quarta-feira, 13 de maio de 2015

OS 95 ANOS DE ELCIO XAVIER







Elcio Xavier completou 95 anos de idade, no dia 3 de maio passado. Considerado o maior poeta bonjesuense de todos os tempos, sua obra prima, "O Véu da Manhã", foi reconhecida na Academia Brasileira de Letras.




A VIDA EM BOM JESUS


ELCIO nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, na Avenida Padre Mello, no dia 03/05/1920, filho de Waldemar Sigismundo Xavier, também bonjesuense, e Elvira Cerqueira Xavier, mineira de Muriaé, e neto de Samuel e Baldina, tradicionais membros da Família Xavier.

                               ELCIO XAVIER em foto de 1936, quando serviu ao Exército

Casado com a professora Gedália, filha de Mário Loureiro, coletor estadual em Bom Jesus do Norte (ES) e de Maria da Conceição Loureiro, constituiu uma bela família com 5 filhos: Regina - psicóloga, Rogério - funcionário da Petrobrás, Raquel - jornalista, Rosete - arquiteta e Rita de Cássia - médica, 12 netos e 3 bisnetos.

ELCIO, apesar de viver por longos anos fora de Bom Jesus, jamais a esqueceu e ao falar de sua terra natal se entusiasma, perde-se em rememorar fatos históricos de real importância para a memória de nossa cidade.

Eis alguns dados interessantes nas palavras do ELCIO: “Meu bisavô, Carlos de Aquino Xavier, mineiro de Mar de Espanha, se instalou em 1872 na margem esquerda do Rio Itabapoana onde hoje está a cidade de Bom Jesus do Norte (ES) e parte das montanhas que a circundam, formando a Fazenda Jardim. Atualmente seu nome está lembrado em uma modesta rua daquela cidade. Carlos tivera 15 filhos, entre os quais minha avó Baldina, que se casou com seu primo Samuel, meu avô e filho de Júlio de Aquino Xavier.”

                                   ELCIO XAVIER em foto de 1939, ano de seu casamento


DESCASO DAS AUTORIDADES

ELCIO diz que sempre se rebelou contra o descaso das nossas autoridades pela preservação do patrimônio histórico da cidade e cita: “a ponte de madeira sobre o Rio Itabapoana, inaugurada em 1885, que teve parte da mão de obra e todo seu madeirame fornecido por Carlos Xavier. Essa ponte não suportou a maior enchente do rio em 1906. Posteriormente se construiu nova ponte de madeira, que foi abandonada ao longo do tempo, sobretudo a partir da inauguração da ponte de cimento, essa construída pelo engenheiro Heitor Nogueira, irmão de Samuel Xavier, em 1927.” Segundo ELCIO, Bom Jesus necessita de duas pontes, o que pode ser concretizado caso as forças políticas dos dois Estados unam esforços.

ELCIO se recorda do próspero comércio da rua Buarque de Nazareth, que começava na Ponte de Madeira e seguia até a Praça Governador Portela, despontando como principal a Casa Mansur, assim como do primeiro prédio construído na praça em Bom Jesus, onde está instalado o Big Hotel. “Em 1889 houve animado baile nos salões desse prédio, em comemoração à Proclamação da República.

O GOSTO PELA LITERATURA

O gosto pela literatura ocorreu quando foi servir ao exército, aos 18 anos, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, despertado por um colega de quartel que o apresentou a alguns escritores como: Adonias, Otávio de Faria, Lúcio Cardoso, etc. Não obstante tenha iniciado cedo na arte de escrever, acabou cessando igualmente cedo suas atividades literárias, uma vez que teve de se dedicar com exclusividade ao trabalho na Cia. Ferro Brasileiro, viajando pelo Brasil.

Delton de Mattos, em artigo em O NORTE FLUMINENSE, publicado no dia 04/09/1994, refere-se a ELCIO XAVIER como “Primoroso poeta, um dos mais puros e refinados que este país já produziu.” Segundo Delton de Mattos, “Se (ELCIO XAVIER) continuasse, teria sido um dos mais festejados da chamada “Geração de 45”, ao lado até com vantagem, de um Geir Campos, Ledo Ivo e João Cabral de Mello Neto, dentre outros”.

O fato é que ELCIO XAVIER ainda lançou outro livro de poesias, “ROSAQUARIUM”, pela editora da Revista Branca. Três outros livros escritos na década de 45/55 estão inéditos. São eles: “ASAS DA NOITE”, “NO PAÍS DO LODO VERDE”, um livro infantil, e “CRÔNICAS”. Sugerido que a editora O NORTE FLUMINENSE publicasse tais obras, ELCIO entusiasmou-se com a ideia.

ACADEMIA BONJESUENSE DE LETRAS


Segundo ELCIO, "declinei, na época, como fizeram alguns colegas, de integrar entidades literárias, exceto o pequeno grupo da Revista Branca e a nossa ABDL(Academia Bonjesuense de Letras), atendendo bela carta do amigo Athos".

Nas palavras de ELCIO XAVIER, "esclareço que me distanciei do movimento literário na década de 60, mas mantive as amizades conquistadas, amizades essas que vem se esvaindo ao longo do tempo, pela morte ou pela idade. Devo acrescentar, com grande saudade, do grupo da Revista Branca: E. C. Caldas, Rawet, Fausto Cunha, Alberto da Costa e Silva, Bráulio, entre outros".

ABELHAS E O ENCANTO DA NATUREZA

Prossegue ELCIO: "Por uma coincidência fortuita descobri em 1970 a abelha (apis mellifera), por quem me apaixonei e preencheu minha vida por logos anos.No mundo das abelhas, participei da fundação de uma Associação, da qual fui presidente por doze anos; de uma Cooperativa Apícola e de uma Revista, a única no gênero no Brasil, por longo tempo reconhecida internacionalmente. Publiquei uma monografia: “A abelha e o Homem” e fiz parte de um órgão de assessoria do Ministério da Agricultura por vários anos".

ELCIO se considera "um ilustre desconhecido em minha terra natal, sobretudo porque dos meus colegas da juventude e dos amigos que aí deixei só me resta o Ayrthon (AYRTHON BORGES SERÓDIO), com quem falo rarissimamente. Há nomes que me são familiares, mas sem contato maior, dada minha ausência da cidade, e meu comportamento arredio, fruto de uma timidez hereditária".

Refugiado em uma chácara na Zona Oeste do Rio de Janeiro com seus livros, seus discos e o encanto da natureza, o silêncio, as flores e o gorjeio dos pássaros, ELCIO XAVIER deixa aos novos escritores uma mensagem: "Leitura, muita leitura de bons livros".

                                          ELCIO XAVIER e sua esposa GEDÁLIA


Segue uma poesia marcante do Poeta Inconfidente do Itabapoana, publicada na revista ALLIANCE, de São Paulo, em maio de 1950, dirigida por Delton de Mattos.

POBRE JARDIM DA ALDEIA

Pobre jardim da aldeia
onde deixei meus oito anos
junto ao chafariz de trevos:
leva-me ao teu grande mar
neste solitário fenecer!
Quero rever o castelo marinho,
a tempestade, o primeiro encontro,
as rosas-fadas que me amaram
e as queixas dominicais
de tuas sombras frescas.
Falta-me o azul de tuas tardes
e sinto que não verei o luar.
Não encontro meu sangue
nas lutas que partem da noite,
Não tenho memória dos tempos
nem vejo meu rosto na lagoa.
O mundo sucumbirá num suspiro
se minha infância não regressar.

VOCÊ SABIA?

Segundo texto sobre "Nossa Árvore Genealógica", de 2002, escrito por ELCIO XAVIER, o mesmo se recorda de "declarações de seu bisavô Carlos aos filhos, quando falava da origem de nossa família e dos percalços porque passaram seus membros em decorrência da Inconfidência Mineira; seu pai (Joaquim) era bisneto de uma irmã de Tiradentes, e sua mãe (Maria Tereza) membro da família Rodrigues da Costa, profundamente ligada aos inconfidentes."

(Ver postagem em 05/02/2012. http://onortefluminense.blogspot.com.br/2012/02/o-poeta-inconfidente-do-itabapoana.html )


ELCIO XAVIER lança  "O VÉU DA MANHÃ", no ECLB, EM NOITE MEMORÁVEL
(postagem neste blog em 1º/12/2013)

Elcio Xavier




Em noite memorável, Elcio Xavier, considerado o maior poeta bonjesuense de todos os tempos, e dos grandes do país, lançou, no dia 16 de novembro, no ECLB (Espaço Cultural Luciano Bastos), em Bom Jesus do Itabapoana (RJ), a 2a. edição do lebre livro "O VÉU DA MANHÃ".

O Véu da Manhã, em 2a edição

Amigos, parentes e admiradores marcaram presença no ECLB, em uma noite repleta de emoções.









 


 


Regina Loureiro Xavier, filha de Elcio, ao piano: uma noite de encantos







O blog do Espaço Cultural Luciano Bastos (www.espacoculturalluicianobastos.blogspot.com) fez o seguinte registro sobre o evento:



"Ao lado de amigos e familiares, o escritor Elcio Xavier lançou o livro O Véu da Manhã pela Editora O Norte Fluminense, em segunda edição, neste sábado, no Espaço Cultural Luciano Bastos.
     Após agradecer a presença de todos e relembrar emocionado os momentos mais marcantes de sua vida, Elcio Xavier recebeu homenagem carinhosa da sobrinha e afilhada Iara Loureiro Laborne, de Gino Bastos e das primas Maria José e Lenice Xavier.
     A noite ficou mais especial ao som do piano de Regina Loureiro Xavier, filha do escritor, que contagiou os presentes e fez todos cantarem um repertório especialmente escolhido e dedicado aos familiares:
      Milidó, dedicada ao tio Levy Xavier (autor); Juntinho de Você, ao tio Samuel Xavier (autor); Suspiros e lágrimas, à bisavó Baldina Xavier; Rancho Fundo, ao avô Antonio Tinoco; Jangadeiro, à avó Maria da Conceição Loureiro; Branca, à avó Elvira Xavier; Boneca, à mãe Gedália Loureiro Pereira; Pobre Trovador, ao irmão Rogério Loureiro Xavier (autor); Chuvas de Verão, ao tio Celso Loureiro Pereira; Eu sonhei que tu estavas tão linda, à Maria José Rezende, mãe de Lucília Rezende e Perfídia, ao tio Haroldo Olive, marido da tia Shirley Loureiro
".











RAQUEL LOUREIRO XAVIER SOARES



Durante o evento histórico, Elcio Xavier lançou o livro escrito por sua filha Raquel Loureiro Xavier Soares, intitulado "ALMA INQUIETA", que retratou os momentos que lutou contra a doença que a acometeu, até seu passamento, em 2011.

Raquel Loureiro Xavier Soares, filha de Elcio Xavier e da bonjesuense Gedália Loureiro Xavier, foi escritora, poetisa, pintora, professora de inglês e literatura e jornalista com pós-graduação em Arte Dramática e Cinema. Conorme salientado na obra, "seu livro é o registro de sua luta contra a grave enfermidade que a abateu no seu melhor período de criação"



Poesias de Raquel Loureiro Xavier Soare retratam a "luta contra a grave enfermidade que a abateu no seu melhor período de criação"

A respeito de "Alma Inquieta", a professora Rita de Cássia Cogo, de Guaçuí (ES), escreveu:

Rita de Cássia Cogo: emoção com o livro "Alma Inquieta"


"O livro 'Alma Inquieta' apresenta várias poesias na qual a autora Raquel  Lourenço  Xavier  Soares  nos leva a refletir sobre a complexidade da alma humana e sobre a profundidade dos antagonismos humanos  frente à necessidade de viver, resistir  e vivenciar  as provações e as limitações  que a doença e a dor trazem.


A autora, ao ver sua vida sendo encarcerada pela consequência da doença, deixou transparecer em suas poesias a lucidez em momentos de angústia, a saudade de uma infância bem vivida, o conflito e a busca da fé, a doçura de uma mãe, o reconhecimento de uma amizade, a grandeza de uma mulher, uma  presença viva e paterna  e, em sua  despedidaa certeza de sua imortalidade.


Esse livro demonstra a preciosidade de preservar a memória de alguém, pois afinal, seremos eternos enquanto permanecermos vivos na memória de alguém".
  

   






 ELCIO XAVIER "PRECISA SER LIDO", DIZ ,MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS


Adonias Filho


A respeito de Elcio Xavier, o membro da Academia Brasileira de Letras, Adonias Filho, que recebeu o título de imortal pelas mãos de Jorge Amado, escreveu o artigo "Poetas em Primavera": 

" Simples o ritmo e a linguagem , marinhista e com o olhar submerso em todas as cores, a poesia desse estreante - sem afetação, sem saltos imprevistos, sem paredes turvas - é, antes de tudo, uma afirmação pessoal. Nâo dcompõe em alicerces de cimento, não quer ser um entendido, mas, de imagem a imagem, robustece a arquitetura da poesia de tal modo que impossível se torna duvidar da sua legitimidade. No conjunto, é uma conifssão. Repercutem, em verdade, numa ternura humana cada vez mais ausente, as palavras que traduzem aspectos claros e refletem as manhãs sem violentá-las nas suas dimensões. Fiel ao panorama, incapaz de mutilar os sentidos para 'pensar a poesia', sua emoção criadora por isso mesmo se irradia, como diria Charles De Bos, e exprime o 'qui est proche de notre âme'.

Nos poemas de 'Velas na Bruma', abertos sobre o mar, o poeta Elcio Xavier, que não se impacienta e não se precipita, consegue quase sempre uma intensidade que, inutilmente, procuro nos seus companheiros de geração. A acuidade vibra acima da contemplação, erguendo os quadros numa gradação admirável. Mas o que verdadeiramente constitui na sua grande poesia o território constante, é a integração de si mesmo em um universo que a todos pertence. Esclarece muito, neste particular, o poema 'Auto-retrato'. E essa integração não se desfaz nem quando se realiza o 'Aparecimento de Ege' - o instante em que o tema eterno, a mulher, se incorpora à poesia.

 Este poeta que, insisto,  precisa ser lido no livro marcante que é 'O Véu da Manhã', não se projeta apenas no lirismo simples, na espontaneidade que denuncia em seus poemas como atos inevitáveis. É também um poeta que penetra na análise, sempre simples e humano, mas investiga aquele subsolo que caracteriza a poesia como uma descoberta. Extraordinário sem a menor dúvida, como se revela e se advinha, e se perdoa. No fundo de sua própria natureza, irmanado ao mundo, em seus poemas que do modernismo só utilizam o instrumental formal. Elcio Xavier é um poeta à margem das escolas e dos grupos. Isolado, porém sua personalidade flagrantemente poderosa nesse livro de estreia, é um poeta que exige atenção".





 O VÉU DA MANHÃ "É UM DOS ACONTECIMENTOS LITERÁRIOS DOS ÚLTIMOS ANOS", DIZ CRÍTICO MINEIRO

Lucio Cardoso

O  mineiro Lúcio Cardoso, outro festejado crítico, debruçou-se sobre o livro de Elcio Xavier:


"Tenho em mãos o livro de estreia de um Poeta. Este grande mistério da Poesia, sobre que já se inclinaram tantos sábios e estudiosos, que tantos aproximam do fenômeno místico e que muitas vezes os próprios poetas não compreendem, tão estranho e profundo é ele, este mistério é sem dúvida o sinal de uma predestinação que neste mundo conta como uma das coisas mais altas. e que seria de nós se os poetas não surgissem de vez em quando, com sua incrível capacidade de sofrer por si e pelos outros, que seria do mundo, se do seu caos confuso e atormentado não surgissem intérpretes que lhe emprestassem uma fórmula única e real, magos que fazem brotar com o simples toque da sua varinha um oceano de espessas e maravilhosas ressonâncias?


Não sei como surgem os poetas, mas sei que quase sempre sua primeira manifestação é um grito de afirmação, um brado de presença através da paisagem e do destino, através do sangue e do sofrimento, olhos pela primeira vez abertos, como o primeiro homem ao sair das mãos de Deus.

 
O livro desse novo poeta, que é o Sr. Elcio Xavier, chama-se "O Véu da Manhã" - título que me parece extraordinariamente feliz, por sintetizar toda a força de véus que se descerram ante o ímpeto da descoberta e a aparição da luz. Logo no poema que dá início ao livro, vêmo-lo afrontar a legenda do próprio destino, dizendo:

 
Azul da minha alma como a lagoa viva
canta a música do sol e as folhas novas
banha-te na amplidão de um pensamento
ou no curto espaço do raio desviado.

Penetra, azul, no infinito deste céu macio,
aproxima-te da terra bafejada pelos ventos
ou vela a pedra que o frio embalsamou.
Desce ao abismo alegre das águas
e descansa sobre as transparentes algas da fantasia.

Cobre teus olhos de aroma ou cálices de flor,
nos teus braços estende as lianas frescas,
no teu corpo sadio desprende o véu da manhã
ah! - e não calces nunca teus pés antes da primeira dor.

Mas se te detiveres ante a onda tumultuosa
ou percorreres o deserto do descontentamento,
não voltes nunca um olhar para o passado,
não sintas nunca a vida que findou.

Toma o teu roteiro claro e definido,
tua estrela jovem como botão de rosa
e espalha nos lábios um franco sorriso,
no coração a eterna e pura juventude
e caminha assim sem jamais duvidar.

Tua estrada é áspera como a da folha agreste,
teus dias enevoados como as horas de agonia,
mas tua sina é mais bela do que a violeta
no desabrochar feliz da manhã de primavera!

Nasceste, azul, para festejar a natureza,
para vibrar na paisagem desfalecida,
para vagar ébrio como os perfumes no ar.

Tua sina é cantar!


Mas o Sr. Elcio Xavier, que possui esta coisa perigosa que é uma grande riqueza verbal, aliada a uma prodigiosa capacidade de inventar imagens, não canta apenas o azul da sua inspiração, mas todas as cores do Universo, desde as verdes colinas, até a pompa rósea e refulgente, bem como as campinas roxas, os céus em fogo, a poeira azul, a chaga escura e o negro sol.

 
Neste mundo tão intensamente colorido, tudo se abre para a natureza e os seus segredos - e este poeta lírico, que tão bem sabe falar do vento e das trevas, consegue uma nota pessoal e estranha, tocada de não sei que ingenuidade, que dá a sua poesia um aspecto inédito entre nós. Algumas vezes, e de longe, lembra o Sr. Augusto Frederico Schmidt: - é que a compreensão da Poesia que o Sr. Elcio Xavier tem, assemelha-se à revelada pelo cantor da "Estrela Solitária". Para ambos, o poeta, destinado a uma missão superior, possui um caráter excepcional e divino.


Não sei qual a experiência que este jovem poeta tem da vida e nem qual o seu exato conhecimento das coisas. Mas julgo que, possivelmente, não ignora ele que o verdadeiro quinhão do poeta neste mundo, qualquer que seja sua maneira de pensar, é o sofrimento. Renegá-lo seria trair o que de mais íntimo e belo existe dentro de si. Renegá-lo seria mutilar uma personalidade que nunca poderia vicejar amplamente noutros terrenos da vida. Gostaria, no momento de fechar este artigo, saudar no poeta que acaba de estrear, um autêntico valor da moderna Poesia Brasileira. É que "O Véu da Manhã" parece-me conter realmente algo destinado a marcar o seu aparecimento como um dos acontecimentos literários dos últimos anos
".







O DISCURSO DE ELCIO XAVIER



"Boa noite, amigos e amigas!

É gratificante para mim ver este auditório repleto para um evento tão singelo: a entrega da segunda edição de um velho livro meu já esquecido no tempo.

Devo ressaltar que esta agradável reunião se deve ao persistente trabalho de persuasão do dinâmico Dr. Gino Bastos, superando os obstáculos que lhe antepus, sobretudo, o de rever meu passado de atividade literária.

Dessa batalha nasceu a segunda edição de "O Véu da Manhã". A este prêmio acrescento dois fatos relevantes:

1o.) a oportunidade de estar em Bom Jesus, neste templo da cultura - o antigo Colégio Rio Branco - hoje o vitorioso Espaço Cultural Luciano Bastos, que engrandece e valoriza de maneira altamente expressiva a tradição cultural de nossa cidade, e me apresentar aos meus conterrâneos, relembrando aquele tímido professorzinho-aluno do Instituto Euclides das Cunha;

2o.) o ensejo de esclarecer que a saída de minha terra natal naquele longínquo ano de minha mocidade, foi imposta pela necessidade de obter o certificado de reservista, sem o qual estava impedido de trabalhar. Vale lembrar que eu partira para meu exílio, mas levara comigo o puro amor da mais bela, mais culta e mais inteligente jovem bonjesuense: Gedália, professora brilhante, poetisa de grande inspiração, por quem clamo incessantemente.

Deixei esta cidade para uma ausência de dez meses, que se prolongou por três longos anos, em decorrência da Grande Guerra, retido no Forte de Copacabana. A saudade era cruel e nos transformara - Gedália e eu - em especiais autores de cartas, belas cartas, que ainda hoje me comovem e emocionam.

No Forte encontrei uma excelente biblioteca que me enchia as noites de um marulhar monótono e sem fim. Ali fiz bons amigos, também saudosos de suas terras, que me levaram aos sebos cariocas, grandes feiras de bons livros. Ali escrevi meus primeiros versos.

Em dezembro de 1944, após o término da Guerra, incluíram-me na primeira exclusão do contingente do quartel. Ocasião em que recebi a oferta de um emprego que me permitiria cumprir no Rio de Janeiro as juras de amor eterno com minha alma gêmea. Meu caminho no mundo das letras seguia com abundante produção e a convivência com amigos cuja amizade o tempo só reforçou.

Em 1945 já dispunha de dois livros montados, que transformei no "O Véu da Manhã". Publicá-lo foi muito difícil... sem recursos financeiros, amealhei por anos o capital para a primeira edição, que circulou em 1951, com ótima repercussão. O segundo, "Rosaquarium", fez parte da coleção de livros de poesia, conto e teatro, impressos em prelo manual, na sede da Revista Branca, grupo especial ao qual estive ligado por vários anos e onde fiz um círculo de amigos de grande fidelidade. Uma severa autocrítica me transformou em um poeta bissexto, reduzindo drasticamente minha produção, mas não impedirá que ainda lance meu novo livro.

Para concluir, reitero meu agradecimento ao dr. Gino e à sua irmã, dra. Cláudia, pela galhardia com que me receberam. Deixo também meu abraço fraternal ao Dr. Ayrthon, à Dra. Neumar, à Dra. Nísia, especiais membros da cultura bonjesuense e brasileira, assim como meu pleito de amizade e admiração pelos amigos não menos importantes Athos e Delton, bem como a outros autores de minha terra que escapam à minha velha memória.

Junto ao meu livro vocês receberão também o livro da minha filha Raquel, há dois anos longe de nós. Jornalista, professora de Inglês/Literatura, poetisa, contista premiada e, nas horas vagas, pintora de reconhecida inspiração, ela nos deixou este livro - "Alma Inquieta" - que é a história fiel do tormento que lhe causou sua grave doença, o lúpus eritematoso, que ora a deixava plena de alegria, seu temperamento normal, ora em profunda depressão.

Agradeço a presença de todos, pedindo desculpas pelas falhas de minha memória nonagenária".         










UMA CARTA DE ELCIO XAVIER



Da coluna livre de DELTON DE MATTOS, publicada em O Norte Fluminense, na edição de 04 de setembro de 1994



QUILÔMETROS DE LIVROS

...

"Rio.30.7.94. Meu prezado amigo Delton.

Nesta tarde sonolenta e triste deste último sábado de julho, cercado por pesado silêncio, revia papéis no meu arquivo quando deparei com seu inspirado artigo "Quando a lua ainda existia..." publicado no "Norte Fluminense".

Inapelavelmente voltei aos primeiros anos de minha vida para reencontrar nossa Serra do Tardin.

Revi-me menino de oito anos diante de minha casa muito branca, que assumia um tênue e belo azul quando as águas da chuva lavavam suas paredes.

Cavalguei célere, pelos pastos de longos horizontes meu dócil corcel trotão, Ventania, ora pastoreando o gado, ora cumprindo tarefas domésticas até a venda do sr. Dão, no pé da Serra.

Revivi os banhos nas cachoeiras e açudes do nosso valão, o futebol do negro Fulô e as aventuras plenas de pureza e alegria, junto aos quase irmãos da família Furtado, filhos de Dona Eufrázia, santa mulher; e os bailes na escola pública da Cachoeira, ao som da velha sanfona, onde jamais pude vencer a timidez que me impediu de aproximar das meninas do nosso pequeno e imorredouro mundo juvenil.

Nossos lugares eram extraordinariamente belos e graças ao Senhor ainda ilumina as nossas noites.

Passado o enlevo da longínqua juventude, responsável pelo lirismo que nos encheu a alma de perfumes e cores, desçamos no presente.

Vale aqui reiterar minha calorosa felicitação por sues atuais artigos no "Norte Fluminense", como já o fizera por telefone. Lamento apenas que não tivesse obtido o registro de sua candidatura, posto que já cabalava bons votos na minha aldeia, que é numerosa, para o amigo. Perde Bom Jesus e perde o Brasil, neste período tão crítico de nosso legislativo, um parlamentar culto e competente, alicerçado em ilibado caráter.

Seria gostos encontrá-lo agora em Bom Jesus, para matarmos saudades. Entretanto, estou de viagem marcada para Goiás na próxima semana. Sobre a Festa de Agosto, que poderia ser um elemento aglutinador para mim, não me atrai e posso lhe assegurar que me causou profunda decepção quando lá estive há dois anos.

Bom Jesus de hoje perdeu seu encanto e sua poesia: o Itabapoana está moribundo, a bela ponte é um monstrengo, o Calvário favelizou-se, a praça (nossa praça) é um terreiro de cimento, a majestosa igreja matriz está gradeada como fortaleza onde o cristão só penetra com hora marcada...

Nossa terra, meu caro amigo, perdeu suas tradições, o encanto e as luas do nosso passado. Teríamos condições de revivê-los?

Receba o afetuoso abraço deste seu velho amigo Elcio
".


NOTA - Nunca é demais lembrar: Elcio Xavier é um primoroso poeta, um dos mais puros e refinados que este país já produziu. Se não tivesse deixado de escrever tão cedo, logo depois da publicação do seu notável livro "O Véu da Manhã", com toda certeza teria sido um dos nomes mais festejados da chamada "Geração de 45", ao lado, até com vantagem de um Geir Campos, Ledo Ivo e João Cabral de Mello Neto, dentre outros.

Que posso eu dizer de sua linda carta, que tanto me honra? Revejo-me em cada uma de suas linhas, na infância e na juventude.

Quando fala do seu corcel "Ventania". traz-me imediatamente o meu fogoso "Monarca". Companheiro das madrugadas em busca do Rio Branco, e quando se vê nos bailes da escola pública de Cachoeira, que eu tanto frequentei, relembro-me ali, também solitário, porém soberbo, envergando pela primeira vez o uniforme branco de botões dourados, costurado habilmente pelas mãos maternas.

Relembro também as lindas irmãs Furtado, queridas colegas minhas, que já se foram deste mundo... Não sei como retribuir ao Elcio o brinde dessas emoções.

Em todo caso, reproduzo abaixo o seu belíssimo poema "Pobre Jardim de Aldeia", que tive a satisfação de publicar em maio de 1950, às págs. 18 e 19, do no. 3 da revista ALLIANCE, por mim dirigida em São Paulo,além do mais com uma belíssima ilustração de Geraldo de Barros, mais tarde festejado pintor da Paulicéia, com vitoriosa exposição até em Paris:

POBRE JARDIM DA ALDEIA

Pobre jardim da aldeia
onde deixei meus oito anos
junto ao chafariz de trevos:
leva-me ao teu grande mar
neste solitário fenecer!
Quero rever o castelo marinho,
a tempestade, o primeiro encontro,
as rosas-fadas que me amaram
e as queixas dominicais
de tuas sombras frescas.
Falta-me o azul de tuas tardes
e sinto que não verei o luar.
Não encontro meu sangue
nas lutas que partem da noite,
Não tenho memória dos tempos
nem vejo meu rosto na lagoa.
O mundo sucumbirá num suspiro
se minha infância não regressar.



ADEUS A GEDÁLIA LOUREIRO XAVIER
Edição de 23 de outubro de 2008




Queridos amigos, nesse sábado, às 18:30h, Mãe Dala (minha querida avó) foi descansar ao lado do Pai.

Na próxima sexta-feira, dia 26 de setembro de 2008, às 20:00 h, será celebrada missa de sétimo dia, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Guaratiba, na cidade do Rio de Janeiro.

Aos 88 anos, com 62 de casada com o Pai Elcio (meu querido avô), ela deixou seu marido, 5 filhos, 12 netos e um bisneto, para descansar ao lado do Pai e reencontrar sua filha Rosália, seus pais, avós, irmãos e amigos que já se foram.

Sem inimigos, uma pessoa boníssima, que se preocupava com todos e rezava por todos sem esquecer ninguém.

Sua fé inabalável e sua força de viver são exemplos para muitos.

Eu sei que ela está bem melhor agora, mas não consigo imaginar como seguiremos sem ela por aqui...

Mãe Dala, muito obrigada por seu exemplo de vida, todos os seus ensinamentos, suas poesias, suas canções, suas histórias, as aulas de tricô e crochê, sua paciência infinita, seu sorriso sempre presente, sua maneira única de nunca reclamar de nada e nem de dor, suas receitas deliciosas, as raspas dos bolos na batedeira, os enxovais dos recém-nascidos, os fins de semana alegres com os primos no sítio, os "bom dia", "boa noite", "vai com Deus" e "Deus te abençoe" de todos os dias, o espelho nosso amigo, as novenas do Pai Eterno. Seus olhos lindos que me olharam até hoje com um brilho tão lindo não saem de minha cabeça.

Fecho os olhos e ouço "Deus te abençoe, minha filha".

Deus te abenço, minha mãezinha querida.

Mãe Dala, descansa em paz!

Um dia nos encontraremos e receberei novamente a sua bênção. Sentiremos sua falta, sentiremos muita saudade, não consigo nem imaginar. Mas prometo com todas as minhas forças fazer o que a senhora me pediu.

Por favor, amigos, rezem por ela.

Buscarei forças pra cuidar do Pai Elcio, da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos e do meu marido.

Beijos grandes...

Ranny 

 Samuel de Aquino Xavier e Baldina, avós de Elcio Xavier



Encontro da família Xavier, em Bom Jesus do Itabapoana, entre 1º e 03 de maio de 2014



Mural do Encontro da Família Xavier



5 comentários:

  1. ETERNOS PAIS, NÓS E NOVOS RUMOS
    Homenagem ao Pai Élcio. Rogerio LX

    NOSSA! O TEMPO PASSOU, PARECE QUE FOI ONTEM...
    NOSSOS VELHOS ESTÃO MAIS VELHOS, A VIDA NÃO PAROU.
    CADA DIA FICAM MAIS CRIANÇAS, MEIGOS, LINDOS SÁBIOS.
    MINHA NOSSA! SEUS FILHOS CRESCERAM... NÓS CRESCEMOS.
    NORAS, GENROS, NETOS E BISNETOS SE MISTURAM AO DIA-A-DIA.
    ESTREMEÇO SÓ EM PENSAR... NÃO POSSO DEIXAR DE OLHAR PARA TRÁS.
    SUAS VIVÊNCIAS, MARRAS, GLORIAS, E SUAS LINDAS HISTORIAS.
    SEUS E NOSSOS GRANDES MOMENTOS, ENCANTOS, VITÓRIAS.
    SONHOS VIVIDOS, OBJETIVOS E METAS NEM SEMPRE ALCANÇADAS.
    PORQUE SÓ AGORA ACORDEI E POSSO COMPREENDÊ-LOS MELHOR?
    PORQUE SÓ AGORA AMADURECIDO SINTO UM VAZIO EM MINHA ALMA?
    VIDA, O CICLO NÃO PERDOA, É FATO. FAÇA, NÃO DESPERDICE, VIVA.
    NOVOS VELHOS ESTÃO A CAMINHO, NÓS ESTAMOS CHEGANDO.
    ... E LÁ VÃO ELES SORRIDENTES... NADA IMPEDIRÁ SUAS VIAGENS.
    PARADIGMAS SEM FIM EMBALADOS AOS CAPÍTULOS DA EVOLUÇÃO.
    QUANTOS CONHECIMENTOS E LEGADOS SEGUINDO PARA O ESPAÇO.
    TANTA RAÇA, AMOR, E SUOR. QUANTAS “QUEIMAS DE PESTANAS”.
    ...E SE ALGUM DIA ALGUÉM VIER ME PERGUNTAR SE TUDO VALEU?
    DIREI COM A NATURALIDADE DE UM NOBRE POETA DE OUTRORA.
    VALEU DEMAIS! SUAS MISSÕES FORAM REALIZADAS NOS CONFORMES.
    AOS QUERIDOS E ETERNOS PAIS, A CERTEZA DE UM AMOR MAIOR.

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  2. Parabéns, Elcio Xavier, grande poeta bonjesuense! Muitas felicidades!

    Um grande abraço, Ana Maria Silveira (por e-mail)

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  3. Parabéns! Que o conhecimento de sua história e de suas obras inspirem jovens, hoje tão carentes de referências morais e intelectuais. Elizete Maria da Silva (por e-mail)

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  4. Parabéns! Elcio Xavier, apesar de não sermos apresentados, passei hoje, através de sua história, conhecer um pouco da minha, essa oportunidade que a vida nos dá é gratificante, me chamo Lívia Xavier, neta de Thomaz de Aquino Xavier, e acabei encontrando esta pagina ao jogar o nome do meu bisavô José de Aquino Xavier, enquanto, olhava o seu titulo de eleitor....
    Um grande Abraço

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