Há cidades que respiram pelas janelas antigas; outras, como Bom Jesus do Norte, respiram pela música que lhes atravessa as ruas. E, num dia que cheirava a história, a Câmara de Vereadores decidiu não apenas abrir suas portas, abriu também seus ouvidos.
Entraram, serenos e cheios de passado, Eliton de Souza Polverini, conhevido como Eto e Muchacho, o Maestro Nilo Rodrigues, músicos da Lira Operária Bonjesuense, essa velha senhora sonora que há décadas rege o coração da comunidade. Não traziam medalhas no peito, mas traziam no olhar o brilho de quem já ensinou muitos a não desafinar diante da vida.
O Voto de Aplauso, naquele instante, era mais que um gesto político: era uma pausa na pressa do mundo. Um reconhecimento que se escrevia no ar, como se a sala fosse pauta e o vento, regente. Porque homenagear músicos é também homenagear o silêncio, aquele que só existe para que a nota nasça.
Eto, com seu jeito de quem conversa com instrumentos como com velhos amigos, e o Maestro Nilo, cuja batuta parece fazer brotar primavera onde toca, receberam as palavras da Câmara como quem recebe um abraço de mãos dadas: firme, bonito e cheio de sentido.
A Lira, lá fora, parecia ouvir. Quem sabe até afinava as cordas sozinha, orgulhosa dos filhos que carrega desde sempre? Porque quando dois músicos são celebrados, não é apenas a trajetória deles que se ilumina, é toda uma cidade que se recorda de que cultura não é luxo, é raiz.
E assim, no meio de palmas e memórias, Bom Jesus do Norte descobriu que certos aplausos ecoam mais longe que uma sessão legislativa. Ecoam na vida. Ecoam no futuro. Ecoam, sobretudo, no coração de quem entende que música é a mais democrática das homenagens: todos podem ouvir, todos podem sentir.
E naquele dia, a cidade inteira parecia cantar.


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