quarta-feira, 27 de maio de 2020

NADA SOU, NADA POSSO, NADA SIGO



 Nada sou, nada posso, nada sigo.
 Trago, por ilusão, meu ser comigo.
 Não compreendo compreender, nem sei
 Se hei-de ser, sendo nada, o que serei.

Fora disto, que é nada, sob o azul
 Do largo céu um vento vão do sul
 Acorda-me e estremece no verdor.
 Ter razão, ter vitória, ter amor,

Murcharam na haste morta da ilusão.
 Sonhar é nada, e não saber é vão.
 Dorme na sombra, incerto coração.

Fernando Pessoa

Enviado por Antonio Soares Borges

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