quarta-feira, 24 de abril de 2019

Os 95 anos de Maria Isabel Fragoso de Oliveira






Maria Isabel Fragoso de Oliveira festeja, amanhã, junto de parentes e  amigos, 95 anos de idade. 

Juntamente com os irmãos Maria da Conceição, Sílvia, Maria Isabel e Norma, constituem referência moral para nossa comunidade. Os irmãos Geraldo e Renato são falecidos.

É filha de Antônio Tinoco de Oliveira, presidente da 1ª Câmara de Vereadores estabelecida no dia 4 de outubro de 1947, no período de nossa segunda emancipação.

Quando jovem, estudou, com Roberto Silveira, na Escola Bom Jesus, de Amália Teixeira.

Em 25/10/1952, já revelava todo o seu talento ao alcançar o 7º lugar no Torneio Cultural organizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, representando o Colégio Rio Branco, o que levou Bom Jesus a ficar à frente de municípios como Campos dos Goytacazes, Barra Mansa, Nova Friburgo e São Gonçalo, entre outros. 

Dirigiu peças de teatro infantil. 

Posteriormente,  foi mestra,por cerca de 25 anos, no Grupo Escolar Pereira Passos. No Colégio Zélia Gisner, lecionou Psicologia, História, Geografia do Estado do Rio de Janeiro e Elementos de Economia Política. 

Foi professora de 1ª Eucaristia na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, por 20 anos, e uma das fundadoras da Legião de Maria e presidenta da Pia União das Filhas de Maria, entre 1958 a 1960.
  
Na década de 1960, integrou o Clube de Professores, organizado por Clésia Faria Diniz, que chegou a ser Secretária de Educação no governo de Badger Silveira.  

Em 7 de outubro de 1967, seu pai e toda a família receberam a bênção apostólica do Papa Paulo VI.

Exerceu o cargo de Chefe da Inspetoria Estadual de Ensino em nosso município, tendo sido a 1ª mulher inscrita na OAB-RJ em Bom Jesus do Itabapoana.

É oblata do Mosteiro de São Bento, há 21 anos, com o nome de Maria Isabel Paula.  

Oradora erudita e talentosa, sempre era convidada para saudar autoridades que compareciam em Bom Jesus. 




 Maria Isabel Tinoco de Oliveira concedeu depoimento histórico ao O NORTE FLUMINENSE, que republicamos a seguir. 


OS ESTUDOS
  

Maria Isabel estudou na Escola Bom Jesus, da professora Amália Teixeira


Segundo Maria Isabel, "estudei na Escola Bom Jesus, de Amália Teixeira, juntamente com Roberto Silveira, que era interno do educandário, uma vez que seus pais residiam na zona rural. Ali tive as seguintes professoras: Odete Tavares Borges, que dava aulas de desenho e trabalhos manuais; Alice Moreira, que tinha estabelecido uma escola de datilografia; Nenci Borges de Castro; após minha saída da escola, sei que foi professora na escola Maria Ludovina Soares. Dona Regina, mãe de Amália, ajudava nas lições aos alunos. 

Professora Amália Teixeira, diretora da Escola Bom Jesus


Estudei no Internato Santa Marcelina, em Muriaé (MG), onde me inscrevi no curso Propedêutico, preparatório para o Curso Normal. Retornei a Bom Jesus do Itabapoana, onde cursei a Escola de Comércio do Colégio Rio Branco. 

Maria Isabel na Escola de Comércio do Colégio Rio Branco





Em 1959, formei-me em Direito pela UFF (Universidade Federal Fluminense), turma Clóvis Bevilaqua. Comigo, formaram-se, também, os bonjesuenses Tito Lívio Seródio e Dalton de Oliveira Almeida. 


Fui professora do Grupo Escolar Pereira Passos por 25 anos, até me aposentar. Fui, também, professora de 1ª Eucaristia, na Igreja Matriz Senhor Bom Jesus, entre 1948 e 1975. 

Maria Isabel e seus alunos do Grupo Escolar Pereira Passos


Na década de 1960, integrei o Clube dos Professores, criado por Clésia Faria Diniz, que chegou a ser Secretária de Educação, no governo de Badger Silveira. O Clube era integrado por cerca de 18 professoras que realizavam viagens culturais a diversas regiões. Uma das viagens marcantes foi para Minas Gerais. Eu costumava   compor paródias e, na ocasião, fiz uma intitulada "Salve Minas, orgulho do povo brasileiro", sobre uma música de carnaval de Pernambuco. A paródia fez muito sucesso no grupo e nas pessoas que a ouviam. A letra era a seguinte:

Iremos às Alterosas
Ver Belo Horizonte
Ouro Preto visitar.
Em Nova Lima
Nós veremos Morro Velho
E o minério
Na antiga Sabará.

A nossa excursão é educacional
E também recreativa
Das artes nós queremos visitar
As obras de Aleijadinho.

Salve, salve, salve Minas!
Tu és o coração
De ouro a palpitar
Orgulho do povo brasileiro! 


Antônio Tinoco de Oliveira e Izabel Fragoso de Oliveira, os pais de Maria Isabel


Papai  foi o primeiro presidente da Câmara dos Vereadores de Bom Jesus do Itabapoana, após as eleições democráticas de 1947. Ele estabeleceu a Casa Tinoco, loja que, nas décadas de 1920 e 1930, vendia linho belga, casemira inglesa, canivete alemão roger, tesoura alemã solinger, entre outros itens. Era, na verdade, um empório, onde se vendia também bacias e urinol. No chão da loja, havia um alçapão,  que era aberto levantando-se duas tábuas, onde se guardavam os fumos de rolo.  Meu pai costumava acolher fregueses com problemas e dar orientações para eles.

No início, a nossa casa era ligada à loja. Posteriormente, contudo, meu pai fechou a porta de acesso entre ambas.  

Pessoas que realizavam funerais costumavam comprar da loja de meu pai tecidos para forrar os caixões, após medirem os falecidos. Adquiriam também galões (fitas). Essas pessoas faziam caixões, tomando as medidas dos falecidos e forravam com o pano comprado na loja de meu pai. O funeral de "seu" Pedroca foi realizado com tecidos e galões adquiridos na Casa Tinoco.

Casa Tinoco, na década de 1930


Papai alugava animais para viajantes. Ele tinha, geralmente, cerca de três animais. Um deles se chamava Calçadinha. Marchava bem, embora fosse coiceira. Na época, era costume o padeiro passar e deixar os pães nas janelas. Certa vez, Calçadinha comeu o pão de várias casas. Os proprietários foram reclamar com  meu pai. Mamãe contava que, certa vez, viu meu pai acariciando a cara de Calçadinha e dizendo o seguinte: 'Obrigado, Calçadinha. Você ajuda a dar o pão aos meus filhos".



O lugar de passeio de mamãe e dos filhos era a loja, dentro da qual, costumávamos mexer em tudo, o que fazia com que meu pai, às vezes, ficasse aborrecido com a algazarra. Haviam sabonetes das marcas Lever e Eucalol, que costumavam enviar figurinhas de bandeiras de países, com os nomes dos mesmos e respectivas capitais. Nós abríamos as caixas e pegávamos as figurinhas. Em certa ocasião, os sabonetes passaram a trazer fotos dos artistas dos EUA. Nós ficávamos maravilhados e pegávamos também essas figurinhas. 

Como a rua não era calçada, todo o dia, pela manhã, meu pai salpicava água na loja, com vidro e rolha furada. Depois,  varria-se o chão. Dario Vieira Borges chegou a ser sócio de meu pai. Como meu pai comprou sítios, passou a dedicar-se à atividade rural. Assim, fechou a loja, desfazendo a sociedade. Dario acabou fundando, em seguida, A Social. 

Maria Isabel e uma das salas de sua residência


Papai lutou pela 2ª emancipação de Bom Jesus, reunindo-se com líderes políticos. Certa vez, na estância da água mineral Avahy, em Itaperuna, reuniu-se com Boanerges Borges da Silveira e Antônio Dutra, para tratar de nossa emancipação. 

Amaral Peixoto vinha, às vezes, à minha casa. Meu pai era amigo e primo de Zezé Borges e nossa casa era mais central para promover a recepção. Celso Loureiro, meu cunhado, costumava preparar um coquetel especial para a comitiva.


Bom Jesus era uma cidade simples, mas tinha seus encantos. Minha tia Maria José e Malvino Rangel, que trabalhava na Coletoria, residiram no palacete que, depois, foi adquirido pelo estado, e funcionou como sede do Poder Judiciário, por um certo período. Foi ali que foi recepcionado Getúlio Vargas Filho que, aliás, se hospedou na casa onde  mora atualmente  Wilson Carrereth. Alzira Vargas, a outra filha de Getúlio Vargas, esposa de Amaral Peixoto, também costumava vir a Bom Jesus, em decorrência da amizade de Amaral Peixoto com Zezé Borges, que foi prefeito e deputado.

Em relação a Padre Mello, sei que ele sofreu muito com a doença que teve, mas nunca reclamou de nada. Ele faleceu resignado, desprendido, humilde e pobre.




A LIÇÃO MAIOR


Nossa casa é meio conventual. Ainda hoje mantemos o oratório que minha mãe possuía em seu quarto.Aprendemos a levar uma vida simples. Uma de minhas satisfações é ver que, até hoje, ex-alunos me encontram  e dizem 'minha eterna professora'. Aliás, uma de minhas alunas, certa vez, presenteou-me com um anjinho. Ela disse: 'É um anjo para meu anjo protetor'.

O presente de uma aluna: "Um anjo para meu anjo protetor"

 Carrego comigo um lema: amar muito, para viver feliz.Posso dizer que sou uma pessoa feliz, porque amo muito as pessoas, por amor a Deus". 


Maria Isabel e o oratório de sua mãe: "sou feliz porque amo muito as pessoas, por amor a Deus"



O Norte Fluminense parabeniza Maria Isabel, desejando-lhe muitos anos de vida!

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