O 1º Festival de Cultura e História de Calheiros, ocorrido nos dias 3,4 e 5 de agosto, consistiu em um evento histórico em nosso município, organizado pela ADRUC (Associação do Desenvolvimento Rural e Urbano de Calheiros) e pela Associação dos Amigos do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira.
O Caxambu de Vargem Alegre, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), teve origem a partir do Caxambu que se praticava em Pirapetinga (Vargem Alegre) de Bom Jesus e Calheiros. A escrava Estelita foi levada para as terras capixabas e, uma vez lá, casou-se com Canuto, e sugeriu que o nome da região onde se fixaram, após o fim da escravatura, fosse o mesmo de sua terra de origem: Vargem Alta.
A apresentação do Caxambu de Cachoeiro de Itapemirim (ES) no dia 4 de agosto passado, constituiu-se, portanto, em um importante resgate de nossa cultura e história.
Leia, a seguir, a matéria de O Norte Fluminense publicada há dois anos, quando o Caxambu de Cachoeiro de Itapemirim esteve entre nós pela primeira vez.
O CAXAMBU DE BOANERGES BORGES DA SILVEIRA
| Placa na Comunidade Quilombola São Sebastião de Vargem Alegre, de Cachoeiro de Itapemirim (ES) |
Estelita Maria da Conceição Caetano era escrava em Vargem Alegre e Calheiros, região de Bom Jesus do Itabapoana (RJ), e foi comprada pelos portugueses da família Machado para amamentar seus filhos na Fazenda da Serra, no Alto de São Vicente, em Cachoeiro de Itapemirim (ES). Lá chegando, casou-se com Canuto Luiz Caetano, escravo "forro".
Esta história é contada por sua neta Canuta, da Comunidade Quilombola São Sebastião de Vargem Alegre, de Cachoeiro de Itapemirim (ES), que afirmou:"nossa avó veio amoitada dentro de um caixote antigo de madeira, usado para a travessia de uma província para outra. Após Estelita casar-se com nosso avô Canuto, o casal fixou-se na região onde residimos atualmente. Aqui, plantavam café, arroz, feijão e faziam polvilho de araruta".
| Canuto construiu sua residência, na época escravocrata, ao lado do rio Fruteira Quente, vendo-se, ao fundo, a Pedra da Penha, em Cachoeiro de Itapemirim (ES) |
Prossegue Estelita: "Posteriormente, Guilhermina Mendes de Souza, irmã de Estelita, veio de Bom Jesus com seus filhos, assim como Antônia Mendes de Souza Caetano, minha mãe", assinala.
| Centro Comunitário, na Comunidade Quilombola de Cachoeiro de Itapemirim (ES), leva o nome do patriarca |
| Comunidade conta com 3 campos de futebol |
Segundo Canuta, " meu avô acabou sendo considerado 'afilhado' dos portugueses, que o tornaram administrador da fazenda. Quando tornou-se forro, escolheu área próxima ao rio Fruteira Quente para se estabelecer, abriu área e com o dinheiro da madeira e da plantação foi pagando os 'padrinhos' ".
| Eunice, Canuta, Pedro Paulo, Anderson (11), Stephanie (6), Hildo e Wantuil, na residência do casal Hildo e Eunice |
"Meu avô plantou café, cana de açúcar, fabricou açúcar mascavo, branco e preto, e produziu melaço. Ainda temos um pedaço do tacho da época, que era da altura de uma casa. A imagem de São Sebastião, que está na capela, foi construída na época dos escravos. Posteriormente, ela foi golpeada por machado, porque supuseram que haveria ouro em seu interior. O Sacrário da Capela, por sua vez, foi estabelecido sobre um uma escultura que tem a forma de um tronco dos escravos", registra.
a
| Igreja de São Sebastião. No alto, a imagem de São Sebastião construída na época dos escravos, foi golpeada por suporem que haveria ouro em seu interior |
| Sacrário da Capela do Santíssimo está localizado sobre escultura no formato de "tronco dos escravos" |
Quanto ao caxambu, Canuta diz: "A batida do caxambu praticado aqui, em Vargem Alegre, é diferente dos demais, pois surgiu da fusão do caxambu praticado em Bom Jesus do Itabapoana com o praticado em Cachoeiro de Itapemirim".
|
|
O caxambu era praticado em Bom Jesus do Itabapoana, especialmente na Fazenda São Tomé, que foi propriedade de Boanerges Borges da Silveira - e estimulado por ele - pai dos governadores Roberto e Badger Silveira.
| Tião Cosme trabalhou por 45 anos na Fazenda São Tomé, que pertenceu a Boanerges Silveira e Chichico das Areias |
Segundo Sebastião Florenço da Rosa, conhecido como Tião Cosme, nascido no dia 25/04/1919, Boanerges costumava realizar festas às quartas, sábados e domingos, na Fazenda São Tomé, sempre com apresentação do caxambu.
Tião Cosme conta que "quando dava meia-noite, José, Haroldo e Aníbal, filhos de Sebastião Felício, passavam a cantar uma música para Boanerges, com os seguintes versos:
'Na madrugada, o galo abriu
Oh seu Boanerges, é hora de correr o litro
Na madrugada o galo cantou
Oh seu Boanerges, corre o litro de cachaça e o litro de licor'
E prossegue: "quando houve demanda judicial entre Boanerges e Chichico das Areias pela Fazenda São Tomé, Chichico das Areias disse, certa vez: 'demanda que Boanerges toca contra mim, toco com o dinheiro da venda de ovos das galinhas' ".
Estelita e Canuto tiveram 7 (sete) filhos: Carminda, Orlando, José de Reis, Luís Caetano, Saturnino (pai de Canuta), Dozinha e Arminda. Canuto faleceu com 100 anos, enquanto Estelita morreu com 130 anos.
No dia 8 de agosto de 2015, por ocasião do primeiro aniversário do lançamento da Pedra Fundamental do Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, o Grupo de Caxambu de Vargem Alegre se apresentou no Sítio Rio Preto, num reencontro histórico, recheado de emoções, com suas origens.
|

Nenhum comentário:
Postar um comentário