terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000)


Lincoln Penna[1]


            Fez um quarto de século neste ano de 2025 que a imprensa brasileira perdeu um de seus mais brilhantes cronistas, Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, cuja vida não esteve apenas nas lides do jornalismo opinativo. Escritor e historiador, foi membro da Academia Brasileira de Letras, presidiu a Associação Brasileira de Imprensa por duas vezes, e se notabilizou por ter sido um grande defensor da soberania nacional, além de um democrata defensor das liberdades.

            Nascido em 22 de janeiro de 1897, em Recife, Pernambuco. Seu pai, Francisco Cintra Lima, era tabelião e sua mãe Joana de Jesus Cintra Barbosa Lima, compunham uma família clássica de classe média. No ano de seu nascimento ocorreria em novembro o famoso atentado à vida do presidente Prudente de Moraes. Dentre os seus autores intelectuais que se opunham ao presidente encontrava-se o seu tio, contrário a ascensão da oligarquia e ardoroso florianista. Desse tio herdou o nome e o sobrenome. Assistiria em sua pré-adolescência à emergência da oligarquia paulista, e mais adiante, a conhecida aliança café com leite, ou seja, a aliança de São Paulo com Minas Gerais. Ainda adolescendo, em 1911, daria início às atividades literárias no jornalismo da escola ao colaborar com o seu jornal A Verdade.

             Aos dezesseis anos matriculara-se na Faculdade de Direito de Recife, colando grau em 1817, então com apenas 20 anos de idade. O curso de Ciências Jurídicas e Sociais era um dos mais respeitados do Nordeste. Lá adquiriria erudição e conhecimento jurídico a cargo de docentes de sólida formação. Com isso não tardaria a desempenhar cargos públicos, como o de promotor de Recife, sem, contudo, deixar de lado a sua paixão pelo jornalismo.

             Escreveu ainda em vários jornais, tendo assinado artigos para a Gazeta, de São Paulo, para o Correio do Povo, de Porto Alegre, e a Revista Americana, na Revista de Direito, além do Jornal do Comércio, todos do Rio de Janeiro. E não demoraria muito, e Barbosa Lima Sobrinho iria mudar-se em definitivo para a então capital da República, no ano de 1921, quando contava com 24 anos. Moço e já inteiramente voltado para o jornalismo, iniciaria a sua longa colaboração com o Jornal do Brasil, no qual ocuparia vários cargos dentro desta empresa jornalística, culminando com a assinatura da primorosa coluna “Coisas da Política”.

            Após a Revolução Liberal de 1930, da qual foi um dos primeiros intérpretes ao descrevê-la em seu livro A Revolução de Outubro, nas eleições de 1934 foi eleito Deputado Federal pela legenda do Partido Social Democrático (PSD), e chegou a liderança deste partido. Mas, com o golpe do Estado Novo de 10 de novembro de 1937, que instituiu um regime ditatorial, Barbosa Lima Sobrinho é forçado a se afastar das lides políticas. É, neste mesmo ano de 1934, eleito para a Academia Brasileira de Letras. Nesta entidade passa a conviver com intelectuais sobressaindo-se entre eles.

             Sua devoção democrática o levaria a integrar um amplo movimento em defesa das liberdades democráticas durante os anos da ditadura militar pós-64. Chegou a candidatar-se na chamada anticandidatura juntamente com o deputado Ulysses Guimaraes, um dos líderes do MDB, partido da oposição ao regime.

            Já idoso participou da luta contra a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que resultou privatizada eliminando o arcabouço que ao longo das décadas de 1930 e 1950 tinha sido constituído pela CSN, a Petrobras e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, posteriormente acrescido do Social, passando a denominar-se BNDES.

            Barbosa Lima Sobrinho viveu toda a extensão do século XX e deixou um legado, que consiste na defesa intransigente da justiça social, razão pela qual repetia sempre a sua frase mais estimada: o pressuposto da democracia é a igualdade.


[1] Historiador e Jornalista

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