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Renda de bilro foi confeccionada no dia 25 de abril no Sarau Açoriano, em Bom Jesus do Itabapoana, pelas rendeiras de Meaípe, ES |
Mesmo tendo perdido a mãe aos 10 anos, Machado demonstra em sua obra uma memória afetiva da cultura açoriana, revelada na atenção minuciosa aos detalhes do ofício artesanal e na valorização do labor feminino.
Seguem passagens que extraí do conto:
1. "diante de suas almofadas de renda, todas fizeram parar os bilros e as mãos";
2. "Sinhá Rita vivia principalmente de ensinar a fazer renda, crivo e bordado";
3. "As discípulas, findo o jantar delas, tornaram às almofadas do trabalho. Sinhá Rita presidia a todo esse mulherio, de casa e de fora";
4. "O sussurro dos bilros e o palavrear das moças eram ecos tão mundanos tão alheios à teologia e ao latim, que o rapaz deixou-se ir por eles e esqueceu o resto";
5. "Viu-a com a cabeça metida na almofada para acabar a tarefa";
6. "Só Lucrécia estava ainda à almofada, meneando os bilros, já sem ver".
A referência ao movimento dos bilros, às almofadas, o sussurro das moças, evidenciam um olhar sensível e atento ao cotidiano, à disciplina e à delicadeza do trabalho manual, características que podem estar vinculadas à herança cultural de sua mãe.
Portanto, podemos concluir que a figura materna e a origem açoriana de Maria Leopoldina exerceram uma influência simbólica e estética importante na formação de Machado de Assis, inspirando tanto o tema (vida popular, ofícios tradicionais, cuidado feminino) quanto o detalhismo sensível e observador que marca sua narrativa.
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Rendeiras de Bilro no Sarau Açoriano em Bom Jesus do Itabapoana, RJ, Brasil |
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