O que une dois açorianos, separados pelo tempo, mas ligados pela alma?
Um nasceu em 1863, na ilha de São Miguel. O outro, em 1954, na ilha Terceira. Entre eles, o Atlântico inteiro. E, ainda assim, o mesmo destino: Bom Jesus do Itabapoana.
O Padre Antônio Francisco de Mello chegou primeiro, trazendo no coração a fé, a poesia e a claridade da terra natal. Aqui, ergueu paredes de pedra e de palavra: construiu igreja, fundou jornais, deixou versos. Fez-se engenheiro, músico, agricultor, político, mas, sobretudo, fez-se bonjesuense. Seu campinho açoriano floresceu no meio do Noroeste Fluminense, e até hoje sua memória é pão repartido.
Quase um século depois, Francisco Amaro Borba Gonçalves repetiu o gesto. Também deixou os Açores e atravessou o mar, trazendo consigo a música, o sotaque e o afeto. Fez-se comerciante, poeta, cantor. Ingressou na Academia Bonjesuense de Letras, compôs canções para a cidade, ofereceu ao povo o mesmo dom da partilha.
Dois homens. Dois Franciscos. Dois açorianos que aprenderam a chamar Bom Jesus de casa. O padre, com sua batina gasta e voto de pobreza. O outro, com seu violão e sua alegria sem idade. Ambos, na verdade, missionários do mesmo ofício: semear cultura, fé e amor por uma terra que os acolheu como filhos.
No calendário da cidade, há duas datas que se tocam como prece: 29 de janeiro, aniversário do amigo Francisco Amaro; 13 de agosto, a memória do Padre Mello. E entre uma e outra, o que se celebra é o mesmo: o encontro das ilhas de bruma com a planície de café, da pedra vulcânica com o barro fluminense, da tradição com o futuro.
Bom Jesus do Itabapoana não os esquece, porque os dois, cada um a seu tempo, souberam esquecer-se de si mesmos para viver por ela.
E assim, no coração bonjesuense, Padre Mello e Francisco Borba permanecem como irmãos. Um no silêncio da história, outro no canto que ecoa. Dois açorianos, um só amor: Bom Jesus.
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