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| Pedro Gonçalves da Silva Junior, o Cel. Pedroca |
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| José de Oliveira Borges, o Zezé Borges |
Em cada cidade há nomes que se inscrevem não apenas nos livros, mas na alma do lugar. Em Bom Jesus do Itabapoana, duas figuras se erguem como pilares de suas duas emancipações políticas: Pedro Gonçalves da Silva Jr., protagonista da autonomia de 1890, e José de Oliveira Borges, condutor da emancipação definitiva em 1939.
Neles se entrelaçam história e destino, como se o município tivesse escolhido seus próprios artífices.
No próximo 25 de dezembro, Bom Jesus comemora 135 anos de sua primeira emancipação; e, em 1º de janeiro de 2026, celebra 87 anos da segunda. Datas que se sobrepõem como páginas de um mesmo livro, páginas escritas com coragem, trabalho e singular devoção à terra.
Pedro Gonçalves da Silva Jr.: o formador de uma alma municipal
Nascido em Campos dos Goytacazes em 27 de março de 1860, Pedro Gonçalves da Silva Jr., o conhecido Coronel Pedroca, trazia a juventude inquieta de seus vinte anos quando chegou a Bom Jesus, em 1880. Trouxe consigo livros, ideias e o desejo de empreender, herança de um pai que não viveu para ver a trajetória que o filho construiria.
Recebido por laços de amizade entre famílias, foi convidado pelo médico Leônidas Peixoto de Abreu Lima a estabelecer-se na então povoação. Comprou a Farmácia Normal, instalou residência e, sem saber, dava início a um legado que ultrapassaria a função de farmacêutico.
A amizade com o dr. Abreu Lima foi ponte para o marco histórico de 25 de dezembro de 1890, quando Bom Jesus conquistou sua primeira emancipação, concedida pelo governador Francisco Portela. O Cel. Pedroca foi nomeado presidente da Intendência, cargo equivalente ao atual prefeito, e tornou-se o primeiro administrador municipal.
Mesmo após o fim da autonomia, em 1892, não abandonou sua influência. Escolheu permanecer como liderança moral e cultural da cidade. Em 1906, trouxe Sylvio Fontoura de Campos para fundar o jornal Itabapoana, veículo que carregava no nome a reivindicação de uma nova emancipação, pela qual Pedroca lutou até seus últimos dias, embora não tenha vivido para testemunhá-la.
Seu empenho não se restringiu à política. Incentivou a criação do Centro Operário, uma biblioteca e um grupo de teatro; trouxe o primeiro cinema, o Cine Bom Jesus, acompanhado de uma pianola que emocionava plateias nos tempos do cinema mudo. Trouxe também cultura, arte, professores, e um olhar diferenciado para a formação social da cidade.
Foi responsável pela instalação do Grupo Escolar Pereira Passos e viu sua própria filha contribuir com a educação local ao fundar uma escola na atual rua que leva o nome da família. Atuou como médico quando não havia outro, assinava revistas especializadas e era consultado com confiança por inúmeros moradores.
Sua casa, erguida sobre uma das primeiras residências da cidade, transformou-se em um sobrado concluído em 1921, marco arquitetônico e símbolo de permanência.
Mais que o primeiro prefeito, Pedro Gonçalves da Silva Jr. foi um dos formadores da identidade bonjesuense, moldando hábitos, visões e sonhos. Seu nome e o do dr. Abreu Lima permanecem como raízes profundas da cidade.
José de Oliveira Borges: a força pública de um construtor
Quase meio século depois, outro nome se ergueria para conduzir Bom Jesus à emancipação definitiva: José de Oliveira Borges, nascido em 13 de novembro de 1895, em Barra do Pirapetinga.
Filho de Francisco Borges Sobrinho e Maria Severina Borges, cresceu entre roças e escolas modestas, até que, adolescente, já demonstrava vocação para a vida pública. Foi 1º secretário do Centro Operário, entidade fundada pelo próprio Pedroca, como se a história o preparasse desde cedo para herdar uma missão maior.
Casou-se com Maria Moraes Ferreira em 1917, união que durou 65 anos e frutificou em extensa descendência, construída junto ao trabalho e ao serviço público.
Em 1922, elegeu-se vereador de Itaperuna, mas a Revolução de 1930 interrompeu sua ascensão, mantendo-o fora de cargos públicos até 1939. No entanto, o destino lhe aguardava uma função singular.
Com o Decreto nº 633, de 14 de dezembro de 1938, Bom Jesus do Itabapoana foi recriado como município. E, em 1º de janeiro de 1939, José de Oliveira Borges tomou posse como primeiro prefeito da emancipação definitiva, permanecendo até 1946.
A partir daí, construiu uma carreira marcada por atuações sucessivas:
. deputado estadual constituinte de 1947;
. vice-presidente da Assembleia Legislativa;
. prefeito eleito em 1954;
. vereador em diversas legislaturas;
. fundador de clubes, associações e instituições municipais.
Em cada etapa, imprimiu firmeza, visão administrativa e uma dedicação que ultrapassava o ofício e se aproximava do sacerdócio público.
De sua gestão nasceram estradas, o início do calçamento urbano, o terreno do Bairro Novo, o prédio onde hoje funciona a Prefeitura, o muro do Cemitério e a aquisição da Usina Elétrica de Rosal. Ergueu estruturas, inaugurou políticas, lançou fundamentos.
Faleceu em 16 de julho de 1982, deixando, mais que obras, um modo de servir.
A herma inaugurada em 1975 permanece como testemunho de sua fibra, memória material de um homem cuja vida pública foi inteiramente dedicada ao povo.
Duas histórias, um só destino
Pedroca e José Borges não se conheceram, mas caminham lado a lado na memória de Bom Jesus.
Um edificou os alicerces políticos e culturais; o outro consolidou a autonomia e ergueu a máquina administrativa.
São heróis de tempos distintos, unidos por um destino comum: construir a grandeza de um município e de seu povo.
E, a cada 25 de dezembro e 1º de janeiro, quando as datas se aproximam como versos de um mesmo poema, Bom Jesus do Itabapoana relembra que sua história é feita de coragem, e de homens que souberam transformá-la em realidade.


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