sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Gratidão aos dignos, desprezo aos canalhas

                                      Por Gino Martins Borges Bastos 


Em março de 1939, Porphirio Henriques Filho presenteou Bom Jesus do Itabapoana com uma publicação histórica sobre sua segunda emancipação. Páginas e mais páginas, salpicadas de fotos, capturaram a alma de uma época: o paço municipal sendo instalado, no dia 1º de janeiro daquele ano, no prédio onde hoje repousa o Big Hotel; ruas e rostos que já não existem, mas que ainda habitam a memória da cidade.

Era o retrato vivo de um distrito que, depois da primeira emancipação, entre dezembro de 1890 e maio de 1892, voltava a respirar liberdade política e esperança.

Na última página, porém, Porphirio deixou algo mais que história. Em sua nota “Aos leitores”, escreveu com clareza de cronista e contundência de homem que não teme ferir suscetibilidades:

 “Era o que eu tinha a dizer aos dignos e canalhas. Aos primeiros hipoteco minha gratidão, para os últimos dou o meu desprezo.”

Antes dessa sentença, narrou a batalha pessoal que enfrentou para publicar a obra: as dificuldades materiais, o pessimismo de muitos e a perfídia de alguns que torciam pelo fracasso, tentando arrastá-lo para o “baixo plano moral em que vivem”.

Mas ele venceu. Publicou. E, junto à história, deixou uma lição que atravessa décadas: há que se agradecer aos que caminham ao nosso lado, e ignorar, com altivez, os que vivem para sabotar o trabalho alheio.

Assim, Porphirio não apenas iluminou a memória de Bom Jesus do Itabapoana, mas fincou no papel uma bússola ética que o tempo não apaga.


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