domingo, 28 de abril de 2019

Maria Apparecida Dutra e Padre Mello



 MARIA APPARECIDA DUTRA 



Maria Apparecida Viestel, que completará 89 anos de idade em setembro,  é uma das fontes importantes de nossa história. Neta de Pedro Gonçalves da Silva Jr, o primeiro prefeito de Bom Jesus do Itabapoana, por ocasião de nossa primeira emancipação, trouxe revelações importantes sobre Padre Mello. Em 2015, escreveu o seguinte depoimento:


"Fui batizada pelo Pe. Mello em 20 de janeiro de1931 e dele recebi a primeira Eucaristia em 29 de junho de 1941.
De 1941 a 1945, período do antigo primário e ginásio no Colégio Rio Branco, sua presença era constante nas reuniões do Grêmio Estudantil, onde ele, às vezes participava incentivando os alunos, e também sendo homenageado.
Na minha turma de ginásio, quando o professor de latim passava uma tarefa difícil, algumas colegas iram pedir ajuda a ele.
Nas comemorações cívicas do município, ele estava sempre presente, aplaudia e aproveitava para enaltecer a pátria.
Na Farmácia Normal, sua presença era constante para trocar ideias com meu pai, Antônio Dutra, e com os amigos que frequentavam a Farmácia, onde haviam dois bancos confortáveis, em que os 'fregueses' discutiam os assuntos de política e literatura.
Suas pregações eram tão eloquentes que, até hoje, me lembro de sua voz dizendo: 'Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus..."


                                                                                        

Em 2012, ela concedeu entrevista histórica ao jornal O Norte Fluminense, que reproduzimos a seguir.



A MESTRA FORMADORA DE GERAÇÕES

Da Série Entrevistas de O Norte Fluminense




A entrevistada deste mês é a professora Maria Apparecida Dutra Viestel,  que completará  82 anos de idade em  09 de setembro. Neta de Pedro Gonçalves da Silva,  primeiro prefeito de Bom Jesus do Itabapoana - que passou a ser município no dia 24 de novembro de 1890 - ,  foi graças a seu pai, o historiador Antonio de Sousa Dutra, que os originais das edições do primeiro jornal de Bom Jesus, o "Itabapoana", de 1906, chegaram até nós. Pedro Dutra, irmão de Maria Apparecida, deu continuidade à preservação destas relíquias e, posteriormente, acabou doando-as a Luciano Bastos. Hoje, elas se encontram no Museu da Imprensa, localizado no Espaço Cultural Luciano Bastos (ECLB), à disposição de toda a sociedade. Outros jornais, revistas e escritos de Antonio de Sousa Dutra, a quem Luciano Bastos dizia ser um homem além do seu tempo, também se encontram no mencionado Museu.



Maria Apparecida foi sempre portadora de uma bondade e mansidão transformadoras, peculiar das  pessoas santas.  Com 13 anos de idade, já escrevia textos como "ANCHIETA", publicado no jornal "A Voz do Estudante", órgão literário dos alunos do antigo Ginásio Rio Branco.

     
Maria Apparecida foi sempre portadora de uma bondade e mansidão transformadoras, peculiar das  pessoas santas.  Com 13 anos de idade, já escrevia textos como "ANCHIETA", publicado no jornal "A Voz do Estudante", órgão literário dos alunos do antigo Ginásio Rio Branco.


Pode-se dizer, além disso, que Maria Apparecida é uma síntese do que foram o seu avô e seu pai, aglutinando a singular capacidade de liderança com um notável tino de observação dos acontecimentos. Soube passar estas qualidades, como nenhuma outra pessoa, às gerações de alunos que formou em salas de aula ao longo de quatro décadas.

Deixemos, contudo, que Maria Apparecida discorra sobre sua vida:



MARIA APPARECIDA POR ELA MESMA



" Minha vida se confunde com a História de Bom Jesus.

Se tenho algum mérito, devo aos meus antepassados e a inúmeras pessoas desta terra.


ORIGENS

Pelo lado materno, descendo do meu avô Pedro Gonçalves da Silva, que foi o 1o. Intendente de Bom Jesus do Itabapoana. Minha avó, Isabel de Figueiredo, era descendente do alferes Silva Pinto, que foi um dos colonizadores de Bom Jesus.

Pelo lado paterno, meu avô, Joaquim Dutra, era proprietário de uma das primeiras fazendas de Bom Jesus, localizada na zona rural de Quebrados.



Meus pais, Alice Gonçalves da Silva e Antonio de Sousa Dutra, deixaram como herança para mim e para meus irmãos Pedrinho e Lúcia, os ensinamentos para vivermos uma vida de dignidade e de serviço ao próximo.



  

Em 1899, 
Padre Mello fez a
"Consagração 
do Gênero Humano ao
Coração Sacratíssimo 
de Jesus Christo Rei"

(Acervo de Maria Apparecida Dutra Viestel)


A PAIXÃO PELOS LIVROS E OS ESTUDOS


Do meu pai, tanto eu como meus irmãos, herdamos também o amor pela leitura: desde a infância, nossa principal diversão nas férias eram os livros de Monteiro Lobato e de Malba Tahan.

Eu e meu irmão Pedrinho  fizemos o curso primário na Escola da grande educadora Amália Teixeira, nos idos de 1930. Recordo-me dos professores Alice Moreira e Nenci Castro, filha de Abílio Castro. Na época, havia também a Escola da dona Nair Melo, que funcionava no bairro Volta d’Areia.  Na década de 1940, enfrentamos o rigoroso exame de admissão no Colégio Rio Branco, cujas provas tinham como modelo aquelas que eram aplicadas no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. O inspetor era o dr. Abelardo Vasconcelos, médico que clinicava em Bom Jesus e o diretor era o sr. Olívio Bastos.

Na adolescência, tive grande influência das "Leituras Católicas de São João Bosco". Eram livros e revistas que recebíamos de Colégio Salesiano de Niterói, onde meu irmão Pedrinho estudava; por isso, mais tarde, ele dizia que eu devia a ele minha predileção pelas leituras religiosas; esta dívida tenho também pela grande educadora Adélia Bifano, que foi, além de professora, quem preparava os jovens para ingressar nas associações da Igreja. Adélia chegou a passar para o vestibular de Medicina no Rio de Janeiro, em 1930. Ocorre que o marido de sua irmã, Bárbara, falecera, e ela preferiu ficar em Bom Jesus para apoiar a irmã.  Por outro lado, com tábuas cedidas por seu irmão, o pai de Adélia, que era pedreiro, construiu alguns bancos e Adélia acabou criando sua escola. Este é um exemplo de vida para quem começa do nada.


BACHARÉIS DE 1945
HomenageadosRozendo M. de Azevedo,  Dr. Francisco Baptista, Halley Jansen, Lenita São José, José de Oliveira Borges, Dr. Colombino Siqueira (Inspetor), Stella Aguiar, Dr. Benjamin Haman, Humberto Cappai, Alfredo Silva 

FormandosMaria da Penha da Silva, Maria Apparecida Gonçalves Dutra, Maria Alves Pereira, D. Maria do Carmo Baptista de Oliveira (Diretora) Dr. Deusdedit de Rezende (Paraninfo), Olívio Bastos (Diretor),  Pedro Gonçalves Dutra, Nilton Matos da Silva, Ediberto Rezendo Dutra

Maria Sylvia Maia Costa, Maria da Coneição Fragoso de Oliveira, Teresinha Moreira Megre, Wilma Nacif, Maria da Penha, Lair Junger, Walter Oliveira, Adeil Pedrosa Leandro, Carlos Borges Garcia, Washington C. de Oliveira 

Cristina T. Pontes, Josette Helena Costa, Alíria Tinoco Matias, Nair Borges Barbosa, Georgina Mello Teixeira, Aliozete Batista Poubel, Geraldo Batista, Antonio Carlos Menezes, Gabriiel da Fonseca, José Nahim.




Em 1945, terminamos o curso ginasial no Colégio Rio Branco, com uma solene formatura, da qual foi paraninfo o Dr. Deusdedit Tinoco de Rezende, insigne professor de Geografia Geral e do Brasil. O orador foi o aluno Pedro Gonçalves Dutra.

Em 1953, terminamos, eu e minha irmã, Lúcia Gonçalves Dutra, o curso de formação de professores no Colégio Rio Branco, onde era diretora Dona Maria do Carmo Batista de Oliveira, mais conhecida como Dona Carmita. Os métodos por ela adotados, tanto na direção com em sala de aula, na disciplina e aprendizagem de História, que ela lecionava, hoje seriam desaprovados, no entanto, deixaram bons resultados.


TURMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO COLÉGIO RIO BRANCO em 1953.Terezinha Mansur, Maria Apparecida, Maria Stela, Maria José Borges, Célia Machado, Neusa Siqueira, Luísa Seródio, Dulce Pedrosa, Arieth Taliuli, Mariazinha Ferolla, Juracy de Aguiar-sobrinha de Octacílio de Aquino- Laura Silveira, Amélia Salim, Lúcia Gonçalves Dutra, Terezinha Chalhoub, Aline Borges Campos, Maria da Penha Freitas, Otália Boechat e Sirley Loureiro. Sentada: Dona Carmita


Como prova destes resultados, foi a preferência que tivemos, eu e Pedrinho, ao escolhermos, na Faculdade, o curso de Estudos Sociais.

O MAGISTÉRIO, OS FILHOS E OS NETOS


Durante 4 décadas exerci o magistério, procurando transmitir aos alunos não só os ensinamentos curriculares, mas também os princípios para uma vida digna.

É gratificante quando encontro com um ex-aluno e ele se recorda principalmente dos conselhos para agir corretamente. Estes mesmo exemplos alegro-me de ter passado aos filhos, aos sobrinhos e aos netos, que procuram cumpri-los, cada um em sua vocação.

Meus filhos são:
Miguel Ângelo, bancário aposentado, é professor de Biologia. Maria Alice é professora de Educação Musical e Artística. Maria Adelaide é farmacêutica e divulga a cultura brasileira na Dinamarca. Marco Antônio exerce a profissão de bancário no Centro Cultural do Banco do brasil. Maria Angélica é veterinária da UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense).

Os netos Henrique e Bernardo são universitários. As netas Alice, Raquel e Luísa são estudantes.

Ao completar 80 anos de vida, sente-se o desejo de dizer: missão cumprida! Porém, há o apelo das amigas, dos jovens que nos procuram, incentivando a fazer algo mais.

Naquela data natalícia - 09/09/2010 - recebi dos sobrinhos mais um incentivo, na mensagem escrita e enviada por Luísa, Kenneth e André:


AOS 80 ANOS DA TIA APPARECIDA


É uma grande alegria pdoer comemorar este aniversário! São vários os motivos desta alegria. O mais egoísta dele é a esperança de também chegarmos lá. Outro, não menos egoísta, é contar com uma pessoa especial para torcer, rezar, zelar por nós. É muito bom saber que ela está aí.
 

Além do mais, quem vai lebrar da história? Para quem podemos ligar e perguntar sobre coisas passadas e presentes? Quem tem tempo para ouvir e procurar saber? A quem procuramos quando precisamos lembrar de alguma coisa? E, mais que tudo, quem faz isso com dedicação e afeto?
 

Muitos de nós queríamos fazer uma super-festa, mas respeitamos o desejo de tranquilidade e sossego da aniversariante. Festejamos, então, nos nossos corações.
 

Saúde e muitos anos de vida!!
 

Feliz aniversário!
 

Luísa,
 

Kenneth
 

André
 "







A RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA  GONÇALVES DA SILVA


 
1822 - A colonização e o povoamento de Bom Jesus, pelos mineiros, começaram nas terras onde cultivavam o café.



1850 - Construção de casas para residência no "povoado" - freguesia da Comarca de Campos dos Goytacazes.




        Pedro Gonçalves da Silva, o 1o. Intendente de Bom Jesus do Itabapoana


1880 - Pedro Gonçalves da Silva, farmacêutico, vindo de Campos a convite do deputado Dr. Leônidas Peixoto Abreu Lima, estabelece-se em Bom Jesus. Pedro Gonçalves da Silva compra do sr. Modesto Andrade Camargo a "Farmácia Normal" e a casa ao lado, de outro proprietário.



  O sobrado de Pedro Gonçalves da Silva e a Farmácia Normal


1921 - A residência de Pedro Gonçalves da Silva, ao lado da Farmácia, passa a ser sobrado, em estilo colonial, em cuja fachada ainda constam a data da reforma e as iniciais PGS.



  
    
O sobrado e a fachada, destacando-se: 1921 e PGS



1925: Praça Governador Portela
                                    

            Praça Governador Portela em 1925


1960 a 2006 - A residência passou a pertencer à família de Pedro Gonçalves Dutra, neto de Pedro Gonçalves da Silva. Atualmente, o prédio pertence à senhora Márcia Mascarenhas Soares. Na parte térrea localiza-se um consultório médico e uma
barbearia.


  A residência do 1o. Intendente de Bom Jesus foi vendida


Vista parcial da praça Governador Portela, a partir da sacada da residência.
 

Os familiares de Pedro Gonçalves da Silva levaram consigo fotografias e recordações


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