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ELCIO XAVIER é "um dos poetas mais puros e refinados que este país já produziu" (Delton de Mattos) |
Em comemoração aos 105 anos de nascimento de Elcio Xavier, o Príncipe dos Poetas, O NORTE FLUMINENSE reproduz a histórica entrevista realizada em 2012.
O legado de Elcio Xavier é extraordinário. O dia de seu nascimento, 3 de maio, é comemorado em nosso município, como o Dia da Poesia Bonjesuense.
Elcio Xavier integrou a partir de 1950, o grupo de intelectuais que colaborava com a Revista Branca, que contava, entre seus apoiadores, com escritores de relevância da literatura brasileira como Augusto Frederico Schmidt, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto, entre outros.
Elcio Xavier é "um dos poetas mais puros e refinados que este país já produziu", no dizer de Delton de Mattos.
Sua obra é mencionada pelo Centro Virtual de Documentação e Referência "OSWALDO GOELDI" (http://www.centrovirtualgoeldi.com/paginas.aspx?Menu=oqueeocentro), enquanto o seu livro mais importante, "O VÉU DA MANHÃ", foi registrado pelo consagrado crítico ÉSIO MACEDO RIBEIRO em sua obra "O RISO ESCURO OU O PAVÃO DE LUTO: UM PERCURSO PELA POESIA DE LÚCIO CARDOSO".
A VIDA EM BOM JESUS
Elcio nasceu em Bom Jesus do Itabapoana, na Avenida Padre Mello, no dia 03/05/1920, filho de Waldemar Sigismundo Xavier, também bonjesuense, e Elvira Cerqueira Xavier, mineira de Muriaé, e neto de Samuel e Baldina, tradicionais membros da Família Xavier.
Casado com a professora Gedália, filha de Mário Loureiro, coletor estadual em Bom Jesus do Norte (ES) e de Maria da Conceição Loureiro, constituiu uma bela família com 5 filhos: Regina - psicóloga, Rogério - funcionário da Petrobrás, Raquel - jornalista, Rosete - arquiteta e Rita de Cássia - médica, 12 netos e 3 bisnetos.
Elcio, apesar de viver por longos anos fora de Bom Jesus, jamais a esqueceu e ao falar de sua terra natal se entusiasma, perde-se em rememorar fatos históricos de real importância para a memória de nossa cidade.
Eis alguns dados interessantes nas palavras do ELCIO: “Meu bisavô, Carlos de Aquino Xavier, mineiro de Mar de Espanha, se instalou em 1872 na margem esquerda do Rio Itabapoana onde hoje está a cidade de Bom Jesus do Norte (ES) e parte das montanhas que a circundam, formando a Fazenda Jardim. Atualmente seu nome está lembrado em uma modesta rua daquela cidade. Carlos tivera 15 filhos, entre os quais minha avó Baldina, que se casou com seu primo Samuel, meu avô e filho de Júlio de Aquino Xavier.”
DESCASO DAS AUTORIDADES
Elcio diz que sempre se rebelou contra o descaso das nossas autoridades pela preservação do patrimônio histórico da cidade e cita: “a ponte de madeira sobre o Rio Itabapoana, inaugurada em 1885, que teve parte da mão de obra e todo seu madeirame fornecido por Carlos Xavier. Essa ponte não suportou a maior enchente do rio em 1906. Posteriormente se construiu nova ponte de madeira, que foi abandonada ao longo do tempo, sobretudo a partir da inauguração da ponte de cimento, essa construída pelo engenheiro Heitor Nogueira, irmão de Samuel Xavier, em 1927.” Segundo ELCIO, Bom Jesus necessita de duas pontes, o que pode ser concretizado caso as forças políticas dos dois Estados unam esforços.
Elcio se recorda do próspero comércio da rua Buarque de Nazareth, que começava na Ponte de Madeira e seguia até a Praça Governador Portela, despontando como principal a Casa Mansur, assim como do primeiro prédio construído na praça em Bom Jesus, onde está instalado o Big Hotel. “Em 1889 houve animado baile nos salões desse prédio, em comemoração à Proclamação da República.”
O GOSTO PELA LITERATURA
O gosto pela literatura ocorreu quando foi servir ao exército, aos 18 anos, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, despertado por um colega de quartel que o apresentou a alguns escritores como: Adonias, Otávio de Faria, Lúcio Cardoso, etc. Não obstante tenha iniciado cedo na arte de escrever, acabou cessando igualmente cedo suas atividades literárias, uma vez que teve de se dedicar com exclusividade ao trabalho na Cia. Ferro Brasileiro, viajando pelo Brasil.
Delton de Mattos, em artigo em O NORTE FLUMINENSE, publicado no dia 04/09/1994, refere-se a ELCIO XAVIER como “Primoroso poeta, um dos mais puros e refinados que este país já produziu.” Segundo Delton de Mattos, “Se (ELCIO XAVIER) continuasse, teria sido um dos mais festejados da chamada “Geração de 45”, ao lado até com vantagem, de um Geir Campos, Ledo Ivo e João Cabral de Mello Neto, dentre outros”.
O fato é que Elcio Xavier ainda lançou outro livro de poesias, “ROSAQUARIUM”, pela editora da Revista Branca. Três outros livros escritos na década de 45/55 são: “ASAS DA NOITE”, “NO PAÍS DO LODO VERDE”, um livro infantil, e “CRÔNICAS”.
ACADEMIA BONJESUENSE DE LETRAS
Segundo Elcio, "declinei, na época, como fizeram alguns colegas, de integrar entidades literárias, exceto o pequeno grupo da Revista Branca e a nossa ABDL(Academia Bonjesuense de Letras), atendendo bela carta do amigo Athos".
Nas palavras de Elcio Xavier, "esclareço que me distanciei do movimento literário na década de 60, mas mantive as amizades conquistadas, amizades essas que vem se esvaindo ao longo do tempo, pela morte ou pela idade. Devo acrescentar, com grande saudade, do grupo da Revista Branca: E. C. Caldas, Rawet, Fausto Cunha, Alberto da Costa e Silva, Bráulio, entre outros".
ABELHAS E O ENCANTO DA NATUREZA
Prossegue Elcio: "Por uma coincidência fortuita descobri em 1970 a abelha (apis mellifera), por quem me apaixonei e preencheu minha vida por logos anos.No mundo das abelhas, participei da fundação de uma Associação, da qual fui presidente por doze anos; de uma Cooperativa Apícola e de uma Revista, a única no gênero no Brasil, por longo tempo reconhecida internacionalmente. Publiquei uma monografia: “A abelha e o Homem” e fiz parte de um órgão de assessoria do Ministério da Agricultura por vários anos".
Elcio se considera "um ilustre desconhecido em minha terra natal, sobretudo porque dos meus colegas da juventude e dos amigos que aí deixei só me resta o Ayrthon (Ayrthon Borges Seródio), com quem falo rarissimamente. Há nomes que me são familiares, mas sem contato maior, dada minha ausência da cidade, e meu comportamento arredio, fruto de uma timidez hereditária".
Refugiado em uma chácara na Zona Oeste do Rio de Janeiro com seus livros, seus discos e o encanto da natureza, o silêncio, as flores e o gorjeio dos pássaros, Elcio Xavier deixa aos novos escritores uma mensagem: "Leitura, muita leitura de bons livros!".
O NORTE FLUMINENSE celebra, com orgulho, a data natalícia de nosso maior poeta!
ELCIO XAVIER VIVE!