sábado, 23 de maio de 2020

DEVE CHAMAR-SE TRISTEZA



 Deve chamar-se tristeza
 Isto que não sei que seja
 Que me inquieta sem surpresa,
 Saudade que não deseja.

 Sim, tristeza — mas aquela
 Que nasce de conhecer
 Que ao longe está uma estrela
 E ao perto está não a ter.

 Seja o que for, é o que tenho.
 Tudo mais é tudo só.
 E eu deixo ir o pó que apanho
 De entre as mãos ricas de pó.

19-8-1930

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa

Enviado por Antonio Soares Borges

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