sábado, 18 de maio de 2019

PARABÉNS RIBEIRA CHÃ




Hoje celebramos o 53º Aniversário da elevação a freguesia da Ribeira Chã, um evento que só é possível comemorar graças à grande dinâmica e vontade de João Caetano Flores, o sacerdote, o visionário, uma das mais ilustres figuras que esta terra já conheceu, mas infelizmente já desaparecido.
Rodeada a norte pela encosta do Fogo e a sul pelas águas do Atlântico, a Ribeira Chã, tal como um presépio, vem da serra ao mar, presenteando todos com a sua rara beleza e singularidade. A natureza fez desta terra um lugar aprazível e calmo para se viver e constituir família Esta terra podia, sem duvida alguma, ser um bonito postal ilustrado dos nossos Açores, numa altura que tanto falamos de turismos ou a sua cativação.
Uma terra pequena, com cerca de 360 habitantes, mas com uma história invejável para a maioria dos lugares açoreanos. Mas, como em tudo, o tempo acaba por ir desvanecendo aos poucos aquilo que foi o apogeu deste bonito lugar, muito por culpa da falta do exercício de memória das pessoas ou de quem de direito.
Esta pequena freguesia já teve escola primária, jardim infantil, e uma serie de incentivos culturais e sociais que podiam cativar qualquer família a aqui se fixar e ter uma vida com o mínimo de qualidade. Esta que foi uma das grandes visões do Padre Flores que em nada tem sido respeitada.  Para ele, era importante criar “ancoras” que atraíssem cada vez mais gente a aqui permanecer ou para aqui se mudar. Mas o seu desaparecimento prematuro fez com que a obra ficasse inacabada. O seu grande objectivo, que seria o de criar um amplo parque habitacional, ficou suspenso, para mais tarde ser cancelado. Ficamos assim reduzidos à escassez de oferta habitacional e consequentemente a uma migração dos mais jovens para fora da freguesia. A renovação geracional simplesmente desapareceu ou reduzida a um mínimo incompreensível.
 Ainda sobrevivem algumas organizações de cariz social e cultural, mas a cada vez maior baixa de natalidade certamente condicionará o rejuvenescimento da Ribeira Chã, como é previsível, e a continuidade de qualquer organização a médio e longo prazo. A dinâmica cultural e social foi desaparecendo desde a morte do padre João Caetano Flores. Durante alguns anos viveu-se de uma virtualidade que apenas sobrevivia com o atirar de dinheiro para cima das situações, mas sem liderança, sem objectivos de futuro, esfumou-se em cada evento, em cada ano, em cada passo dado em falso.
Esta freguesia passou a ser uma antecâmara para outros pousos ou ambições políticas e profissionais. Usa-se e abusa-se deste nome para maiores voos mesmo quando a competência é escassa e a visão não vai para além da ponta do nariz. Não existe um plano e muito menos vontades.
A verdade é que se quisesse vos convidar a celebrar este aniversário, tal não seria possível porque a única actividade que hoje por cá há é precisamente uma saída da freguesia para terras alheias. Há algum tempo que este evento maior da freguesia não é celebrado de forma digna, com as pessoas, na sua terra. O dia seria hoje, não na próxima semana e muito menos no próximo mês, mas quem somos nós para questionar tais sapiências.
A natureza encarrega-se de conservar a beleza que a Ribeira Chã tem, tudo o resto é obra dos homens que terão de pagar, mais cedo ou mais atarde, o preço dos seus actos.

Ribeira Chã, 18 de Maio de 2019

José Pacheco

(Enviado por Antônio Soares Borges)

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