Por Gino Martins Borges Bastos
Em março de 1939, Porphirio Henriques Filho presenteou Bom Jesus do Itabapoana com uma publicação histórica sobre sua segunda emancipação. Páginas e mais páginas, salpicadas de fotos, capturaram a alma de uma época: o paço municipal sendo instalado, no dia 1º de janeiro daquele ano, no prédio onde hoje repousa o Big Hotel; ruas e rostos que já não existem, mas que ainda habitam a memória da cidade.
Era o retrato vivo de um distrito que, depois da primeira emancipação, entre dezembro de 1890 e maio de 1892, voltava a respirar liberdade política e esperança.
Na última página, porém, Porphirio deixou algo mais que história. Em sua nota “Aos leitores”, escreveu com clareza de cronista e contundência de homem que não teme ferir suscetibilidades:
“Era o que eu tinha a dizer aos dignos e canalhas. Aos primeiros hipoteco minha gratidão, para os últimos dou o meu desprezo.”
Antes dessa sentença, narrou a batalha pessoal que enfrentou para publicar a obra: as dificuldades materiais, o pessimismo de muitos e a perfídia de alguns que torciam pelo fracasso, tentando arrastá-lo para o “baixo plano moral em que vivem”.
Mas ele venceu. Publicou. E, junto à história, deixou uma lição que atravessa décadas: há que se agradecer aos que caminham ao nosso lado, e ignorar, com altivez, os que vivem para sabotar o trabalho alheio.
Assim, Porphirio não apenas iluminou a memória de Bom Jesus do Itabapoana, mas fincou no papel uma bússola ética que o tempo não apaga.
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