quinta-feira, 6 de junho de 2019

A(s) Viola(s) de Arame Portuguesa: 22 de junho



"No séc. XVI vários tipos de viola de mão coexistiam na Península Ibérica. A Vihuela parece ter sido o instrumento que na sua génese, corpo e modo de tocar vai evoluir na direção daquilo que nós conhecemos por Viola de Arame (corpo em forma de oito, cinco ordens de cordas e tocado de modo ‘ponteado’ ou ‘rasgado’).

Se a guitarra espanhola evoluiu no sentido atual (viola de fado, violão, guitarra hispânica, guitarra clássica, viola francesa…) estendendo essa influência por toda a Europa…, deste lado da fronteira a viola portuguesa manteve-se dentro da tradição nacional e estendeu-se naturalmente pelas colónias…

Em Portugal, a disseminação embora regional e depois colonial, trouxe diferentes afinações e diversas configurações na apresentação e no modo de construir o instrumento… Cada região apresentou num processo lento é certo, uma diferente viola, que se enraizou na tradição popular, passando a ser o instrumento praticado em todos os momentos e rituais festivos.”
Vítor Sardinha, Viola de Arame práticas e contextos

Esta diversidade, conferida provavelmente também pelas diversas formas de sentir, na diferente forma musical e pela distinta maneira que, em cada região ou colónia, os construtores acabaram por resolver a forma a atribuir à sua viola, adaptando-se assim ao caráter do seu povo.

A Viola, una e divisível, igual e diferente, estendeu-se pelo país continental e ilhas e foi migrada para o Brasil, onde se mantém até hoje e também para Africa onde se perdeu quase completamente. Como todo o facto tradicional a Viola teve um auge e um declínio à medida que as suas funções se foram perdendo, mudando ou transformando o seu carácter, em ligação obvia com a mudança de gostos, o progresso e a perda do mundo rural e dos seus valores identitários.

No entanto verifica-se de momento uma revitalização do fenómeno, levada a cabo por velhos e novos tocadores, construtores e estudiosos, num interesse que tem a ver, entre outras coisas, com a valorização que recomeça a ser reconhecida e interpretada, mas também na reinvenção da Viola por novos caminhos, sem perder de vista a via originária, num gesto, esforço e vontade, que regularmente se tem Encontrado e que grandemente se enaltece e deve ser apoiado.

Embora se tenham perdido de vez alguma Viola (?) pode-se dizer que, hoje em dia, estão salvas, e algumas já certificadas, todos os principais espécimes regionais de norte a sul, ilhas e Brasil: a Braguesa, a Amarantina, a Toeira de Coimbra, a Beiroa de Castelo Branco, a Campaniça do Alentejo, a de Arame da Madeira, as da Terra dos Açores, a Caipira do Brasil.
Todas vão estar presentes neste evento que pretende ser, antes de mais a divulgação e reconhecimento dos intérpretes deste trabalho, mas fundamentalmente um incentivo à necessária e ansiada patrimonialização do fenómeno no seu todo, que bem merece a sua valorização como bem da Humanidade. Aproveitamos também para incentivar o Conservatório a desenvolver um ‘polo de etnomusicologia’ na forma que entender tornar possível uma forma de encarar a ‘outra música’.

É o nosso contributo para um bem patrimonial de inigualável interesse identitário de Portugal e o nosso reconhecimento aos seus ancestrais e atuais interpretes orgânicos e funcionais. O facto de ser realizado numa região que nunca teve (?) Viola “sua”, só se justifica por isso mesmo e pode dar a necessária neutralidade e imparcialidade para ajudar a compreender tão apaixonado tema. Não pretende ser um Encontro de Violas, nem a continuação do movimento rumo ao futuro.

Quer apenas contribuir, com o conhecimento e a reflexão, para que ele continue a existir!

Arquivo de Memórias, associação cultural do patrimônio


Enviado por Antônio Soares Borges

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