terça-feira, 6 de outubro de 2015

JOÃO AVELINO DOS SANTOS, UM DOS 19 HERÓIS DA 2ª GUERRA MUNDIAL (parte final)

Da Série Entrevistas de O Norte Fluminense






 Dias depois da entrevista com Áurea Poeys, cunhada de João Avelino, ela faleceu, aos 96 anos de idade.


Ela, que possuía  38 netos, 35 bisnetos e 10 tetranetos, tinha declarado ao O Norte Fluminense:
 "minha mãe faleceu num dia 3 de março, quando eu tinha 14 anos de idade. Ela foi sepultada no dia 4 de março. No dia 5 de março, meu pai me chamou e disse para mim: -Você ajuda a tomar conta de seus irmãos? Eu respondi: - Sim, meu pai, vou tomar conta deles. Desde então, assumi esta tarefa como uma missão. Após meu casamento, continuei a cuidar de meus irmãos junto com meus filhos.

Meu pai era homem da roça, severo e tinha muito cuidado com os filhos. Ele colocou todos para trabalharem na roça. 

Casei-me com Felismino Jovêncio da Silva em 1939, da Sesmaria. Tivemos 11 filhos. Felismino ficou 9 meses aguardando no Rio de Janeiro para ser enviado para a Guerra, mas esta acabou, e não foi necessária sua viagem".


JOÃO FURTADO FOI OUTRO BONJESUENSE QUE  LUTOU NA 2a. GUERRA MUNDIAL
   
Segundo Áurea, outros bonjesuenseses lutaram na 2ª Guerra Mundial e não tiveram seus nomes inscritos  na placa fixada na área localizada à frente da Prefeitura: "João Furtado era  um colega de João Avelino que foi convocado para lutar na 2ª Guerra especialmente pelo fato de ter conhecimento na ciência da construção de pontes. Na Itália, havia muitos riachos que necessitavam de pontes para que os veículos do Exército pudessem passar".


Áurea e Guto



Sobre  o falecimento de Áurea, Carlos Augusto, o Guto, diz: " fiquei muito sentido com esta perda irreparável. Ela era muito amorosa comigo e fazia questão de cuidar da aparência, sempre usando batom. Ela se divertia com minhas brincadeiras e sempre me recebia com beijos e abraços. Ela dizia: '- Você se parece com seu finado pai. Apareça mais vezes, pois sinto sua falta". Mesmo no hospital, ela se preocupava com as pessoas que ela sabia que estavam em sua casa. '- Fala com o Sebastião para fazer compras por que tem muita gente lá em casa', disse ela. Aproveito a oportunidade para agradecer o ótimo atendimento que ela teve no Hospital de São José do Calçado (ES), e gostaria de assinalar a presença dos irmãos Maria Poeys, Diógenes Poeys, Ivan Poeys, Carmem Poeys e Salvador. Gostaria de corrigir, ainda, a informação publicada na edição passada, pois foram Áurea e Felismino que tiveram 11 filhos: Jurandir, Jurani, Jorge, Sebastião, Luordes, Luci, Isabel, Neuza, Brás, Augusto e Paula."



PESADELOS 

João Avelino residiu, por um período, em Valão Dantas, zona rural de Itaperuna (RJ), tendo ali estabelecido uma mercearia. A sobrinha do herói bonjesuense, Jurani Silva Poeys, residente em Duque de Caxias (RJ), testemunha: " meu tio João Avelino foi meu professor. Eu estudava em escola municipal, mas estava com dificuldade de aprendizagem. Meu pai tirou-me da escola para que eu estudasse com meu tio. Aí, passei a aprender. Tio João tinha uma grande vontade que nós aprendêssemos e passava para mim e outros colegas muita disposição para o estudo.

Ele se tornou paralítico em decorrência da guerra e andava se escorando na mesa e nas cadeiras para nos ensinar. Tio João contava que havia noites em que tinha dificuldade para dormir, pois costumava ter pesadelos. Ele acordava assustado pensando que estava sendo bombardeado pelos inimigos. Havia momentos em que ele parava, passava a lembrar da guerra e começava a chorar.
Ele conta que, ao retornar para o Brasil, mulheres italianas, com seus filhos, diziam: 'não vão embora, porque vamos passar fome' ".   

Ivan Poeys, afilhado de João Avelino, e residente na Fazenda dos Veloso em Nova Venécia (ES), relata sobre o padrinho: " ele foi meu professor. Sou grato a ele pelo carinho com que tinha comigo. Além das matérias de aula, ele nos ensinou a ser educados e honestos. Recordo-me que era um homem que gostava das coisas corretas e o via sempre alegre e brincalhão. Emociono-me quando recordo de João. Sinto muitas saudades dele".


Carmem Guerra Poeys

Carmem Guerra Poeys, cunhada de João Avelino, e residente em Vila Velha (ES), conta: "ele foi meu professor e sou agradecida pelo que aprendi e pelo seu exemplo de vida. Recordo-me que meu pai, Augusto Poeys, convidou João e minha irmã Ângela Poeys para morarem em seu sítio. Eles residiram nesta propriedade por um ano. João Avelino se ofereceu, então, para lecionar para mim e outros colegas, que estávamos na faixa de 10 anos de idade. Todos sentavam-se à mesa. As meninas de um lado e os meninos do outro. Ele possuía uma inteligência e um talento para ensinar os alunos".

Sebastião Poeys da Silva, sobrinho de João Avelino, dá seu testemunho: "Ele tratava todos com muito respeito, inclusive as crianças. Tio João era pessoa fora de série, sempre com palavras boas e agradáveis."



 Izabel Poeys, sobrinha de João Avelino, por sua vez, assinala: "A paralisia de suas pernas jamais foi obstáculo para ele ajudar as pessoas. Meu tio possuía letra bonita e era bom em Matemática. Por este motivo, passou a dar aulas para vários alunos em sua residência. Até hoje, alunos como Carmem Poeys e Ivan Poeys são agradecidos a João Avelino por tê-los ensinado a ler, escrever e fazer conta".

Izabel, Áurea, Sebastião, Maria das Graças, Altiva, Guto e Henrique


ALGUNS EX-ALUNOS DE JOÃO AVELINO


O filho Carlos Augusto, o Guto, lista alguns nomes de pessoas que estudaram com seu pai: "Carmem Guerra Poeys, Jurani Silva Poeys, Jurandi Silva Poeys, Ivan Poeys, Penha Poeys, Walter Poeys, Irani Poeys, Conceição Menezes, Zizinho Carneiro, Silvinho Crisóstomo, Augostinho Veloso, Gabriel Veloso, Lourenço Veloso, Rafael Veloso, Adelaide Beiral e Braz Veloso.


Eu tenho orgulho e muita satisfação de encontrar esses ex-alunos e contar que, o que eu aprendi a ler, a fazer conta e estudar, devo a meu pai. Recordo-me que quando o papai escutava o hino nacional, ele se emocionava, abaixava a cabeça e seus olhos verdes se enchiam de lágrimas. Nós, então, o consolávamos, o abraçávamos e lhe dávamos beijos. Ele se preocupava com todos nós, para que tivéssemos saúde e educação. Emociono-me muito quando me recordo das dificuldades financeiras pelas quais passamos, pois demorou bastante tempo para que meu pai conseguisse a reforma (aposentadoria), já que o ex-combatente ganhava pouco. Havia vez que eu pedia ao papai um dinheirinho para ir à rua, ele abria a carteira, onde havia moedas que mal davam para comprar o pão do dia seguinte, e me dava, dizendo: ' -Toma, filho, vai comprar balas. Havia época que o papai recebia várias pessoas em nossa casa, parentes e amigas de nossa irmã. Certa vez, foram 19 pessoas. Papai sempre sorria e brincava com todos. Tenho muita saudade dele, porque ele foi meu grande amigo.















Izabel Poeys                                  Sebastião Poeys                                                     





 Se, por ocasião da 2ª Guerra Mundial, João Avelino dos Santos empunhou arma para lutar contra a opressão, doando parte de sua vida pela liberdade do mundo, após o fim da mesma, embora paralítico das duas pernas em consequência das baixas temperaturas na Itália, passou a empunhar lápis e caneta, lutando contra a opressão da ignorância, doando sua vida por outra espécie de liberdade, afirmando a dignidade do ser humano.

Por tudo isso, o bonjesuense João Avelino dos Santos é um herói não só da 2ª Guerra Mundial, mas da humanidade! 



Avião utilizado na 2ª Guerra Mundial, em Museu do Rio de Janeiro



(Na próxima edição, ISAAC SOUZA, outro herói bonjesuense da 2ª Guerra Mundial)




























































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