sexta-feira, 9 de maio de 2014




  

ASSASSINATO DO GOVERNADOR ROBERTO SILVEIRA DEVERIA SER INVESTIGADO PELA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE



Edição de 26 de fevereiro de 1961, de O NORTE FLUMINENSE, noticiava, com base em boletim médico, que Roberto Silveira tinha "ultrapassado a fase de perigo de vida"

 

Não obstante a versão oficial afirme que o ex-governador Roberto Silveira tenha morrido em decorrência dos ferimentos causados por um desastre de helicóptero, há elementos que embasam a possibilidade de ter ocorrido assassinato.


 SABOTAGEM NO HELICÓPTERO 


O primeiro fato refere-se à possível sabotagem do helicóptero em que Roberto embarcou, quando pretendia verificar os danos causados pelas chuvas em Santo Antônio de Pádua. 

Embora o livro "ROBERTO SILVEIRA, A PEDRA E O FOGO", escrito pelo jornalista José Sérgio Rocha e publicado em 2003, em nenhum momento mencione essa hipótese, o fato é que a obra relata que o helicóptero não conseguiu erguer-se do solo após a primeira tentativa de subir. Essa situação aponta para a circunstância de que, embora, na ocasião, pudesse parecer ao piloto algo sem maior gravidade, acabou revelando-se, em seguida, como circunstância indicativa de letalidade.

A situação mortífera pode ser confirmada, ainda, do relato da segunda tentativa do helicóptero em ganhar altura: o mesmo "adernou para a esquerda, tomando a direção dos fundos do prédio, arrastado por uma rajada de vento" (página 434), atingindo um arbusto e, em seguida, um telhado.
 
José Monteiro de Souza e sua filha Selma Rezende de Souza, de Calheiros: "o comentário geral era de que Roberto Silveira tinha sido assassinado"

A sabotagem no helicóptero não é hipótese nova, pois era comentário uníssono, na época.

Com efeito, segundo José Monteiro de Souza, nascido em Calheiros, região onde nasceu o governador, e que completará 103 anos de idade no próximo dia 1o. de setembro, "recordo-me que o comentário geral era o de que Roberto Silveira havia sido morto".

Selma Rezende de Souza, filha de José Monteiro, também nascida em Calheiros, diz que "o que se falava, na época, era de que o helicóptero tinha sido programado para causar a morte de Roberto Silveira. Foi um momento de intensa tristeza para todos nós de Bom Jesus do Itabapoana, pois Roberto Silveira era um ídolo para todos nós", afirmou emocionada.  

Dr Ayrthon Borges Seródio: "entendo que a morte de Roberto Silveira não foi acidental, mas provocada"

Por outro lado, o médico e poeta bonjesuense Dr. Ayrthon Borges Seródio, nascido na Barra do Pirapetinga, e que estudou, em sua infância, com Roberto Silveira, assinalou: "Estudei com Roberto e seus irmãos José e Badger. Nossa professora se chamava Olga Ebendinger. Muitos anos depois, quando fui estudar em Niterói, sempre encontrava com Roberto, pois éramos amigos. Entendo que a morte de Roberto Silveira não foi acidental, mas provocada".



 ROBERTO ESTAVA FORA DE PERIGO

 
O segundo elemento a consubstanciar a possibilidade de homicídio se dá, também, a partir do boletim médico emitido no dia 23 de fevereiro pelos médicos que atenderam Roberto Silveira. Nele está escrito que passadas as "72 horas críticas", o governador "estava fora de perigo". 


O jornal O NORTE FLUMINENSE noticiou a esperança na recuperação do governador. Na edição de 26 de fevereiro de 1961, dois dias antes de seu óbito, nosso jornal estampava em manchete: "Governador vítima de grave desastre aviatório
Consternação geral em todo o Estado - ultrapassada a fase de perigo de vida"


O texto assinalou:


"Às 9h 45min da manhã do dia 21 do corrente, quando a bordo de um helicóptero da Armada, tentava alçar voo do palácio Rio Negro, em Petrópolis, para visitar o município de Pádua, assolado pelas cheias do rio Pomba, desgovernou-se a aeronave pilotada pelo capitão de corveta José Eduardo Ribeiro Braga, alçando a sua hélice um pinheiro e dali o prédio de uma garage, quando ocorreu a explosão do aparelho, caindo o mesmo de uma altura de 8 metros.

Encontravam-se ainda no aparelho sinistrado o jornalista Luiz Paulistano, assistente de Imprensa do Governador Roberto Silveira e o fotógrafo Elson Reginaldo dos Santos
.

OS PRIMEIROS SOCORROS

Caindo ao solo envolto em chamas o helicóptero, correu para o mesmo um marinheiro (ajudante do piloto que deixara de viajar para ceder o lugar ao jornalista Paulistano), que incontinenti e providencialmente, abriu a porta do aparelho, saindo do mesmo, em primeiro lugar, o governador Roberto Silveira, que ainda auxiliou a retirada do jornalista Paulistano, que se queixara de não estar enxergando, quando recebeu palavras de ânimo por parte do sr. governador. O motorista do governador, que também se achava presente no ato do acidente, prestou socorro às vítimas, todas portando sérias queimaduras, promovendo o transporte das mesmas para o pronto socorro, onde foram medicadas e prontamente transportadas para o Hospital Santa Tereza, onde foram submetidos ao mais carinhoso e eficiente tratamento.

O Presidente Jânio Quadros, ciente do ocorrido, mandou coloca os préstimos do Governo Federal à disposição dos acidentados, solicitando ao Ministro Brígido Tinico que os visitasse em seu nome.



Continuou a matéria asseverando que Roberto Silveira estava fora de perigo e, considerando as melhoras apresentadas em seu estado de saúde, a expectativa geral era a de que o governador não necessitaria passar o governo ao sucessor. A matéria prosseguiu:

FALECEU O PILOTO E O JORNALISTA. FORA DO PERIGO O FOTÓGRAFO. ROBERTO REAGE

Apesar da gravidade das queimaduras recebidas, o governador Roberto Silveira, dada a sua robustez e vitalidade física, vem resistindo galhardamente, já se encontrando também fora de perigo de vida, tomando, mesmo do leito, providências de ordem administrativa.

 
NÃO DEIXARÁ O GOVERNO

 
Tendo em vista as acentuadas melhoras que vem apresentando em seu estado de saúde, a expectativa geral é de que o Governador Roberto Silveira não precisará passar o governo ao seu sucessor legal, continuando a dirigir o Estado, enquanto convalesce das queimaduras recebidas".


Posteriormente, no dia 28 de fevereiro, o jornal Última Hora, com base, ainda, nos boletins médicos, estampava em manchete: "Roberto melhora dia a dia. Ataduras vão ser retiradas". 

Entretanto, de forma suspeita, no próprio dia 28 de fevereiro, às 9h 10min, o governador veio a óbito. A explicação para os falsos boletins era a de que não se pretendia causar comoção social.


O Norte Fluminense divulgou a notícia da morte de Roberto Silveira na edição de 5 de março de 1961

 O falecimento de Roberto Silveira foi anunciado por O NORTE FLUMINENSE em sua edição de 5 de março de 1961: "PERDA IRREPARÁVEL PARA O ESTADO E PARA O PAÍS
O povo chora, inconsolável, a morte de ROBERTO SILVEIRA
"


 Segue o editorial de O NORTE FLUMINENSE sobre a morte do governador:

" Tomba quando em plena ascensão de sua fulgurante  carreira de homem público, de líderes autênticos do povo, do qual era filho dileto e tornara-se  pois pelo desvelo em atendê-lo em suas dificuldades e justas reivindicações, esse gigante de lutas populares e democráticas da nova geração de políticos, que visto como ele gostava de acentuar: " da poeira das estradas" guindara com 35 anos, ao governo de seu estado natal, ungido pela vontade consagradora do povo, através do pronunciamento soberano das urnas de 3 de outubro de 1958, aos altos conciliábulos da política nacional pela sua vocação de estadista e mais do que isso, penetrando no recesso dos corações de seus patrícios pelo amor e sinceridade, denodo e dedicação à causa pública, a quem o povo, na intimidade que confere aos eleitos, de sua predição, chama: - ROBERTO!

Foi vítima o nosso governador, o nosso amigo, o nosso conterrâneo, da compreensão exata dos seus deveres de homens de estado, pondo em risco a sua própria vida, no uso de aparelhos de locomoção mais próprios para poder acorrer ao chamamento de ajuda de populações flageladas do norte do seu Estado, justamente dessa porção da terra fluminense que mais despertara os seus cuidados administrativos, no afã de reparar as injustiças impostas a essa região por governos pretéritos. E assim quando procurava alçar voo, num helicóptero, para atender os imperativos de uma administração zelosa, vê-se vítima do pavoroso desastre que enluta a Nação".


A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE DEVERIA INSTAURAR INVESTIGAÇÃO SOBRE O FATO

A Comissão Nacional da Verdade foi estabelecida em 12 de maio de 2012, com o objetivo de apurar graves violações aos direitos humanos ocorridas no Brasil entre 18 de setembro de 1946 e 05 de outubro de 1988. O prazo para a conclusão dos trabalhos ocorrerá em 16 de dezembro de 2014.

A morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek foi objeto de investigação, decorrente da suspeita de que o acidente de trânsito que o matou teria sido, na verdade, um homicídio.

A morte do ex-presidente João Goulart, por ataque cardíaco,  é outro objeto de investigação, em decorrência da suspeita de ter também ocorrido, no caso, assassinato.

Além dos elementos assinalados por O NORTE FLUMINENSE,  é certo que forças reacionárias tinham interesse na morte de Roberto Silveira, que surgia como um nome provável para ocupar, no futuro, a Presidência da República. 

Assim, torna-se necessário que a Comissão Nacional da Verdade realize investigações para apurar as circunstâncias da morte de Roberto Silveira.




LUTO OFICIAL EM TODO O PAÍS


Com o falecimento de Roberto Silveira, o presidente Jânio Quadros decretou, na época, luto nacional por três dias. O NORTE FLUMINENSE publicou o decreto presidencial:

Considerando que, no decurso de sua vida pública, o governador Roberto Silveira afirmou, invariavelmente, virtudes de dedicação e idealismo; Considerando a fidelidade com que desempenhou seus altos deveres de mandatário, prestando excepcionais serviços ao país no Governo do Estado do Rio de Janeiro; Considerando que era das mais expressivas figuras da nova geração de homens públicos brasileiros e tornou-se intérprete de autênticos anseios do povo; Considerando que dignificou as funções de que estava investido, que seu prematuro desaparecimento comove toda a Nação, o Presidente da República decreta:

Art. 1o.  É declarado luto oficial em todo o país por três dias, a partir desta data, em sinal de pesar pelo falecimento do governador do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Silveira.

Art. 2o. Fica determinado que lhe serão prestadas por ocasião de seus funerais, honras de Ministro de Estado".



OS FUNERAIS DE ROBERTO


Publicação de O NORTE FLUMINENSE em 12 de março de 1961


A edição de nosso jornal do dia 12 de março de 1961 publicou a seguinte nota sobre "Os funerais de Roberto":


A presença maciça de representantes de todas as classes sociais nos funerais do inditoso Governador Roberto Silveira constituiu uma das maiores homenagens póstumas já tributadas a um homem público em nossa pátria.

Não só pela presença humana como pelo sentimento que se estereotipou sincero em todos os semblantes, pela perda prematura de um valor autêntico que se destacava pelo seu acendrado ideal de servir e bem servir na posição mais difícil, que é a de governar.

O clichê que ilustra esta nota representa a saída do féretro de Roberto Silveira do Palácio do Ingá, sede do governo, onde revelou a visitação do Povo e das mais altas autoridades do País".



MISSA DE SÉTIMO DIA

Na edição do dia 12/03/1961, O NORTE FLUMINENSE noticiava a missa de sétimo dia:


 " Na 2a. feira última, em nossa Igreja Matriz, o Revdo. Pe Francisco Apoliano oficiou solenes exéquias de sétimo dia, pela alma do saudoso Roberto Silveira. A esse ato religioso compareceu enorme multidão e altas autoridades, numa demonstração de fé impressionante e do quanto era querido e estimado nosso conterrâneo tão tragicamente desaparecido".

(Leiam na próxima edição: 

*ROBERTO E BADGER SILVEIRA VIVEM! 

*O movimento pela criação do MEMORIAL GOVERNADORES ROBERTO E BADGER SILVEIRA em Bom Jesus do Itabapoana)


3 comentários:

  1. "Excelente jornalismo"
    Lucília Stanzani, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), advogada,por email (luciliastanzani@gmail.com)

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  2. "Muito bom!

    Vai bombar, com certeza"

    Elizete Maria, de Sacramento (Manhuaçu/MG), professora, por email
    (elizetems13@yahoo.com)


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