória, por 2 votos de diferença. Se houvesse empate, o nosso saudoso e um dos melhores prefeitos de Bom Jesus de todos os tempos, teria perdido, pois era mais novo e essa era a previsão da lei eleitoral da época,

Gauthier Figueiredo  (acervo de Adilson Figueiredo)
 
A professora Dona Neuza, hoje com quase 90 anos, continua viva, saudável e com memória ótima. Há muitos anos paga para 5 alunos carentes estudarem no Colégio Roberto Silveira e está sempre presente em nossos eventos. Fizemos uma homenagem a ela, colocando seu nome em nossa sala de informática.


Voltando à minha biografia, gostaria de assinalar, com muita saudade, os seguintes registros de aniversários no aludido número desse jornal: "7/6 - Dr. Célio Junger Vidaurre, Dia 11/6- Profa. Judith Bastos Arantes Nascimento; 24/6 - João Batista Assad Tavares". Além desses aniversariantes me emocionei ao encontrar à página 10 o retrato e dados biográficos de uma das moças mais bonitas e simpáticas que conheci em nossa Bom Jesus: Gilda Alt Figueiredo Salim, que se casou com o meu amigo Pedro Salim, o turco Nacib, pessoa da melhor qualidade. É filha do dr. Salim Elias.

Acervo Dejair Zanon



Voltando a descrever sobre minha vida neste município. Tenho o prazer e a honra de declarar que este conceituado jornal publicou em 31 de julho de 1955 a minha foto: "Dejair Zanoni vem de ser aprovado em Concurso para Provimento de Cargos de Agentes de Estatísticas. O jovem Dejair Zanon, filho do sr. José Zanon e de sua esposa, da. Maria Moreira Zanon. Residentes em Bom Jesus do Norte, o nosso jovem conterrâneo já foi designado para assumir a chefia da agência de Sapucaia, neste Estado, para onde seguirá dentro em breve".
 
Quem conseguiu essa publicação, um dos maiores orgulhos de minha vida, foi o saudoso sr. Arantes que trabalhava na Estação Ferroviária de Bom Jesus do Norte. Era uma pessoa boníssima, a qual sou eternamente agradecido.

Em 25 de novembro de 1961, recebi uma bênção incomensurável de Deus: casei-me com a jovem Maria Luiza Bárcia Zanon (nome de casada), com quem vivo há 53 anos e devo a ela, por completar 80 anos de idade no dia 31 de agosto passado, com dois filhos maravilhosos, Anderson e Marluce, um genro, Laerte, uma nora, Magda, simplesmente espetaculares e 4 netos: Davi, 18 anos, Isadora, 17 anos, Álvaro, 14 anos e Sara, 10 anos. O meu neto Davi está cursando Direito em Juiz de Fora. A minha neta Isadora está no 3o. ano do 2o. grau e Álvaro e Sara estudam no Colégio Cenecista Governador Roberto Silveira, no ensino fundamental. 


Dejair Zanon e a esposa Maria Luiza Bárcia Zanon

Estudei na Universidade Severino Sombra, de Vassouras, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, licenciado em Matemática, primeira turma. Lecionei Matemática e Estatística nos Colégios Sapucaiense, Estadual de Sapucaia e Cenecista Roberto Silveira, trabalhando neste último até a presente data. 

Alunos do Colégio Cenecista Governador Roberto Silveira


Fui chefe de Gabinete durante 10 anos consecutivos, nos governos dos ex-prefeitos Moysés Coutinho, de 1963 a 1989 e Osmar Vieira de 1990 a 1993.


Prefeitura de Sapucaia (internet)


 Em julho passado, diversas pessoas de minha família aniversariaram: Magda Welida da Loz Zanon (5/7), minha nora a 1a. Dama de Sapucaia, Davi da Loz Zanon, meu neto, que completou 18 anos (8/7) e minha esposa Maria Luiza Bárcia Zanon, que completou 76 anos (9/7). 

Acervo Dejair Zanon



Em relação a esta, gostaria de enfatizar sua dedicação e muito amor a mim e a todos os parentes e amigos. Com a graça de Deus e saúde, muito ajudou na criação de nossos filhos e continua trabalhando como excelente dona de casa, esposa, mãe e avó. Declaro, com total convicção que graças a ela cheguei onde estou e vivemos super bem. 

Outras informações sobre a minha vida: em Sapucaia fui o criador da bandeira do município.

Bandeira de Sapucaia foi criada por Dejair Zanon e escolhida através de concurso público



 Eu, com minha esposa, recebi, em 31 de março de 1969, o título de cidadão honorário Sapucaiense. Em 7 de outubro de 1989, recebi da CNEC/RJ a Comenda da Ordem do Mérito Cenecista. Em 20 de novembro de 1998, recebi da Câmara Municipal a Medalha Barão de Aparecida. No último ano em que lecionei, em 1993, recebi muitas homenagens por parte dos alunos da 6a. série e uma de 26 de junho de 2013 com agradecimentos. Tais manifestações compensam o salário tão ínfimo do professor neste país".

Um dos orgulhos de Dejair Zanon: "Carta de ex-aluna, casada com ex-aluno. Os dois filhos do casal estudam no CNEC Governador Roberto Silveira"


Dejair Zanon foi o primeiro professor do Curso Normal de Sapucaia, em 1963. Um dos seus orgulhos é observar que vários de seus alunos passaram a ter destaque na sociedade, inclusive a nível nacional. Ele olha para o passado e tem o sentimento do dever cumprido. 

No próximo dia 25 de novembro, Dejair Zanon e Maria Luiza Bárcia Zanon completarão 53 anos de casamento. Um encontro que selou definitivamente a união feliz de Sapucaia com Bom Jesus do Itabapoana.



Acervo Dejair Zanon e Maria Luiza Bárcia Zanon: amor para sempre




 



































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