As ruínas da Fazenda das Areias

                             Joel Boechat


  Cantinho de pensamentos


Muralhas desgastadas, que parecem
recordar momentos de muitos amores...
Cânticos,  madrigais,  rezas e louvores
Cantatas e serenatas
Deus sabe!
Se, também,  momentos de sofrimento
e de muitas dores

Alastrado de  heras  alcançando o topo
refúgio  de gaviões que ali, têm seus escopos

Do lado de fora ...
Um gigante Templo? Um casarão?


Não havia o lado de dentro!
Só mato e gitiranas rasteiras
Verdejando a emoção ...

Fico absorto em meus pensamentos...

Quantas mãos caboclas calejadas
pelos rudes golpes de enxadas
preparando o adobe, tijolos crus para
assentar as pedras e já secos tijolos?

Haveria aí também algunns monjolos?
Para suspender e, na Lei Áurea  da libertação,  não
depender ... da  mão obra escrava?

Altos muros para levantar a
Sede do Poder de um Coronel, rude e cruel
Talvez... de um Santo homem, os anelos, para, ao invés do
seu Castelo, construir uma Igreja;  para que ...
O Amor do Pai ali esteja...!

Quantos amores,  sofrimentos,  dores
Belas escravas para a sanha do seu senhor,
escravos  do campo,  tratados pela Sinhá
Com carinho, cuidado e amor ...

Bailes,  saraus, noites plenas..
Acordes de cravos e violas
Ilustres barões de fraques, bengalas
e cartolas
Acompanhando..suas damas
elegantes com vestidos de algumas
plumas e adereços  de penas

Oh Ceus  infinitos... que  cobrem
esses destroços... que já tiveram vida

Tudo ruinas, enfim! ...

Retratos de escombros da vida
E, passados distantes das emoções
de meus ancestrais, ali  vividas ..

Teria tido ali também alcovas para os
momentos fugazes  com amantes?...

Baús reforçados para guardar joias
de brilhantes ?

Pensamento viaja...

Nessa Viagem  que alhures
se destina
Que os anos não trazem mais

Só ruínas...

Construção de forte punho...

Só tem Deus.... Só Deus...
Só nosso Pai, por derradeiro
Testemunho
E nada mais...

 A Fazenda das Areias, em sua época áurea