De uns tempos para cá, os jornais e telas inventaram um novo temor: a “adultização” das crianças pela internet. Palavra nova, problema velho. Olhando bem, parece que erraram no foco.
Todos podem se lembrar, contudo, como quem abre um álbum antigo, da televisão que embalava lares e corações, ensinando coreografias provocativas a meninos e meninas que mal haviam trocado o leite pelas primeiras aventuras no recreio da escola. Não era a internet, era o rádio, era a TV, era a cultura popular.
E se voltamos mais atrás, recordando outro aviso que os pais nos davam: cuidado com os estranhos na rua. Hoje, porém, o medo bate à porta de casa. Crianças violentadas não por sombras desconhecidas, mas por mãos que deveriam protegê-las.
O que foi que mudou? Mudou o disfarce, mudou o palco. A violência não nasceu com a internet, ela apenas ganhou novo atalho.
E, no entanto, o discurso oficial insiste em mirar apenas na “adultização” digital. Como se fosse mais urgente coibir a dança das telas do que enfrentar a violência real, brutal, cotidiana, essa que cresce entre paredes que deveriam ser refúgio.
Regulam a internet em nome da infância, mas não tocam na chaga mais profunda: a violência sexual que a rede facilita, que as estatísticas gritam, que as casas silenciam.
Até quando a hipocrisia dos governantes vai se vestir de cuidado social, proclamando a defesa dos “bons valores”, enquanto finge não ver o que devora a vida das crianças?
Talvez, no fundo, o interesse nunca seja proteger a infância, mas preservar o poder, embalado no falso canto de um zelo que não existe.
Verdade. E quem poderá nos ajudar?
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