sábado, 14 de dezembro de 2019

RETROSPECTIVA

Wilma Martins Teixeira Coutinho


Cada dia que passa diminui a minha caminhada nesses longos anos. Fui feliz? Fui! Sou? Sou! Com dias alternados de alegria e tristeza como todo ser humano, pelas perdas que a vida nos impõe. Tive uma infância feliz sem preocupação e uma juventude de Anos Dourados de fazer inveja, hoje, aos que vivem sobre a violência.

Embora com poucos recursos, na época nada me faltou. Órfã aos cinco anos e meio, minha saudosa mãe, com carinho e dedicação supriu as necessidades. Quando recebeu de meu pai a pensão que lhe era devida pude estudar e me formar, pena que ela já havia falecido e não participou dessa alegria, pude também exercer as minhas tarefas com dignidade e determinação no cumprimento do meu dever, irmanada, sempre, pelo meu Mentor maior, meu pai
Do plano espiritual, ele tudo vê e me inpira. Sinto sua presença e me imociono! Nunca me abandonou.

Dos treze filhos e sendo a caçulinha a única a seguir a carreira do Direito, com força total. Para receber os louros muita renúncia e muito amor.

Na minha vida como funcionaria pública também não posso questionar cercada pelo carinho dos meus superiores, por onde andei, dei o meu recado.

Nesse interim fui mãe e hoje sou avó, por força do coração que minha filha acolheu .
Não conquistei inimigos porque amo a todos que de mim se aproximam. Os maus intencionados não se aproximam, não encontram guarida, como o Rio Negro e Solimões com suas águas claras e barrentas, no Rio Amazonas.

Dotada de sensibilidade para a poesia, herdada de meu pai vejo o tempo passar numa miragem de sonhos e ilusões.
Até hoje aos noventa e dois anos sofro as emoções de um final feliz de um inventario que dura vinte anos, não dependendo de mim esse longo tempo o que se tornou um desafio. Ver a alegria dos interessados compensa toda essa luta de idas e vindas ao Poder Judiciário.

Vou sentir falta de tudo isso, quarenta e tantos anos ininterruptos é uma vida.
Quer saber? Eu amo o Direito, quando a questão é a defesa dos direitos dos injusticados. Aí,  não tem pra ninguem.
Por exemplo: eis um caso hilário nessa minha longa atuação.

Resumindo:
Sobre um processo na Comarca de Duque de Caxias. Quem era minha cliente? Nada mais nada menos que minha querida Ana Maria , entao Silveira de Oliveira: o Autor vamos chamar de Mané.  Que também era advogado naquelas regiões e lá tambem residia. Comprara o terreno em Arraial do Cabo de propriedade de minha cliente e por ter pressa na documentação ofereceu-se para pagar um IPTU antigo de R$ 60,00 cujo código de barras o Banco de São Paulo não reconheceu. Dado o infimo valor, entendeu que ele havia pago e que nem iria cobrar por venda do terreno ter sido muito barata.
Ele todo Evangélico, de Bíblia debaixo do braço, sempre agradecia, demonstrando sinceridade.

Certo dia chega uma cobrança de R$ 30.000,00 por danos morais e materiais  pois sofrera um Arresto promovido pela Prefeitura Cabense. Questionada a Prefeitura informou que até aquela data nunca promovera sequer um Arresto. Tratava-se então de um embuste.

Aí agiu a Doutora Wilminha. Puxou no Sistema do TJ todas as ações pelo Autor impetradas, verificando que ele era mestre em assim proceder contra pessoas idosas , sempre no mesmo esquema.

Fez juntada no Processo de toda aquela pesquisa e procedeu a sua defesa  aduzindo também que os recibos que ele juntara nada tinham com o Processo.

Como testemunha de defesa,compareceu seu filho Fabio Silveira de Oliveira, constando em sua Procuração ser funcionário da Controladoria Geral da Uniao (CGU) . Bem sentiu-se amparada. Na hora aprazada, cadê o Autor?  Entramos para a Audiência. Já se encontrava no Gabinete um senhor que sem procuração apresentou-se à Sua Excelência alegando estar alí para defender o Autor.

Estranhamos,  porque  o Autor era o próprio Advogado em causa própria. Seguiu-se a Audiência e à medida em que o Juiz fazia as perguntas o representante não sabia como responder e com a vênia pegava no celular e ligava para o dito cujo e perguntava: "Ô cara! Voce não juntou esse tal documento nos Autos? Recibos? Qualquer criança de dois anos sabe que, se falou tem que provar?". A verdade é que ele estava escondido atrás de algumas árvores, sem coragem de aparecer porque, vendo nos Autos a qualificação da Testemunha, amarelou e não imaginando a distância  entre São Paulo até Duque de Caxias e imagine! De Brasilia! Alguém compareceria... Era causa ganha! Conclusão: Perdeu a causa e ele ainda teve que pagar e a mim a Sucumbência.
Rimos muito, por muito tempos e ainda rimos quando lembramos.
Era uma vez Wilminha...

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