sábado, 17 de outubro de 2015

Um "Halloween" Rosalense


Ana Maria Silveira

 Tio João Brasil contava que quando muito jovens, em Rosal, hoje 3º distrito de Bom Jesus do Itabapoana, primos e amigos se reuniam no final do dia em volta do lampião de querosene. Ali surgiam todos os tipos de assunto. Por aquela ocasião, alguns moradores narravam ter visto uma assombração vagando pelo povoado. Era o assunto do dia.
-Eu que não acredito nisso, diziam uns.
-Sei lá! Tenho muito respeito por essas coisas...dizia outro.
-Se eu soubesse onde tem uma eu iria lá para ver...
 De repente, esbaforido, chega outro amigo com o rosto pálido, assustado, dizendo que acabara de ver a assombração fazendo um barulho danado na porta do cemitério.
A mulherada se arrepiou de medo.
Os mais afoitos já foram logo dizendo: vamos para lá!
Um dos primos estava com um talo enrolado em uma perna quebrada, impossibilitado de caminhar.
-Pudesse eu andar iria com vocês...
-Por isso, não. Sobe aqui na minha carcunda que eu te levo.
E assim, lá se foram eles, para conferir se era mesmo verdadeira a história da assombração.
O amigo que disse “se eu soubesse onde tem uma iria lá para ver“, foi o único que ficou. Morrendo de medo.
Os outros foram. Tio João com o primo nas costas.
Mesmo a lua nova ajudando estava tudo muito escuro.
Um pouco longe do cemitério já começaram a ouvir um crooc-croc-croooc-croc assustador. Diminuíram a velocidade dos passos e caminharam cada vez mais devagar...
Quando se aproximaram viram que, sentada nos degraus do portão havia uma figura larga de mulher, com uma cabeleira branca enorme, desgrenhada, fazendo movimentos para cima e para baixo e emitindo o já ouvido crooc-croc.
Percebendo as presenças, olhar meio vago, perguntou, numa voz rouca e horripilante:
-Está gordo esse?
 Assustado, tio João jogou o primo com a perna avariada no chão e acompanhou os demais na debandada. Por incrível que pareça, este primo, capengando, foi o primeiro que chegou em casa.
E a assombração?
Descobriram que era um casal de velhos que habitualmente ia caçar cabritos soltos pela redondeza.
A velha comia amendoim torrado, que pegava de uma vasilha no chão. No escuro e sem enxergar bem confundiu o vulto dos curiosos com o do marido carregando uma bela presa.

30/09/2015




Ana Maria Silveira é filha do ex-governador Badger Silveira                                    


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