terça-feira, 2 de setembro de 2025

Viva José Camilo! Memória Viva de Bom Jesus

 

José Camilo: o maior doador de sangue do Hospital São Vicente de Paulo

Hoje, aos 94 anos, José Camilo mantém sempre abertas as portas de sua casa em Bom Jesus do Itabapoana para receber, com a serenidade de quem muito deu, o carinho de tantos que comparecem para visitá-lo.

Cada visita que recebe é uma homenagem que cada coração bonjesuense lhe presta. Andre Luiz de Oliveira, presidente do Instituto de Menores Roberto Silveira, e representante do jornal O Norte Fluminense, está sempre a visitá-lo. Pequeno gesto diante da grandeza de uma vida inteira.

Nascido em Itaperuna, em 13 de fevereiro de 1931, filho de Camilo da Costa e Josefa da Costa, José cresceu entre sete irmãos, mas guarda viva a memória de apenas dois: Antônio e Djanira. Em 1951, deixou o trabalho no matadouro de sua cidade natal para atender a um chamado. Viera para Bom Jesus a convite de José Abreu, o Zé Bucheiro, e assim iniciou sua trajetória no matadouro municipal, aposentando-se apenas em 1980.

Foi nesse mesmo ano de chegada que começou sua missão maior: doar sangue para o Hospital São Vicente de Paulo. Do gesto simples nasceu um legado. Camilo se tornou o maior doador de sangue da história do hospital, socorrendo cerca de 75 vidas, entre elas a do próprio André Luiz de Oliveira, atropelado por uma bicicleta de carga. “Peguei-o caído na rua, levei ao hospital e doei meu sangue. Hoje ele está aí, vivo, presidente do Instituto de Menores”, relembra.

Mas Camilo deu muito mais do que sangue: deu tempo, deu presença. Ajudava nas campanhas do hospital, arrecadava bezerros para os leilões, apoiava a Festa de Agosto, sempre em silêncio, sempre em entrega.

E a vida também lhe reservou símbolos. Ao doar sangue para a esposa de Noé Borges, presidente do Aero Clube, recebeu de presente um título de sócio. Tornou-se, assim, o primeiro negro a entrar no clube, gesto que transformou não só sua história, mas também a história social da cidade.

Hoje, José Camilo olha para trás e sorri. “Sou reconhecido por tudo o que fiz pelo hospital e por Bom Jesus. Sinto-me realizado”, diz com voz doce, aquela mesma que embalou tantos encontros de gratidão.

José Camilo é mais que um homem. É memória, é eternidade. Escreveu sua biografia não em páginas de papel, mas em veias e corações, com o sangue que salvou vidas e com a bondade que nunca se esgota.

Viva José Camilo! Um homem bom. Uma vida solitária onde cabe o mundo. Nunca sozinho, porque se eternizou em todos aqueles a quem devolveu o direito de viver.


Poesia dedicada a José Camilo


Noventa e quatro anos,

um corpo feito de silêncio,

mas um coração que grita vida.


Deu sangue.

Deu tempo.

Deu esperança.


Setenta e cinco vidas

carregam em suas veias

o sopro generoso de Camilo.

Homem simples,

voz doce,

solidão que nunca foi solidão,

pois sempre coube o mundo em sua existência.


Primeiro negro a entrar no Aero Clube,

abriu portas com o gesto mais humano:

um ato de amor.


Camilo é memória.

Camilo é eternidade.

Ele escreveu sua história não em livros,

mas em corpos salvos,

em corações agradecidos,

em olhos que voltaram a ver o amanhã.


Celebramos a cada dia 

não apenas José Camilo,

mas a 

vida que pulsa em tantas outras

Graças ao sangue que ofereceu


Viva José Camilo!

Homem bom,

Homem grande,

Homem eterno!


José Camilo no Aero Clube 

José Camilo foi o 1º negro a ter acesso ao Aero Clube 

André Luiz de Oliveira, presidente do Instituto de Menores Roberto Silveira e representando o jornal O Norte Fluminense, em homenagem a José Camilo (foto: arquivo)


Nenhum comentário:

Postar um comentário