Há 7 anos, Dalal Megre Mansur Hobaica estabeleceu o Restaurante Bar Bante, no Center Shopping Bom Jesus.
Filha do saudoso libanês Jorge Chicri Mansur Hobaica e Maria Áurea Megre Mansur Hobaica, há cerca de seis meses passou a servir, todas as quintas-feiras, uma culinária árabe e o sucesso foi imediato: hommus, michuí, tabule, kafta, merchs e labne são algumas das palavras árabes que passaram a ser comuns no ambiente do restaurante.
As refeições, na cultura árabe, sempre foram momentos importantes para os encontros sociais e das famílias. Neste sentido, podemos dizer que o êxito da culinária árabe em nosso município ocorre em razão da alma bonjesuense, que foi gestada também a partir da chegada de libaneses no início do século XX.
A Rua República do Líbano e o Edifício Monte Líbano são dois exemplos emblemáticos da importância dos libaneses em nosso município.
Por outro lado, a relação das inúmeras famílias libanesas que aqui se estabeleceram revelam a influência da cultura árabe em nossa comunidade.
Segundo estudo do Desembargador Antônio Izaías da Costa Abreu, em texto intitulado "Sírios-libaneses", para Bom Jesus vieram as seguintes famílias:
"Abdalah, Adib, Alli, Antonio, Aride, Assad, Bomeny, Bussad, Chaloub, Chebe, Chicle, Couze, Crissaff, Curi, Cury, Daruich, Aud, Eid, Elias, Elkik, Faial, Farid, Felício, Felippe, Felix, Feres, Gazem, Habib, Hette, Hobaica, Jabour, João, Jorge, Kalil. Karim, Kastor, Lahud, Mansur, Maron, Melhim, Miguel, Mouzi, Naciff, Nagib, Namen, Nassar, Ourique, Paulo, Kiffer, Quirino, Rachid, Saad, Said, Saleme, Salim, Salomão, Tabet, Tannus, Tebet, Tuffi, Turques, Ximenes".
No próximo dia 4 de agosto, haverá o Sarau Libanês no palacete que pertenceu ao saudoso libanês Merhige Hanna Saad. Pode-se dizer que essa data pretende ser o marco para o resgate da história da imigração libanesa em nosso município. Na ocasião, pretende-se plantar uma muda de cedro, a árvore que é símbolo do Líbano, e que foi escolhida para ser o emblema da bandeira do país, por simbolizar força e imortalidade.
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Famílias libanesas contribuíram para a formação da alma bonjesuense |
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O cedro consta na bandeira do Líbano, como símbolo de força e imortalidade
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Sarau Libanês ocorrerá no dia 4 de agosto, no palacete que pertenceu ao saudoso libanês Merhige Hanna Saad
UM POUCO DA HISTÓRIA DE MERHIGE HANNA SAAD
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Merhige Hanna Saad e Alzira Sauma Saad |
Merhige Hanna Saad nasceu nas montanhas do Líbano, na localidade de Remahala em 18 de março de 1985, filho de Hanna Merhige Saad e Bader Saad. Casou-se em 24 de janeiro de 1927, na cidade de Tombos, MG, com Alzira Sauma, nascida em Santa Clara do Carangola, RJ, em 17 de setembro de 1908, filha de José Sauma e Marian Feres Sauma.
Em 1912, aos 17 anos, e já estando seus irmãos mais velhos Jarim Hanna Saad, no Brasil, e Salim Hanna Saad, na Argentina, embarca para o Rio de Janeiro em um navio de bandeira italiana. Aqui chegando, após passar poucos dias na capital segue com Karim para o lugarejo chamado "Matinada", na "Encruzilhada dos Turcos", como era conhecida a pequena casa misto de residência e loja comercial naquela área cafeeira, onde atualmente encontra-se a fazenda do Dr. Francelino França, em Natividade.
Porém, o jovem Merhige, ou "Jorge" como era conhecido, não sabia nenhuma palavra em português e tinha pouca instrução em árabe. Entretanto, com uma determinação surpreendente e ajudado por um carreiro que ali passava regularmente, aprende a ler e a escrever em português.
Em 1914, transfere-se para Bom Jesus do Itabapoana (RJ) e, já em 1916, abre com seu irmão Karim (ou Quirino como era conhecido) a firma "Quirino Antônio e Irmão", uma loja de armarinhos e tecidos localizada na Rua Buarque de Nazareth. Nesta época, mascateia pelo interior da região montado em um burrinho, levando um baú com as amostras das mercadorias da loja para encomendas, que eram entregues na viagem seguinte.
Em sua primeira viagem, é acolhido pelo casal Amélia e Joaquim Teixeira de Oliveira em um episódio que ficou-lhe na lembrança com demonstração da generosidade brasileira: chegando à tardinha na fazenda e pedindo pouso, é convidado para o jantar. Com vergonha, agradece e diz que já tinha jantado, mas é repreendido pela mentira e por fim levado à mesa do jantar, já que a dona da casa sabia que não havia por ali lugar onde se pudesse comer.
Por volta de 1926, os irmãos começam a negociar com café, comprando e vendendo a mercadoria pois parte do que recebiam ao mascatear tecidos era pago em café à época de safra.
De seu casamento com Alzira, em 1927, nascem seus 6 filhos: Marian Bader, que casou-se com Edmundo Sauma: Ismélia, que casou-se com Roberto Silveira; José Antônio, casado com Olga Borges Saad; Antônio Merhige, o "Pico", falecido em 1991, casou-se com Maura Mury Saad; Geraldo, falecido ainda criança; e Maria Cristina, casada co Luis Roldão de Freitas Gomes.
Com a grande crise econômica de 1929, os negócios com o café sofreram uma queda brutal obrigando-o novamente a mascatear montado em seu burrinho até que a situação se estabilizasse. Em pouco tempo, com trabalho árduo, os irmãos conseguiram construir na vizinha Bom Jesus do Norte, perto da antiga linha do trem, um grande armazém para estocagem do café, negociando já em 1939 mais de 40 mil sacas por ano. Começam também a plantar café em suas fazendas Estrela, São Benedito, e Boa-Fé, em Itaperuna.
Na década de 1940, os irmãos passam a fazer negócios separadamente, quando Merhige passa a investir em novas áreas como as salas de cinema, chegando a ser proprietário de 7 salas de projeção em Bom Jesus, Bom Jesus do Norte (ES), Vila Velha (ES), Colatina (ES) e Baixo Guandu (ES).
Em 14 de agosto de 1950, durante o banquete comemorativo de inauguração do Cine-Teatro Monte Líbano, recebe o título de cidadão bonjesuense do qual sentia grande orgulho. Marco na arquitetura da cidade, foi o primeiro edifício da região, contando com dois andares de salas comerciais e uma construção impecável que nada devia aos melhores teatros da capital. Por ali se apresentaram os maiores nomes do teatro e da música brasileira, que passaram a incluir Bom Jesus em suas turnês. Sete anos mais tarde, instala no segundo andar a Rádio Bom Jesus de sua propriedade que abrigava grande acervo musical.
Em 1951, sua filha Ismélia casa-se com a grande promessa política do Estado do Rio, o então secretário de Justiça e futuro Governador Roberto Silveira. Nesta época, a família se transfere para a casa ao lado do Cinema, em frente à praça Governador Portela, onde recebem grandes personagens da política brasileira.
Em 25 de abril de 1973, morre vítima de um infarto do miocárdio em sua casa em Bom Jesus, cidade que não gostava de sair porque dizia que era ali que queria morrer.
Sua viúva, Alzira Saad, falece em Niterói em 1992.
Em 1999, a família construída por Merhige e Alzira conta ainda com 17 netos e 17 bisnetos.
Do livro "RESGATANDO O PASSADO, IMPORTANTE DOCUMENTÁRIO DE BOM JESUS - LEMBRANÇAS E RECORDAÇÕES", de Heliton de Oliveira Almeida e João Batista Ferreira Borges, Almeida Artes Gráficas, 2000. Republicado na edição de outubro de 2014, de O Norte Fluminense.
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