sábado, 6 de setembro de 2025

Raul Travassos, o artífice de mundos


Raul se apresentando no Festival Estudantil de 1970, no palco do Cine XV (blog Tadeu Miracema)
 

Em 1970, quando as luzes se apagaram no palco do Cine XV, em Miracema, o jovem Raul Travassos já intuía que o futuro lhe pertencia. A fumaça se tornou tela; nela, imagens dançavam, a Capela Sistina, a Mona Lisa, o Fórum Romano. A música Apostasia soava como um manifesto, rebuscado e ousado, feito de ecos que não cabiam apenas nos limites do festival. Esse é o relato do blog Tadeu Miracema, onde consta a foto histórica que acompanha esta postagem.

Ali, nascia não apenas um vencedor, mas um criador de atmosferas, um inventor de mundos.

Raul viera de Itaperuna, onde nascera em 1949, e trouxera de Bom Jesus do Itabapoana a formação que moldaria seu olhar sensível. Pianista formado, psiquiatra graduado, cenógrafo por destino: nele, as artes se entrelaçaram como se fossem um único idioma.

Na Rede Globo, desde 1973, seu talento se espalhou em novelas, minisséries e musicais. Em cada cenário, não havia apenas decoração, mas respiração: ambientes que narravam junto com os personagens, espaços que tinham alma. Roque Santeiro, O Clone, Terra Nostra, Esperança… por trás das câmeras, Raul desenhava a poesia invisível que sustentava cada história.

Foi também companheiro silencioso de gigantes: Elis Regina, Gonzagão, Rita Lee, Paulinho da Viola. Nomes grandes que encontraram em sua cenografia o pano de fundo ideal para engrandecer ainda mais o palco.

Sete vezes premiado como melhor cenógrafo pela revista Contigo, Raul provou que criar cenários é muito mais que erguer paredes ou iluminar espaços: é construir realidades onde o público possa acreditar, sentir e sonhar.

E tudo começou naquela noite de 1970, quando um jovem ousou projetar imagens na fumaça e transformar um festival estudantil em espetáculo inesquecível. Desde então, Raul Travassos não parou mais de revelar o invisível.

Um artífice de mundos, um poeta das formas, um criador de atmosferas: Raul, afinal, sempre soube que a verdadeira arte é aquela que permanece mesmo quando as luzes se apagam.


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