sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Azenir Maria de Sousa: memória e herança em Rosal

                                    Por Gino Martins Borges Bastos 

Azenir Maria de Sousa, em 2012 (foto: Gino Martins Borges Bastos)


Em 2012, entrevistei Azenir Maria de Sousa, nascida em Ponte Branca, no dia 1º de julho de 1922. Filha de José Miranda e Agripina Maria Clementina, Azenir guardava na memória a travessia de seus pais, que migraram de Guaratinguetá, SP, logo após a abolição da escravatura.

Nasci na Fazenda do Jasper, de propriedade de Joaquim Pereira de Rezende, mas fui criada em Água Limpa, zona rural de Rosal, para onde meu pai se mudou logo que eu nasci”, relatou.

A chegada a Água Limpa

Segundo Azenir, seus avós foram levados para a região como negros de fazenda, diferentes dos negros da senzala, que permaneceram nas propriedades originais. Quando fazendeiros como Ferreirinha adquiriram terras em Água Limpa, trouxeram consigo essas famílias para trabalhos domésticos e para o cuidado com as sinhás e seus filhos.

"Os fazendeiros de lá venderam suas propriedades e compraram áreas em Água Limpa. Trouxeram, então, meus avós, que eram negros de fazenda, ao contrário dos negros da senzala, que permaneceram por lá. Meu pai tinha cimco anos e minha mãe era recém-nascida, quando vieram para Água Limpa".

Os nomes dos antepassados eram repetidos por Azenir como marcos de identidade:

José, Benedito, Olímpio, Cecília, Jovilina, Candinha, Jóvi, Mariana, Vergília, Andressa, Cirilo e o tio Cadico.

Era uma rede familiar extensa, que se enraizou em Rosal e garantiu a sobrevivência entre morros e rios, em meio às transformações sociais do pós-abolição.

Diferente da maioria de sua geração, José Miranda, pai de Azenir, teve acesso à educação formal. Esse feito raro abriu caminhos para os descendentes, permitindo que a família construísse novas perspectivas na região.

Casamento e descendência

Em 1949, Azenir casou-se em Guaçuí com Gumercindo de Souza. Dessa união nasceram quatro filhos: Ana Maria, João Batista, Maria da Penha e Romildo. Criaram ainda Maria de Fátima, filha de criação.

Com o tempo, vieram os netos e, depois, um bisneto, perpetuando uma linhagem que atravessou séculos.

Aos 90 anos, Azenir ainda demonstrava vitalidade no olhar e firmeza na fala. Suas memórias não se restringiam à experiência pessoal: eram também testemunho da trajetória de famílias negras que reconstruíram a vida em Rosal após a escravidão.

Azenir Maria de Sousa permanece como símbolo de resistência e esperança, guardiã de uma memória coletiva que ajuda a compreender as raízes da comunidade de Rosal.

André Luiz de Oliveira, Maria José, Azenir, Ana Maria, Maria Geralda e José Antonio (2012)











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