quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Os dirigentes do Hospital e os Inspetores dos Cemitérios

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Cemitério da Serra do Tardin: em 1891, o Inspetor recusou-se a prestar contas dos valores recebidos

Quando Bom Jesus do Itabapoana se emancipou pela primeira vez, em 25 de dezembro de 1890, foram nomeados Inspetores de Cemitérios.

Quatro cemitérios existiam no primeiro distrito: na Serra do Tardin, no povoado, na fazenda dos herdeiros de Jacob Furtado Mendonça e outro na Fazenda de João Pedro Lengruber. 

Um quinto cemitério estava localizado em Santo Antônio do Itabapoana, atual distrito de Calheiros.

Por ocasião da sessão do Conselho de Intendência, ocorrida no dia primeiro de abril de 1891, foi lido ofício do Inspetor dos Cemitérios Antonio José dos Santos Lisboa informando que os Inspetores dos Cemitérios Particulares "não só não lhe prestam contas das metades dos emolumentos a que têm direito, dos enterramentos, como também não remetem às respectivas certidões".

Cerca de 127 anos após a recusa dos Inspetores de Cemitérios prestarem contas dos valores recebidos, os Dirigentes do Hospital São Vicente de Paulo recusam a prestar contas dos valores que o nosocômio recebe.

Os Inspetores de Cemitérios, ao serem notificados pelo Conselho de Intendência, dirigido por Pedro Gonçalves da Silva Jr., acabaram cumprindo com suas obrigações, mas o mesmo não ocorre com os atuais dirigentes do hospital.

O Hospital São Vicente de Paulo foi fundado no dia 06 de janeiro de 1925, pela Associação São Vicente de Paulo, com o apoio de toda a sociedade bonjesuense, com o objetivo de acolher o nosso povo, e especialmente os pobres.

Cerca de 93 anos depois de sua inauguração, constatamos um desvio total de sua finalidade.

Os dirigentes do Hospital costumam proclamar que  o nosocômio está indo bem, principalmente após o convênio com a Faculdade Redentor, fazendo questão de ressaltar que este pacto está dinamizando a economia do município.

Este é um argumento não tem como se sustentar.

O objetivo principal da razão de ser do Hospital é zelar pela saúde do bonjesuense!

A suposta dinamização da economia do município não é tarefa principal do São Vicente, embora seja desejável.

Segundo informações, apesar dos milhares de reais que entram nos cofres do hospital, mensalmente, este não mantém um médico de plantão, o que revela uma contradição entre o que os dirigentes proclamam e a realidade do nosso nosocômio. 

O que temos denunciado aqui não é o contrato em si com a instituição de ensino, mas a ocultação do mesmo, o que indica que o convênio privilegia a entidade de ensino, em prejuízo do povo bonjesuense.

Os ideais do povo bonjesuense, que construiu o Hospital São Vicente de Paulo há 93 anos, permanecem, contudo, vivos.

É por eles que temos o dever de denunciar as práticas obscuras dos atuais dirigentes do nosocômio, que insistem em sonegar aos bonjesuenses o que é o seu mais elementar direito: ter acesso à  prestação de contas, ou seja, saber onde está sendo aplicado o seu dinheiro!




Vejam, a seguir, a notícia sobre a inauguração do Hospital São Vicente de Paulo, ocorrida no dia 06 de janeiro de 1925.


HOSPITAL FOI FUNDADO PARA ACOLHER OS POBRES


O Hospital São Vicente de Paulo e a Capela de Nossa Senhora do Rosário foram fundados no dia 6/1/1925



No dia da inauguração do Hospital, no dia 6/1/1925, César Ferolla pronunciou um discurso histórico, que foi publicado no jornal bonjesuense Nossa Terra, editado por Antônio da Costa Freitas, e do qual aqui reproduzimos uma parte:

"Inaugura-se afinal, hoje, o Hospital São Vicente de Paulo, fato que ansiosamente esperávamos. Trazendo as nossas congratulações aos denodados cavalheiros que a custa de não pequenos esforços conseguiram erigir esse grandioso monumento, é com o maior e sincero prazer que vemos Bom Jesus dotado de uma das maiores instituições que poderíamos imaginar. Uma das maiores sim, porque tudo pode ser dispensado em uma localidade, menos a igreja, a escola e o hospital; a primeira, para a alma, a segunda, para a inteligência, e a terceira, para o corpo. A igreja, graças aos esforços do ilustre amigo e virtuoso Padre Mello, aí está, obra prima de arte e bom gosto; a escola, vêmo-la nos diferentes institutos de ensino, particulares e públicos. Faltava-nos, pois, o hospital: era uma dívida para com os nossos pobres, era um dever a que não se pode afastar todo o povo que se diz civilizado, mas finalmente, eis o pujante, grandioso, e que não sei se é pelo amor que temos à medicina, ciência magna, ou por outra qualquer causa, consideramos iniciada em Bom Jesus uma nova era, farta em bênçãos divinas, e que garantidamente há de ser o reflexo da alma bondosa daqueles que erigiram e hão sustentar a nova casa de caridade...".

  Cesar Ferolla: texto histórico por ocasião da inauguração do Hospital 



O Hospital e a Capela foram fundados pela Associação São Vicente de Paulo, cujo presidente era o Dr. Diogo Cabral de Mello.

Após procissão ocorrida às 16h30min, deu-se início à solenidade de inauguração, ocasião em que o presidente da entidade convidou para a mesa o Reverendo Padre Mello e o Monsenhor Henrique Mourão, Bispo da Diocese de Campos. Fizeram uso da palavra, na oportunidade, o médico Dr. Agenor de Barros, Octacílio de Aquino e Cesar Ferolla. Padre Mello, impressionado com a qualidade dos discursos, solicitou, então, que os mesmos fossem impressos, para divulgação.

A orquestra regida pelo maestro Leopoldo Muylaert abrilhantou o evento.

Ao final, Monsenhor Mourão se disse "impressionado com a demonstração de fé que assistia", afirmando que "a verdadeira caridade é a que se origina do amor de Deus".





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