sábado, 25 de julho de 2020

A Batalha da Salga na ilha Terceira

JP | EFEMÉRIDE



Há exatos 439 anos, a 25 de julho de 1581, desenrolava-se, na Terceira, a Batalha da Salga, um momento da História local, em que a população e o gado tiveram um papel essencial na defesa da Ilha, do arquipélago e até de Portugal.
Quando D. Sebastião morreu em 1578, em Alcácer Quibir, sucedeu-lhe o seu parente mais próximo, neste caso, o tio-avô Cardeal D. Henrique, já idoso, que morreu, em 1580, sem herdeiros diretos, abrindo, assim, uma crise de sucessão. Houve 3 principais herdeiros, D. Catarina, D. Filipe II de Espanha e D. António, Prior do Crato. Este último foi aclamado rei em Santarém, contra a vontade da Alta Nobreza, apoiante de D. Filipe II. Para este, Portugal era um reino muito importante para a estratégia do Império Espanhol. D. Filipe II acabou então por enviar o seu exército, que mais bem preparado venceu os apoiantes de D. António. O Prior do Crato acabou por refugiar-se na Terceira, o único ponto do país que ficou do seu lado. D. Violante do Canto, que herdara uma grande fortuna em 1577, apoiou a causa de D. António, sustentando as tropas anglo-francesas estacionadas na ilha. A Terceira passou a ser, então, alvo das atenções espanholas.
Neste momento, a História e a Lenda se misturam, sendo a realidade dos factos difíceis de decifrar, mas vamos tentar separar a realidade do mito. A 25 de julho de 1581, uma esquadra espanhola comandada por Pedro de Valdés, tentou a conquista da ilha açoriana. A esquadra castelhana, que era composta por 10 navios, 8 dos quais galeões de alto bordo, com 1 000 homens de guerra.
As tropas espanholas ao desembarcarem, começaram logo a incendiar as searas e as casas existentes nas imediações, ocupando a Casa da Salga, hasteando a sua bandeira, e muito provavelmente a casa de Brianda Pereira, aprisionando os homens que encontraram. Entre os prisioneiros figurava Bartolomeu Lourenço, que se encontraria ferido, marido de Brianda. Esta, em sentimento de revolta e de defesa, incentivou como podia, cheia de força e garra, os terceirenses a lutarem e pegou no que tinha à mão e também foi para os combates
Como a batalha endureceu, pelas nove horas da manhã os combates eram fortes, varrendo os espanhóis a costa com a sua artilharia, o que, dificultava a tarefa dos defensores. Cerca do meio-dia, estando a batalha indecisa, o religioso agostinho Frei Pedra, que participava ativamente na luta, teve a ideia de, como estratagema, dirigir gado bravo para as posições espanholas e assim desbarata-las. Rapidamente foi reunido mais de um milhar de bovinos, que, à força de gritos e tiros de mosquete, se lançaram sobre o inimigo. Isso levou os espanhóis a recuarem e deu tempo aos terceirenses para se reagruparem e preparem nova defesa da Ilha. Centenas de castelhanos morreram nos combates ou afogados na fuga do gado bravo. Diz-se que não mais 50 espanhóis voltaram para os navios, enquanto nos locais, foram poucas as dezenas de mortos. Foi uma humilhante derrota para as tropas de Filipe II de Espanha. Brianda Pereira incentivou até ao desfecho da Batalha da Salga para que os homens e as mulheres lutassem até ao fim. Brianda Pereira virou a nova heroína dos portugueses contra os espanhóis, muito ao gosto do que foi a Padeira de Aljubarrota, em 1385. A bandeira castelhana foi arriada e a Casa da Salga foi novamente controlada pelos seus proprietários. Participaram na Batalha dois ilustres escritores espanhóis, Miguel de Cervantes, autor de D. Quixote de la Mancha, e Lope de Vega, sobrevivendo ambos.
A Batalha da Salga permitiu o reanimar das tropas terceirenses e o fortalecimento da sua posição contra o Rei espanhol. Assim, nos 2 anos seguintes, o povo terceirense não desistiu de lutar. Data deste período, mais precisamente de 13 de fevereiro de 1582, a famosa carta de Ciprião de Figueiredo, corregedor dos Açores, a Filipe II, onde afirmava: “antes morrer livres que em paz sujeitos”, hoje a divisa dos Açores.
Os terceirenses bateram-se como defensores de Portugal. Só em 1583 a Terceira foi subjugada pelos espanhóis, comandados por D. Álvaro de Bazán, no conhecido Desembarque da Baía das Mós. Os terceirenses foram severamente castigados, alguns registos falam que 60% da população foi massacrada. Apesar dessa situação, Angra continuava a ser um ponto essencial. Assim, por proposta do próprio Bazán, após analisar a linha de Fortes da Ilha, D. Filipe II mandou erigir um grande castelo no Monte Brasil, Nascia assim, a maior fortaleza filipina do mundo, chamada na época de Castelo de S. Filipe, hoje São João Batista.
D. Violante, por ordem de D. Filipe II, partiu a 17 de agosto de 1583 com D. Álvaro de Bazán, rumo a Madrid. À hora do embarque, D. Violante dirigiu-se para o lugar da Prainha, acompanhada por duas damas, cinco aias e vinte e um criados entre outros escudeiros, sendo ali esperada pelas principais autoridades de Angra, num estrado alcatifado e construído de propósito para o embarque. Ao pôr D. Violante o pé na escada do navio ouviu-se uma salva dada pela nau, acompanhada por todos os navios da armada. Em Espanha, D. Violante foi encerrada em dois mosteiros, em Cadiz e Jaem e posteriormente obrigada a casar a 1 de abril de 1585 com Simão de Sousa de Távora, voltando a Portugal.
Francisco Miguel Nogueira

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Enviado por Antonio Soares Borges

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