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José Camilo: o maior doador de sangue do Hospital São Vicente de Paulo |
Hoje, aos 94 anos, José Camilo mantém sempre abertas as portas de sua casa em Bom Jesus do Itabapoana para receber, com a serenidade de quem muito deu, o carinho de tantos que comparecem para visitá-lo.
Cada visita que recebe é uma homenagem que cada coração bonjesuense lhe presta. Andre Luiz de Oliveira, presidente do Instituto de Menores Roberto Silveira, e representante do jornal O Norte Fluminense, está sempre a visitá-lo. Pequeno gesto diante da grandeza de uma vida inteira.
Nascido em Itaperuna, em 13 de fevereiro de 1931, filho de Camilo da Costa e Josefa da Costa, José cresceu entre sete irmãos, mas guarda viva a memória de apenas dois: Antônio e Djanira. Em 1951, deixou o trabalho no matadouro de sua cidade natal para atender a um chamado. Viera para Bom Jesus a convite de José Abreu, o Zé Bucheiro, e assim iniciou sua trajetória no matadouro municipal, aposentando-se apenas em 1980.
Foi nesse mesmo ano de chegada que começou sua missão maior: doar sangue para o Hospital São Vicente de Paulo. Do gesto simples nasceu um legado. Camilo se tornou o maior doador de sangue da história do hospital, socorrendo cerca de 75 vidas, entre elas a do próprio André Luiz de Oliveira, atropelado por uma bicicleta de carga. “Peguei-o caído na rua, levei ao hospital e doei meu sangue. Hoje ele está aí, vivo, presidente do Instituto de Menores”, relembra.
Mas Camilo deu muito mais do que sangue: deu tempo, deu presença. Ajudava nas campanhas do hospital, arrecadava bezerros para os leilões, apoiava a Festa de Agosto, sempre em silêncio, sempre em entrega.
E a vida também lhe reservou símbolos. Ao doar sangue para a esposa de Noé Borges, presidente do Aero Clube, recebeu de presente um título de sócio. Tornou-se, assim, o primeiro negro a entrar no clube, gesto que transformou não só sua história, mas também a história social da cidade.
Hoje, José Camilo olha para trás e sorri. “Sou reconhecido por tudo o que fiz pelo hospital e por Bom Jesus. Sinto-me realizado”, diz com voz doce, aquela mesma que embalou tantos encontros de gratidão.
José Camilo é mais que um homem. É memória, é eternidade. Escreveu sua biografia não em páginas de papel, mas em veias e corações, com o sangue que salvou vidas e com a bondade que nunca se esgota.
Viva José Camilo! Um homem bom. Uma vida solitária onde cabe o mundo. Nunca sozinho, porque se eternizou em todos aqueles a quem devolveu o direito de viver.
Poesia dedicada a José Camilo
Noventa e quatro anos,
um corpo feito de silêncio,
mas um coração que grita vida.
Deu sangue.
Deu tempo.
Deu esperança.
Setenta e cinco vidas
carregam em suas veias
o sopro generoso de Camilo.
Homem simples,
voz doce,
solidão que nunca foi solidão,
pois sempre coube o mundo em sua existência.
Primeiro negro a entrar no Aero Clube,
abriu portas com o gesto mais humano:
um ato de amor.
Camilo é memória.
Camilo é eternidade.
Ele escreveu sua história não em livros,
mas em corpos salvos,
em corações agradecidos,
em olhos que voltaram a ver o amanhã.
Celebramos a cada dia
não apenas José Camilo,
mas a
vida que pulsa em tantas outras
Graças ao sangue que ofereceu
Viva José Camilo!
Homem bom,
Homem grande,
Homem eterno!
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José Camilo no Aero Clube |
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José Camilo foi o 1º negro a ter acesso ao Aero Clube |
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André Luiz de Oliveira, presidente do Instituto de Menores Roberto Silveira e representando o jornal O Norte Fluminense, em homenagem a José Camilo (foto: arquivo) |
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