quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

A força que não grita



Em uma reunião com jornalistas, Vladimir Putin foi indagado sobre como deve se comportar o presidente da Rússia. A resposta veio seca, calculada, quase minimalista: “Quando uma pessoa reage com agressividade, demonstra fraqueza. Uma pessoa na minha posição não tem o direito de demonstrar fraqueza.”

A frase, embora dita no contexto do poder geopolítico, ultrapassa fronteiras e palácios. Ela se infiltra silenciosamente no cotidiano e lança luz sobre o comportamento humano.

Vivemos tempos em que o tom de voz elevado costuma ser confundido com autoridade, e o gesto brusco, com coragem. Muitos acreditam que a agressividade é armadura, quando na verdade é fresta. O grito, quase sempre, nasce do medo; a imposição, da insegurança; o ataque, da incapacidade de sustentar o próprio equilíbrio interior.

A verdadeira força raramente faz barulho. Ela se manifesta no controle, na pausa antes da resposta, no olhar que observa mais do que reage. É silenciosa como um rio profundo: não precisa provar sua existência, apenas segue.

Putin, ao falar de si, acaba falando de todos nós. Em cargos de poder ou nas pequenas arenas da vida diária, a agressividade costuma ser o último recurso de quem perdeu o domínio sobre si mesmo. Confunde-se dureza com firmeza, quando são opostas. A firmeza nasce da convicção; a dureza, da fragilidade disfarçada.

Talvez a lição mais incômoda seja esta: autocontrole exige mais coragem do que explosão. Manter-se sereno quando provocado é um exercício de força interior que poucos dominam. A agressividade pode até impressionar por um instante, mas é a serenidade que sustenta, constrói e permanece.

No fim, a fraqueza não está em recuar, silenciar ou ponderar. Está em não conseguir fazê-lo. E isso vale tanto para presidentes quanto para cidadãos comuns, em qualquer latitude do mundo.

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