domingo, 6 de junho de 2021

14 de junho: data do falecimento de Otacílio de Aquino, um dos gênios de nossa literatura!

 

               Octacílio de Aquino


Octacilio de Aquino, um dos gênios da literatura bonjesuense, faleceu no dia 14 de junho de 1959.




Octacilio de Aquino era pupilo de Padre Mello e integrou uma equipe de grandes escritores do jornal A Voz do Povo, nas décadas de 1930, 1940 e 1950.


Equipe de "A Voz do Povo", agosto de 1939
Em primeiro plano, da dir. para a esq., José Maria Garcia, José Tarouquella, Renato Wanderley, Osório Carneiro, Padre Mello, Octacílio de Aquino e Romeu Couto. Em segundo plano, Dalton Tarouquella, "Dico", Neiva, Ernani Tarouquella, Onofre, "Totinho", Helio Garcio e Elvio Tarouquella



O Norte Fluminense publica, a seguir, texto histórico sobre Octacilio de Aquino, do Dr. Luiz Alberto Nunes da Silva, magistrado de nossa comarca, por ocasião do lançamento de 4 livros editados por Delton de Mattos, com o apoio do Dr. Sebastião Freire Rodrigues, no dia 3 de outubro de 2015, na Câmara Municipal. Entre as obras, está "Antologia", de Octacilio de Aquino, fruto de esmerado trabalho de pesquisa de Delton de Mattos.

Amigo Chefe

 Dr. Luiz Alberto Nunes da Silva



Tive a honra de conhecer e partilhar um pouco da vida de Athos Fernandes e de meu primo Delton de Matttos. Mas, de outro lado, não conheci Padre Mello, Romeu Couto, tampouco Octacílio de Aquino.

Sobre Octacílio de Aquino, recebi a importante missão de, nessa memorável noite de evento cultural, falar-vos sobre a vida deste ilustre bonjesusense, Advogado, Promotor de Justiça em São José do Calçado, no Estado do Espírito Santo.

Nasceu em 07 de dezembro de 1900, e faleceu em 14 de junho de 1959, em Niterói.

Em 1939, quando Bom Jesus era ainda termo judiciário, foi nomeado pretor substituto. Foi, ainda, Juiz de Direito Substituto nesta Comarca (uma vez nomeado em 27 de março de 1948). Brilhante escritor e poeta bissexto.

A função de Juiz de Direito foi exercida, com pequenas interrupções, até o seu falecimento.

Permitam-me, por favor, de dirigir a todos que aqui estão – chamando-os simplesmente de: “amigo chefe”. Inclusive não usando o plural. Isso tem um significado profundo, porque era assim, simplesmente, como Octacílio de Aquino, de forma muito carinhosa e leve, se dirigia às pessoas. E, dessa maneira, me foi passado pelas pessoas que o conheceu. Foi como também ouvi várias vezes pelos corredores do fórum desta Comarca, aliás, local, onde frequento e visito há décadas, ora como Serventuário, ora com Advogado, ora como Magistrado.

Amigo Chefe”: Romeu Couto, hoje também aqui homenageado, a seu respeito dizia: “Poeta bissexto, rigorosamente bissexto, é o meu amigo Octacílio de Aquino, o qual filha mais amoroso que nós outros, continuou em Bom Jesus, sem ter tido a necessária capacidade de – abro aspas – “ingratidão” – fecho aspas – para abandonar a comum terra”. 

Homem solteiro dedicava-se profundamente aos estudos e às atividades literárias. Escreveu e publicou um livro intitulado “Antes da Revolução” e, segundo sabemos, estava empenhada na confecção de um Dicionário Analógico, obra essa que, lamentavelmente, não concluiu.

Além dessas preciosas informações, poderíamos acrescentar que Octacílio de Aquino foi orador brilhante, pertenceu durante vários anos à Loja Maçônica Moreira Guimarães Terceira de Bom Jesus, tendo participado dos embates políticos mais importantes da nossa região e também de inúmeras apresentações culturais em Bom Jesus e Municípios vizinhos. Devendo-se, ainda, ressaltar o seu grande interesse pela literatura, especialmente pelas obras dos grandes autores brasileiros.

Octacílio de Aquino entrou para o mundo das letras muito cedo, por volta de 1914, quando esboçou seus primeiros sonetos para o primeiro jornal desta cidade de nome Itabapoana. Escreveu, ainda, para os jornais: A Paroquia (Parochia), A Cidade, Bom Jesus Jornal, O Momento, O Norte Fluminense e depois, A Voz do Povo.

Embora não tenha casado, teve lá seus amores, notadamente um linda jovem, irmã de um antigo e conhecido farmacêutico de Bom Jesus do Norte.

Em homenagem às suas musas, certa vez, escreveu:


Começou por querer matá-la”. A mão.

Preme, brandindo o gládio protetor.

Mas, de subido, hesita e, num torpor,

“Deixar rolar o gládio pelo chão”.


E finalizou:


“Tenho direito de chorar por ele”!

Exclama. E aproximando-se, divina,

Beijando os lábios de Tristão, morreu...

(conforme consta de seu primoroso poema ISOLDA, procurando descrever o amor fenecido com a morte de Tristão).


Amigo Chefe,


Nesse momento de reflexão sobre um pouco da vida de Octacílio de Aquino, devo-vos confessar que após a “intimação” do Doutor Sebastião Rodrigues para essa importante missão – fiquei apreensivo. O que vou fazer, amigo chefe?

LEMBREI-ME do Desembargador Antonio Izaías da Costa Abreu, também notável homem de letras, bonjesuense como Octacílio.

Izaías é o Titular da Cadeira número 07, da Academia Bonjesuense de Letra, da qual o patrono é o próprio Amigo Chefe, valer dizer, o poeta Octacílio de Aquino. E dele me vali. Aliás, um socorro de imediato, sem empecilho. Isto é, fui prontamente atendido.

Ainda com o beneplácito da Doutora Nísia Campos, mestre e poetisa de renome, ilustre Presidente do ILA desta cidade, franqueou-me a famosa pasta ‘verde’, dita por Antônio Izaías, mas que na verdade é grande cor ‘azul’, aliás, como o céu, o céu de esplendor, pelo seu magnífico conteúdo. Ali se encontra, verdadeiramente, a biografia cuidadosa, lapidada, de Octacílio de Aquino, na qual pude pincelar os trechos acima.

 À Doutora Nísia, meus agradecimentos pela gentileza. Ao Desembargador  Izaías, minha enorme gratidão, porque valeu apena.

Senhores,

Antes de encerrar, desejo, por justiça, fazer um pequeno relato. Octacílio de Aquino morreu pobre. Ficou doente. Era muito amigo de Roberto Silveira, então governador deste Estado.Roberto, sabedor da doença do amigo e de suas condições não só financeira, mas também de saúde, levou-o para se tratar em Niterói, então capital do nosso Estado, onde, diante da gravidade de sua enfermidade, veio a falecer. Mas cercado de todo carinho, aparato médico e hospitalar, aliás, como me foi passado. Graças a intervenção direta do Governador Roberto Silveira.

Prossigo.

Doutor Luciano Bastos, ainda era vivo. Fui procurado por ele e pelo doutor Sebastião Rodrigues. Iniciamos um movimento que, aliás, logo de pronto, a ele aderiam:  Antonio Izaias, o doutor Michel Saad, de Niterói,  a senhora Prefeita de Bom Jesus e o Presidente do Rotary local. Era nossa intenção trazer os restos mortais de Octacílio de Aquino para Bom Jesus.

De início, houve um degrau a ser ultrapassado: por exigência, aliás,  legal, da Prefeitura de Niterói: um parente de Otacílio tinha que autorizar o translado. O que é mais do que compreensível. Os integrantes desse projeto, então, começaram a se mover nesse sentido.

Porém, o movimento sofreu um profundo abalo. Perdemos o Historiador e Doutor Luciano Augusto Bastos. Com isso, o grupo passou a  vivenciar o impacto da morte de Luciano. E de minha parte, mais uma vez, confesso e registro: houve, por isso, um sentimento semelhante a uma nau que, ainda, não achou seu rumo certo...

Mas vamos, se DEUS quiser, concluir esse projeto, isto é, de ter de novo o Amigo Chefe, o Otacílio de Aquino, entre nós.

Muito Obrigado!   


Dr. Luiz Alberto Nunes da Silva é magistrado da Comarca de Bom Jesus do Itabapoana


Octacílio de Aquino, que assinava Octa-Quino, brilhou nas letras nas primeiras décadas do século XX, como nenhum outro.

Em 1930, lançou o livro "ANTES DA REVOLUÇÃO", impresso na Tipografia Helena, de propriedade dos Irmãos Vasconcelos, de nossa cidade.

O primeiro texto desta obra, que reproduzimos abaixo, para conhecimento do público, além de ter incrível atualidade, dá a dimensão exata de sua cultura, e constitui orgulho para nossa terra.



O RASGA-MORTALHAS DA RUA DO CARMO


Os processos jornalísticos de certa classe no Brasil andam a rastos de barata. Dia a dia resvalam para o campo das retaliações pessoais; e é espetáculo comum a magnitude das teses substituída pelo desconchavo dos ataques soezes. Exemplos, tê-mo-los sem conta, nessa linguagem de porneia onde se recruta a flor das obscenidades no vocábulo, e onde o menos que se perde é o hábito de lhaneza no convívio social. Nesta ordem de ideias baixaríamos a examinar, sem prevenções mas, também, sem misericórdia, o repugnante jornal de Mario Rodrigues, se algum vestígio de fé ressumbrasse ainda dessa Crítica descontrolada, por onde esguicha, diariamente, o vitríolo do ódio contra os vultos eminentes da história em nossos dias. Acontece, porém, que ali se publica, num dos últimos números, em versalete berrante e guarnição de luto, que o sr. Antonio Carlos, ídolo da população mineira e firme condutor da vitória aliancista, estava em transe de morte.
Nenhuma outra voz achou de trazer ao conhecimento público a mentira infame. Foi preciso que essa, já agora a mais aziaga do Brasil, guizalhasse o rebate odiento, opondo a perspectiva de um túmulo ao entusiasmo que vibra, nesta hora de graves conjunturas, n'alma impoluta do preclaro Andrada. Desmesurou-se a protérvia. Excedeu a craveira das abjeções. O libelista inglório, empenhado em votos sinistros de cruzes e sepulcrários, culminou, num desrespeito de raros iguais. Até então gargalaçava, impune, as bicas do vezo difamatório, e era, a tal ponto exceptuado. Mas o respeito à vida humana poupara-lhe, ainda, o lúgubre ofício das hienas. Agora desvenda-nos o articulista do escândalo uma dobra sombria do seu íntimo. E é interessante que no mesmo exemplar, onde o prenúncio grimpa a importância da caixa alta, a continuação fantasiosa do caso da bruxa de Itinga ocupe ainda quase toda a última página. Espírito de bruxedos, Mario Rodrigues reedita, à luz do sol, o macabro mister da megera da meia-noite. Essa a pureza da ética jornalística. Antonio Carlos haure a vida e a saúde nas montanhas de Minas liberal. Pois o profeta da Gávea lhe agoira os estos do coração incorrompido, ao rusgar de mortalhas. Mergulhado, ele sim, no claro-escuro de um ocaso que tomba para os seus triunfos pretéritos, conta arrancar - entre os protestos de um deus que ainda lhe há de bater às portas cerradas do coração - conta arrancar à credulidade comum das massas populares um delíquio de confiança na sorte do regime. Mario Rodrigues, o panfletário imenso da campanha civilista e da Reação Republicana, o dono egrégio das "mãos de artista", na referência de Ruy, sucumbe aos golpes que vibrou contra os píncaros da própria fama. Repudia-o a opinião pública. E ele, encarvoando um passado de raptos fulgurantes, atasca-se na violência, chegando a isto, que nem a mão de Fausto assinaria entre as cláusulas de Mefistófeles. Não há salvação para tamanho opróbrio.

Novembro - 1929.


Delton de Mattos, outro gênio de nossa literatura, lançou "Antologia", com textos de Octacílio de Aquino





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