Norberto Seródio Boechat é um dos gênios de nossa literatura |
Um dos gênios de nossa literatura, Norberto Seródio Boechat confirmou presença na 1ª Feira Literária de Pirapetinga, seu torrão natal. Ele realizará uma marcante Palestra Literária, às 15h do dia 29 de abril.
Além de escritor, Norberto é médico geriatra e gerontólogo.
Além de escritor, Norberto é médico geriatra e gerontólogo.
Ele é filho do saudoso líder político Agostinho Boechat, cujos pais, Norberto Emilio Boechat e Amélia Lemgruber Bochat, são descendentes dos imigrantes suíços, que chegaram ao Brasil em 1819. Sua mãe, a saudosa professora e poetisa Iracema Seródio Boechat, por sua vez, é filha de Laudelina Frias Seródio e Jacinto Vieira Seródio, que chegou ao Brasil no início do século XX, oriundo da Ilha de São Miguel, Arquipélago dos Açores, mesma ilha onde nasceu Padre Mello.
Nascido em sua querida Pirapetinga de Bom Jesus, distrito de Bom Jesus do Itabapoana, possui três irmãos: Jacinto, Maria Lúcia e Agostinho, médico como ele. Sua obra é reconhecida internacionalmente. Integra o PEN (Poesia, Ensaio ou Narrativa) Clube, uma associação mundial de escritores fundada em Londres, em 1923, e que congrega cultores da palavra escrita e falada em 150 países do mundo. No Brasil, a entidade surgiu no dia 2 de abril de 1936 e, atualmente, conta entre seus membros, com Nélida Piñon, membro da Academia Brasileira de Letras. Norberto é articulista do jornal O Norte Fluminense, onde brinda seus leitores, mensalmente, com suas contagiantes crônicas.
Uma de suas obras mais destacadas é o livro "Lembranças de Escritas".
Quanto ao mesmo, Dalma Nascimento, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada (UFRJ), salientou que "o médico-escritor Norberto Seródio Boechat foi recolhendo os rios de memórias ficcionalizadas nas páginas destas Lembranças de escritas, onde pulsa a vida, mas também lateja o coração".
Quanto ao mesmo, Dalma Nascimento, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada (UFRJ), salientou que "o médico-escritor Norberto Seródio Boechat foi recolhendo os rios de memórias ficcionalizadas nas páginas destas Lembranças de escritas, onde pulsa a vida, mas também lateja o coração".
Olívia Barradas, doutora e professora de Literatura Comparada, Semiótica e Teoria Literária, ex-professora de Literatura Brasileira da Universidade de Paris III, salientou, por sua vez: "Parafraseando o médico baiano Clementino Fraga, ao afirmar que 'Medicina é Ciência e também Arte', Norberto Seródio Boechat alia a ciência médica à linguagem artística, despertando com estas Lembranças de escritas a emoção no leitor".
Eliana Bueno Ribeiro, doutora em Ciência da Literatura, pela UFRJ, com pós-doutorado em Literatura Comparada pela Universidade de Paris III, e editora da revista Passages de Paris, pontuou: "Mais feliz, este menino-interiorano-médico-da-cidade chega ao dia da narração. Mais que histórias estruturadas, temos aqui cenários e personagens como índices de momentos, índices de um tempo e da passagem do tempo. Farpas de madeira que seguem a correnteza e servem como roteiros para que cada leitor viaje até sua própria infância e reencontre as coadjuvantes de sua história particular".
O editor Mauro Carreiro Nolasco ressaltou: "As situações aqui registradas nos emocionam, e trocamos de lugar com o pensador ao tentar entender o correr do tempo e as mutações. O autor e as personagens a desfilar histórias... O livro leva a pensar, comove e encanta".
Além de ser considerada uma obra-prima, a capa do livro reproduz uma aquarela composta pela premiada artista plástica paulista Verônica Debellian Acceta.
O Norte Fluminense posta, a seguir, uma das crônicas mais festejadas do escritor.
A ETERNA AUSENTE
Década de 50.
Oito anos.
Estrada Bom Jesus - Vargem Alegre.
Ao voltarmos da cidade, lá estava a menina na cerca de sua casa, à espera. Diminuíamos a velocidade para vê-la, infalível, pendurada no cercado do quintal. Segurava-se com a mão direita e acenava a esquerda.
Loura e branquinha. Muito bonita. Impossível saber de onde vieram as marcas arianas na garota pobre do barraco beirando a estrada. Não entendo, também, por que em nenhum momento paramos, por que não correspondemos num gesto o amor transmitido ao acenar. Creio que em seu reduzido universo, a busca do momento a impregnava, tornando-a parte de outras vidas, outras pessoas, do mundo que, então, se desfilava na via solitária. Ansiava, talvez, por um afeto, um toque junto ao coração.
É provável fosse filha única. Nunca vimos outra criança ao redor. O que teria sido sua vida entre adultos? Que mundo encerraria o interior da cabana? Como os pais estariam contribuindo para o crescimento do ser que fazia daquele instante breve de nossa passagem a eleição de um acontecimento? Ao respondermos com as mãos, ela sorria feliz. Passávamos e, ao olharmos para trás, ainda a víamos acenando no meio da poeira deixada pelo jipe.
Hoje, passada tanta vida — e tão rapidamente —, pergunto--me, onde estará? Casou-se? Teve filhos? Foi feliz? Tem um quintal cheio de netos? Morreu? Indagações que no vácuo desse tempo consumido apertam a garganta, deixam aberta a inútil expectativa de um vir a saber que não acontecerá... É a resposta que se espera, mas que jamais virá...
Há muito a casa não existe mais. A estrada, asfaltada e, por isso mesmo, inexpressiva de lembranças, é uma reta que matou velhas curvas do caminho. A menina foi-se tal qual o pó, tal qual aquela nuvem de poeira que termina por sobrepor-se às cercas, cobrindo-as de amarelão pálido, triste, aguardando que a chuva venha e lave tudo.
Não tenho dúvida: a garotinha foi a primeira mulher de minha vida. Tão absoluta que decididamente inesquecível. Definitiva. Jamais a tive. Nunca paramos para que eu me permitisse o contato de gente.
Assim, porque não a tive, sempre será indelével imagem, a eterna ausente: mão movendo-se avidamente como a dizer, por que não parou? Passou e não ficou para pacificar-me a vida.
(páginas 17/18)
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