sábado, 19 de junho de 2021

Lino Nunes Xavier, o fiel que desafiou Padre Mello

 

Lino Nunes Xavier desafiou Padre Mello, atuando como se fosse padre

A memorialista Maria Cristina Borges encontrou na secretaria da Igreja Matriz, foto e texto sobre a Capela Nossa Senhora Aparecida, que relata sobre a pessoa de Lino Nunes Xavier.

Segundo o documento, a primeira capela de Nossa Senhora Aparecida, localizada na parte alta de Calheiros, foi construída nas terras de José Carlos Tinoco. 

Devido, contudo, à dificuldade na transferência da propriedade e da realização dos ofícios religiosos, decidiu-se pela construção de uma outra capela. Foi assim que reuniram-se construtores, tendo à frente Lino Nunes Xavier, e, após a demolição da capela, com o material oriundo da demolição, construiu-se a nova Capela de Nossa Senhora Aparecida em terras do próprio Lino, no ano de 1916.

Lino Nunes Xavier era prático em farmácia. Solteiro, apreciava a leitura e a poesia. No dia 1o. de julho de 1921, compôs versos para sua irmã Corina Alves Xavier, em decorrência de seu falecimento:

 "Só no túmulo,                             

debaixo do chão                                  

 é que deixou de ser devota             

da Virgem da Conceição"

Ele dedicou, ainda, outros versos para Corina:

"Neste mundo injusto e traidor   

 todos nós somos pobres          

  porém, só no reino da Glória,   

 todos nós seremos nobres".

Dedicou a ela, ainda, a seguinte prosa:

"Em meu peito, guardarei constantemente o teu nome saudoso, escrito com a pena da dor e com a tinta da saudade, depositando no teu gélido túmulo uma coroa de violetas, banhadas em copioso pranto com tributo de recordação imorredoura".

Para Antônio Alves Xavier, que faleceu a 15 de julho de 1930, e era o fogueteiro da Virgem Aparecida, ele escreveu:

"Sobre seu túmulo, 

expargirei constantemente,                                

 As flores violáceas da saudade         

E as lágrimas sentidas da recordação".

No início, Padre Mello realizou celebrações, por diversas vezes, na capela. Ocorre que, com o passar do tempo, Lino passou a não seguir as orientações do vigário, atuando como se fosse o dono da capela. Padre Mello resolveu, então, se afastar,  deixando de realizar ali os ofícios religiosos.

Lino passou, então, a se vestir como padre, usando uma capa preta, rezando terços, novenas e ladainhas, sem submeter-se à autoridade eclesiástica.

Atrás de uma foto em que aparece Lino, consta o seguinte escrito:         

" 23/08/36. Lino N. Xavier. Padre da Capela N. S. C. Aparecida". 

Após sua morte, a família resolveu doar o terreno para a Mitra Diocesana, o que ocorreu no dia 12 de janeiro de 1959. O Padre Francisco Apoliano, que assumiu a capela,  seguindo ordens do bispo diocesano, determinou a retirada de duas enormes imagens do Coração de Jesus e do Coração de Maria, que Lino mandara fazer em cimento armado, em tamanho natural, e "com feições horrorosas", que "causavam medo e pavor". Ambas as imagens foram "enterradas". A primeira missa realizada, posteriormente, ocorreu no dia 11 de maio de 1959, pelo próprio padre Francisco Apoliano.









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