quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Tradições de Natal nos Açores

Artigo no Diário dos Açores de 24 de Dezembro de 2019:


Na estação do Inverno com início a 21 de Dezembro e fim a 21 de Março o Natal marca o primeiro período desta época. O interior das casas e ruas é decorado misturando diferentes tradições, uma latina e mediterrânica e outra germânica e anglo-saxónica.

O feriado de 8 de Dezembro consagra a Virgem Maria sob o título de Imaculada Conceição. Este dia foi escolhido pelo Papa Pio IX em 1854 em confirmação da condição de Maria como esposa de José. No nosso tempo este dia é marcado, para além de iniciativas de foro comercial, pelo início das comemorações natalícias, principalmente na decoração exterior dos lares com luzes coloridas em redor dos jardins, portas e janelas açorianas.
Os símbolos natalícios tipicamente portugueses traduzem-se no presépio e na árvore de Natal.
Nos Açores a documentação aponta singelas referências ao presépio já no século XVI e no seguinte surgem as primeiras “lapinhas” de cunho conventual. Nas centúrias seguintes as figuras de barros produzidas por artesãos locais, tomaram proporções populares contendo apenas as figuras principais, geralmente em cima de uma cómoda no quarto de cama do casal e por vezes coexistindo com os altares dedicados ao Menino Jesus (o altarinho). Este Menino podia ser em madeira, barro ou gesso pintado, que era rodeado por velas, por ramagens de laranja e tangerina (incluindo os citrinos) e ainda por trigo e ervilhaca.
As figuras do presépio apresentavam-se em barro pintado e geralmente de tamanhos reduzidos. Mais tarde passou a ser montado no chão ou sob pequena armação, decorado com musgo e “musgão” nascido nas pastagens. Surgiram novas figuras como os pastores e ovelhas que se juntaram às figuras iniciais: o Menino Jesus, Maria, José, o Burro, a Vaca e os Reis Magos, originando reproduções dos hábitos e costumes locais (procissões, romarias quaresmais, matança de porco, folias, distribuição de pensões em louvor do Divino, coroações, trabalhos agrícolas, etc.) e ainda de edificações emblemáticas da localidade (igrejas, teatros, coretos, fontanários, moinhos, residências, etc.). Actualmente a grande oferta de mercado influencia na diversidade de presépios existentes nas residências. Alguns conservam as figuras de barro, outros optam por porcelana ou pelos novos materiais como o acrílico e de traços contemporâneos. Pode manter-se até à Epifania ou Dia das Estrelas.
Os postais decoravam os lares, quer junto ao altar do Menino Jesus, quer ao pé do forno ou junto à árvore, com os votos de boas festas da família que estava emigrada principalmente na América do Norte, até pelo menos aos finais dos anos 90 do século passado. Em casos de extrema pobreza era a única decoração possível.
Nos Açores a árvore de Natal que se popularizou pelas moradias, ao longo da centúria de oitocentos, começou por ser constituída por pés de laranjeira e ramagens de tangerina anteriormente citadas. Aqui algumas crianças deixavam os piúgos ou sapatinhos, na esperança que na manhã de Natal o Menino Jesus tivesse deixado alguma fruta ou guloseima. Antes de se colocar as prendas na árvore, o local mencionado era o forno, onde as crianças deixavam o sapatinho na chaminé. No último século esta árvore, por vezes de material sintético, tomou grandes dimensões e passou a ser decorada com adereços bastante variados e coloridos. Optam ainda por exibir frequentemente a árvore de Natal na sala, próximo das janelas e portas envidraçadas, proporcionando a comunicação com o exterior. Figura ainda no exterior junto às casas da câmara, igrejas e juntas de freguesia das várias localidades açorianas.
A véspera de Natal celebrada na Missa do Galo e na Consoada reúne a família numa farta mesa com pratos e doçaria típicos portugueses, constituídos pelo bacalhau, polvo, carnes de porco, cabrito e mais recentemente o peru, e ainda o Arroz Doce, o Bolo Rei, o bolo inglês de frutas, entre outros. Durante o século XIX e inícios do XX a família reunia-se à mesa para celebrar no almoço do dia 25 - o “dia da festa” - onde degustavam, não a comida tradicional do Natal, como hoje, mas sim os alimentos típicos das épocas festivas (Páscoa, festa anual dos padroeiros e Natal), geralmente caldos de galinha, galinha assada, massa sovada e figos passados.
Por esta altura as famílias percorriam as casas dos familiares para verem o Menino e saborearem os licores e compotas caseiros, típicos da época, com grande destaque para o licor de tangerina. Era frequente a expressão “correr meninos” a fim de desejarem as Boas Festas e ainda “mijinha do Menino Jesus” ou “o Menino mija?”, que se perlongava e ainda se mantém até ao Ano Novo.

Este texto não segue o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa."


Enviado por Antonio Soares Borges

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