quinta-feira, 20 de junho de 2019

Bom Jesus do Itabapoana: eis o nome


                       Octacílio de Aquino

Muito mais do que o mérito, na questão do nome de Bom Jesus, interessa-nos a preliminar. Preparemo-nos para conduzir toda a discussão da causa a esse ponto.

Sedes municipais com esse nome há somente quatro no Brasil. Apenas duas têm, na realidade, o mesmo nome Bom Jesus: a do Piauí e a do Rio Grande do Sul. Uma delas é que, a rigor, deverá mudar de nome. Ficam, portanto, três lugares para o confronto da lei: Bom Jesus (gaúcho ou piauiense), Bom Jesus da Lapa, da Bahia, e nosso Bom Jesus do Itabapoana.

Mesmo não se levando em conta as razões históricas e a precedência incontrastável da nossa formação política, perguntamos: que identidade inconcetível pode haver entre essas três designações? E que confusão seria possível entre os outros e o nome de nossa terra, situada, de mais a mais, num Estado que não é limítrofe com aqueles?

Confusão, esta sim, é o que desde já se experimenta, sobretudo com esses rebuscos pelo tupi na lição dos mestres.

Do livro de Teodoro Sampaio, do não menos precioso Vocabulário de Stradelli e das notas fidedignas que, obsequiosamente, por bonjesuísmo e força da verdade, houve quem fizesse chegar à nossa mesa, o que se vê é que os estudos, quanto ao topônimo Itabapoana, são bastante graves, mas inconsequentes, e incapazes, por isso mesmo, de gerar uma convicção de plena liquidez, para o fim de uma substituição, depois de andado um século.

Capoama não é o termo a que chegou Teodoro Sampaio, se bem que em seu trabalho figure "capoame", com a significação de "no mato em pé; no mato que se isola num campo, ou mouteira ou silvado", capoame que é, afinal, o mesmíssimo "capoama", ou "caá-poama", a significar, igualmente, "ilha do mato", no Vocabulário de Stradelli. O termo que ele, Teodoro Sampaio, nos ministra, como o de que nos veio, por meio de corruptela dos primeiros lusos, o Itabapoana - benditos portugueses! -, é "cabapoama", vespas assanhadas ou alevantadas", no vernáculo. E é de se notar que vem (é a 3a. edição) Itabapoana à pág. 229.

Resolve-se, porém, aí a dúvida? Não nos parece. O rio Itabapoana, incluindo-se a de hoje, tem cinco denominações: Managé, no "Tratado Descritivo", de Gabriel Soares, de 1587; Camapoana, no decreto fluminense de 1844; Camaquana, segundo Alberto Lamêgo, e Cabapoama, provavelmente a melhor.

É a confusão. Em nenhum dos significados se reveste da propriedade de local, a que se refere o Conselho Nacional de Geografia.

Em todo o caso, se nos acertarmos mesmo, ao tupi de antanho, tudo nos venha, tudo, contando que não nos venha - nome infeliz! - o Capoama.

Uma de nossas palestras à hora do cafezinho trouxe-nos, há dias, esta sugestão: Ponte do Itabapoana, Vila do Espírito Santo, Lindeira, até, com um dos nossos distritos, passaria a chamar-se simplesmente Ponte, e Bom Jesus adotaria a denominação de Itabapoana.

Não há, realmente, um município "Ponte". Por sua vez, corruptela ou não, Itabapoana é também indígena, significando - a confusão continua - ora Rio da Pedra Redonda, segundo uns, ora Rio da Aldeia Redonda, segundo outros. E já é uma das partes formativas do nosso velho nome, tem por si a tradição da imprensa em nossa terra, e é o nosso rio, embora não nos seja de exclusiva peculiaridade.

Que importa que, para o nome Itabapoana, Bom Jesus não se caracterize por nenhuma pedra redonda nem parece que haja algum dia lembrado o aspecto de uma aldeia também redonda? Acaso alguma coisa aqui nos estará recordando um ninho de vespas, e muito menos de vespas furiosas?

E o Rio de Janeiro? Sabe-se que os tupis e, depois, os portugueses (Teodoro Sampaio) confundiam frequentemente a barra de uma baía ou de um golfo com a foz de um rio. Daí o Rio de Janeiro. O exemplo é típico.

Tudo isso pode parecer, a muitos, especiais. Mas, valendo para mostrar o quanto é contraditório o mérito da questão, bem pode valer para refletir o alcance da preliminar.

Bom Jesus do Itabapoana: eis o nome de nossa preferência, o nome insubstituível.

(1944)

NOTA: este artigo de Octacílio de Aquino fez com que o Conselho Nacional de Geografia conservasse o nome do nosso município. A alteração estava decidida, de acordo com as alterações toponímicas de 1944.

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