Dia 27 de abril: 152 anos de seu nascimento
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Hino do Colégio Rio Branco foi composto por Padre Mello, em 1945 (www.espacoculturallucianobastos) |
Padre Mello foi escritor, poeta, redator do jornal "Meu Campinho" e responsável pelos registros de propriedade em nossa região.
Foi também músico e compositor, sendo o autor do hino do antigo Colégio Rio Branco.
Além disso, era conhecedor de técnicas de engenharia e, em vista disso, construiu as duas torres da Igreja Matriz, e orientava na construção de prédios. Possuía, também, conhecimento dos métodos de plantação de café, razão pela qual promoveu a orientação no cultivo do mesmo. Foi, ainda, ativista político na luta pela segunda emancipação de nosso município, ocorrida em 1º/01/1939.
O escritor bonjesuense Octacílio de Aquino, escreveu, em 1942, que, certa vez, uma criança dissera a seus pais "- O que eu quero é estudar para Padre Mello", o que indica a grande influência que o pároco português exercia sobre as novas gerações de então.
O poeta Elcio Xavier, que foi coroinha da Igreja na época de Padre Mello, testemunhou, em seu livro de memórias que ainda será lançado, que o pároco era "um verdadeiro homem de Deus".
Ruth Fragoso de Azevedo Silveira, por sua vez, em depoimento sobre o vigário, disse que ele "convivia com os meus avós paternos e maternos, por eles serem conterrâneos". Além disso, registrou que "Padre Mello
fez voto de pobreza. Seus pertences eram
doados por amigos. A partir de certa época, ele foi morar em um pequeno
quarto localizado ao lado da Igreja Matriz. Foi ali que ele faleceu, na
mais absoluta pobreza".
Conhecer a vida de Padre Mello, sua obra e seu legado de humanismo, constitui, portanto, um estímulo sempre atual para imitá-lo.
A seguir, publicamos obras poéticas de autoria de Padre Mello distribuídas pela Gráfica Gutenberg Ltda no dia 13 de agosto de 1953, por ocasião da inauguração do busto do pároco.
Finalizamos nossa matéria com depoimentos de Elcio Xavier, Georgina de Mello Teixeira, a Dona Nina, Ruth Fragoso de Azevedo Silveira, Maria Apparecida Viestel e Francisco Verdan Corrêa Neto sobre Padre Mello.
ELCIO XAVIER
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Elcio Xavier e túmulo de Padre Mello, no interior da Igreja Matriz, no dia 02/05/2014 |
PINÇADOS DE “LEMBRANÇAS”*
Pág.5
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“Minha brusca mudança para Bom Jesus aos sete anos estava envolta em ligeiro mistério e muita curiosidade. De repente deixara o valão de águas inquietas; o canário do oitão da casa que ficava azul quando a chuva banhava suas alvas paredes; as estripulias pelo campo de distantes horizontes montado no leal parceiro “Ventania”... Ganhara uma residência com alpendre e alçapão sem luz; o morro para empinar papagaios; o fabuloso pomar de meus avós; a Escola (Ah! A Escola!) onde aflorou a timidez que levarei ao túmulo; e a Igreja com suas velas bruxuleantes e um Padre, figura sóbria de gestos e um olhar de paz, metido numa batina preta. Um padre, o Padre Mello, do qual me ocupo antes da Escola, por sua influência, silenciosa e quase imperceptível,que balizou meus dias de menino: o catecismo, o Círculo São Luiz de Gonzaga com suas opas vermelhas, a primeira subida à torre, onde em plácida quietude estavam os sinos que ora chamavam, estrepitosos, para as missas ou as ladainhas, ora murmuravam nas Ave Marias ou espalhavam o cantochão da morte para a derradeira viagem.
Era um orgulho especial vestir a opa na Sacristia da Igreja, cercado pelos colegas e logo em seguida estar no altar durante a ladainha. Mas frustrava-me não acender o turíbulo para espargir o perfume do incenso pelo templo.
Certa vez, já no ginasial, procurei Padre Mello e lhe pedi um artigo para o jornalzinho que fundáramos no colégio, uma escola de um protestante, o competentíssimo Professor Orlando. Recebeu-me com aquele jeito tranquilo, indagou do nosso propósito e ordenou que o procurasse na manhã seguinte. E, de fato, duas laudas sobre “QUE” nos aguardavam, além do sorriso puro e um abraço que ainda me comove. Padre Mello era um verdadeiro homem de Deus, um ecumênico, pleno de saber e amor ...”
*Trechos extraídos de “Lembranças...”, livro de memórias de Elcio Xavier.
GEORGINA MELLO TEIXEIRA, A DONA NINA
Sempre que me recordo do Padre Mello, me vem à lembrança a música, afinal este era um vínculo forte entre ele e os musicistas da Igreja Matriz, pois ele também era músico e, por isto, me vem à cabeça o seguinte: certa vez, cantávamos a missa da Festa de Agosto e, como é comum, devido à grande emoção da cerimônia, errar a melodia, Padre Mello voltou-se para o coro - neste dia tocava o órgão minha irmã Yole - e disse com muita convicção: '- Podes repetir este compasso para acertá-lo?'
A sua percepção musical, seu vozeirão e seu canto, muito contribuíram para o crescimento musical litúrgico.
Lembrar de Padre Mello, que deixou seu país e veio para o Brasil, nos ajuda a compreender, através de sua missão, o sentido da Campanha da Fraternidade deste ano: 'Eu vim para servir'. E é isto: Padre Mello serviu a Deus em nossa cidade tão distante de sua própria; deixou amigos, mas os fez vários aqui; recebeu carinho dos seus em sua partida rumo a Bom Jesus e o depositou todos a nós bonjesuenses; incentivou-nos a participar da vida em comunidade e da Igreja como bom pastor a cuidar de seu rebanho e... os seus, lá em Portugal, com certeza o têm em suas memórias, e nós, aqui, o temos em nossos corações.
RUTH FRAGOSO DE AZEVEDO SILVEIRA
Eu conheci Padre Mello quando eu era muito pequena. Nasci em 18 de agosto de 1923. Fui batizada por ele, assim como minhas quatro irmãs.
Foi ele quem oficializou o casamento de meus pais José e Hermínia, e das minhas irmãs mais velhas. Não realizou o meu, por ter sido levado ao descanso eterno. Padre Mello se adaptou ao convívio da nossa Vila, por ter encontrado pessoas como ele vindas das belas paragens de Portugal.
Convivia com os meus avós paternos e maternos, por eles serem conterrâneos. Intelectual, além de sacerdote que com muito zelo conduzia seu rebanho para o bem.
Matemático, escritor, poeta, agrimensor, professor. Por algum tempo, administrou aulas de português no Colégio Rio Branco. Exigente com a nossa língua, nos dava muita bronca quando não sabiam conjugar um verbo, ou não sabíamos análise sintática.
Guardo suas poesias com carinho. Ele era apaixonado pela Festa de Agosto, ocasião em que a Igreja distribuía alimentos aos pobres. Era frequentador do lar de meus avós Manoel Antônio de Azevedo Mattos e Dª Terezinha. Meu avô, como bom português, sabia receber seus visitantes com bons vinhos.
Minha avó materna, filha de portugueses, era casada com o professor José Cândido Fragoso, e, ambos, tinham o vigário como um grande amigo, que sempre frequentava sua residência.
Todos os filhos de meus avós foram batizados por ele. Por ocasião da morte de minha tia Inhá (Maria Tereza), sua presença foi primordial naquele momento de tanta dor. Sua afeição por minha família era de muito amor. Deixou, para aliviar nossa dor e sofrimento, um lindo poema intitulado 'Gottas de Balsamo', escrito em 1902.
Certa vez, quando coroei Nossa Senhora, eu e minhas
amigas fomos um fracasso, porque erramos tudo. Ele não gostou,
chamou-nos e disse com o sotaque português: 'Não ensaiaste bem!'
Morri de vergonha! Eu queria confessar, era pequenina, nem sabia ler.
Quando terminava a confissão, ele dava um papel escrito com o ato de
contrição. Como eu não sabia confessar e muito menos ler, minha 1ª
comunhão foi ele quem oficiou.
A irmã de Padre Mello, Maria Júlia de Mello,
conhecida como Dona Mariquinha, veio com ele para Bom Jesus juntamente
com Dona Cândida, mulher de posses e patroa de Mariquinha, que ajudou
Padre Mello em sua ordenação. Mariquinha e Dona Cândida costumavam fazer um
delicioso pão caseiro que era muito apreciado pelo pároco. Além disso, todos os
dias, por volta das 15h, elas também vendiam o pão, para ajudar a
manter os serviços da Igreja. Por este motivo, ele passou a ser chamado de
Pão do Padre.
Francisca Menezes, a Chiquita Menezes, era o braço direito do vigário. Ela era minha madrinha muito querida. Por sua mão, eu ia à Matriz aprender o catecismo e me preparar para a vida religiosa. Era membro da Irmandade de Santa Terezinha, Filha de Maria ardorosa. Vivia para servir. Caridosa, estava sempre cuidando das pessoas doentes. Quando Padre Mello adoeceu, foi tratado por ela, com todo o carinho.
Padre Mello fez voto de pobreza. Seus pertences eram
doados por amigos. A partir de certa época, ele foi morar em um pequeno quarto localizado ao lado da Igreja Matriz. Foi ali que ele faleceu, na mais absoluta pobreza.
Está aí o relato da vida deste Padre Mello que se tornou um mito em nossa cidade.
DONA MARIA APPARECIDA DUTRA VIESTEL
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Maria Aparecida Dutra Viestel, neta do 1º Prefeito de Bom Jesus do Itabapoana, Pedro Gonçalves da Silva Jr., conhecido como Cel. Pedroca |
Padre Antônio Francisco de Mello - recordações
Fui batizada pelo Pe. Mello em 20 de janeiro de1931 e dele recebi a primeira Eucaristia em 29 de junho de 1941.
De 1941 a 1945, período do antigo primário e ginásio no Colégio Rio Branco, sua presença era constante nas reuniões do Grêmio Estudantil, onde ele, às vezes participava incentivando os alunos, e também sendo homenageado.
Na minha turma de ginásio, quando o professor de latim passava uma tarefa difícil, algumas colegas iram pedir ajuda a ele.
Nas comemorações cívicas do município, ele estava sempre presente, aplaudia e aproveitava para enaltecer a pátria.
Na Farmácia Normal, sua presença era constante para trocar ideias com meu pai, Antônio Dutra, e com os amigos que frequentavam a Farmácia, onde haviam dois bancos confortáveis, em que os 'fregueses' discutiam os assuntos de política e literatura.
Suas pregações eram tão eloquentes que, até hoje, me lembro de sua voz dizendo: 'Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus..."
FRANCISCO VERDAN CORRÊA NETO
(de Petrópolis/RJ)
Fiquei muito contente ao ler a notícia do lançamento de "Obras de Padre Mello", no dia 7 de agosto. Espero poder estar presente pois tais obras me interessam muito. Há longo tempo eu sonhava que um dia fosse publicado.
Isto me lembra quando, ainda muito jovem, saíamos da zona rural do Cubatão, localizada no 1º distrito de Itaperuna (RJ), todos os anos, e íamos no dia 15 de agosto assistir a Festa de Bom Jesus, no início da década de 1940.
Havia um comerciante lá no Cubatão - Sr. Sebastião Máximo - genro de Castorino Bon (uma família de origem suíça) - que possuía um caminhão. Para a ocasião, ele colocava tábuas transversais na carroceria do caminhão e fazia um toldo de lona (para proteção contra o sol ou chuva), e nossa família enchia esse caminhão (entre os nossos primos, um grupo assinava Cordeiro de Mello), descendentes de um meu tio-avô - Antônio Corrêa Branco - que era casado com u'a Mello, na Lomba de Maria, Ilha de São Miguel, Açores. Uma filha desse casal, sobrinha de um avô - Antônio Corrêa de Mello - veio morar na fazenda do meu avô, no Cubatão, e deixou descendência numerosa.
Naquela época, a estrada para Bom Jesus passava pelo Bambuí e a Serra do Himalaia, e entrávamos em Bom Jesus pelo norte. Ao chegarmos, a primeira coisa que fazíamos era ir à Sacristia cumprimentar o Padre Mello, e meu pai fazia questão que lhe beijasse a mão e fosse abençoado por ele.
Participávamos das alegrias da Festa e, já noite, retornávamos ao nosso lar.
Isto se repetia todos os anos e, num certo momento, essa viagem se interrompeu e eu nunca soube o porquê. Agora (estou com 82 anos de idade), posso imaginar o motivo: o falecimento do Pe. Mello. A motivação da viagem terminou.
Então, a minha presença em Bom Jesus a 7 de agosto, será a minha homenagem à memória de Pe. Mello.