Da Série Entrevistas de O NORTE FLUMINENSE
O ORGULHO DE TER NASCIDO NA SERRINHA
No dia 19 de março de 1919, uma tropa, comandada por Marcio Mota Duarte, que saíra do atual distrito de Serrinha, chegara a Resplendor, em Minas Gerais. De lá, ele enviou uma foto ao "tio Badeco", nomeando as mulas que compunham a mesma, "da guia para o coice", ou seja, da primeira à ultima, São elas: "Japoneza, Revista, Disafio, Marfim, Liança, Divisa, Brasileira, Brasil, Baratinha, Nedy e Brasão".
Esta é uma das fotos históricas do acervo de Archimar Mota Velasco, conhecido como Velasco, proprietário da Extreme Lan House, localizada na Praça Governador Portela.
Ele é um dos que têm orgulho de ter nascido na Serrinha.
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Tropa da guia para o coice, isto é, da primeira à última mula: Japoneza, Revista, Disafio, Marfim, Liança, Divisa, Brasileira, Brasil, Baratinha, Nedy e Brasão. |
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Verso da foto anterior: Mario Mota Duarte, tio de Velasco, casado com Luzia Velasco, levou sua tropa, da Serrinha para Resplendor (MG). A foto foi destinada a Badeco, tio do pai de Velasco
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A família de Velasco é de origem espanhola e trouxe para Bom Jesus do Itabapoana uma tradição aprendida na Serrinha: trata-se da "Cruzeta", um jogo praticado em todas as tardes de domingos, após o almoço, na rua Aureliano Ferreira de Aquino, onde reside Auri Mota Garcia, irmã de Velasco.
Segundo Auri, "praticamos a cruzeta há cerca de 60 anos, desde quando viemos na Serrrinha". Embora ninguém soubesse informar a origem do jogo, outra irmã de Velasco, Maria Amélia, diz que "a cruzeta é a sobremesa do almoço dos domingos".
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Cruzeta: tradição da Serrinha trazida para a cidade |
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A família Velasco se reúne todos os domingos, na rua Aureliano Ferreira de Aquino, para jogar a cruzeta
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Maria Amélia Velasco: "a cruzeta é a sobremesa do almoço dos domingos" |
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Muitas lembranças povoam a mente de Auri: " nos idos de 1960, havia farmácia, barbearia e loja de tecido. Estive recentemente na Serrinha, e observei que o distrito está se levantando. Eu teria coragem de me mudar para lá, novamente, e montar uma mercearia. A Serrinha já teve momentos bons e ruins. Considero que, agora, o momento é positivo".
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Auri Mota Garcia completará, no dia 27 de julho do próximo ano, 50 anos de casamento... |
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...com Jary |
Auri relata ainda que "meus pais Francisco Velasco, da Serrinha, e Iracema Velasco Mota, de Pádua, casaram-se e posteriormente foram morar em Resplendor (MG), onde tiveram os filhos Ari e Abelardo, já falecidos. Posteriormente, nasceram Alice, Antonio José, Auri, Antonio Francisco e Maria Amélia. Quando retornaram à Serrinha, nasceram Anchimar e Juventina. Recordo-me, ainda, que as regiões de Santa Rita e de Barro Preto eram as que mais produziam café".
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Anchimar Mota Velasco: orgulho de ter nascido na Serrinha
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Anchimar Mota Velasco é irmão de Auri e Maria Amélia Velasco. Nascido na Serrinha, filho de Francisco Velasco e Iracema Mota Velasco, foi estudar no Rio de Janeiro, com 11 anos de idade, mas nunca perdeu as raízes.
Velasco atualmente reside em Bom Jesus do Itabapoana, e lembra que seu pai era tropeiro.
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Francisco e Iracema, com os filhos Abel e Ari, em 1933 |
Velasco recorda ainda, da "Maria Fumaça", o trem movido a caldeira, que havia em Santo Eduardo, distrito de Campos dos Goytacazes (RJ), que, depois foi substituído pelo "Cacique", movido a diesel.
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Francisco, em foto de 1934 |
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Ônibus da empresa de Francisco Teixeira Velasco, na década de 1950 |
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Dois ônibus da empresa de Francisco Teixeira realizavam o trajeto de 40km entre Santo Eduardo-Serrinha, de acordo com os dois horários de trem: o expresso, que chegava à tarde, e o noturno |
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Ari, irmão de Velasco, em foto da década de 1950 |
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Família Velasco: Auri, Sara, Iracema, Maria Amélia, Caio, Juventina, Tatiana, Bernardo e Jary
Pedro José Santana é outro que tem orgulho de ter nascido na Serrinha, no dia 15 de agosto de 1937. Filho de Oscar José Santana, conhecido como Oscar Peró, e Domingas da Silva, possui 4 filhos: Márcio, Marco, Oscar e Fábio. Seu avô paterno, Pedro José Santana, era conhecido como Peró, e sua avó era conhecida como Candinha. Ambos nasceram na Serrinha. "Meu avô tratava as pessoas através da homeopatia e vivia para fazer o bem", assinalou.
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Pedro José Santana: "na Serrinha havia muita fartura" |
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Os avós maternos, contudo, vieram de Capoeirão, localidade de Posse do Meio, em Campos dos Goytacazes (RJ): Antenor Militão e Zinha. Pedro faz questão de relatar que "a avó de Zinha era índia puri e foi pega a laço".
Segundo Pedro, "eu foi criado na enxada, na propriedade conhecida como 'Criador'. Como todo o tipo de transporte era baseado em tropa e carro-de-boi, nós aprendemos a montar em burro bravo e pegar boi a mão. Naquele tempo, contudo, havia muita fartura. Tinha porco, galinha, milho e arroz".
Outro detalhe ressaltado por Pedro: ele e sua irmã Benedita casaram-se com os irmãos Alice e Ari.
Fazenda Cachoeira Alegre
O distrito de Serrinha viveu época de prosperidade quando todos produziam arroz. É o que conta Admar Dias, proprietário da Fazenda Cachoeira Alegre. Segundo ele, a fazenda já contou com cerca de 20 empregados e recebeu várias premiações pela qualidade do arroz produzido em sua propriedade: "Já produzi 4 mil sacas de arroz em um ano", lembra com orgulho.
"Ocorre que, na época do governo do presidente Fernando Henrique, grandes empresas passaram a produzir arroz no Brasil, fazendo com que a nossa produção nos levasse ao prejuízo. Por este motivo, todos tivemos que abandonar a produção do arroz. Hoje, só tenho 1 funcionário", lamenta Admar, que, ainda assim, comanda a produção de leite, peixe, coco e tangerina.
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Antiga tulha de arroz da Fazenda Cachoeira Alegre |
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Interior da tulha: lembrança da exuberância do arroz de outrora |
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Troféus premiaram a qualidade da produção de arroz na Serrinha |
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Admar Dias e Enide Almeida da Costa consomem tudo o que produzem |
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Coco, tangerina, peixe e leite são produzidos na Fazenda Cachoeira Alegre |
Serrinha, hoje
Segundo a obra "Nossa Terra Nossa Gente", de Ana Cristina Boniolo de Oliveira e Ivana dos Santos Gomes, Serrinha foi muito próspero no passado: "A Vila crescia, o comércio tornou-se mais rico com padarias, farmácias e vendas. A agricultura cada vez mais forte, até que, com a erradicação dos cafezais pelo governo muita coisa mudou. Muitos colonos e empregados das fazendas tiveram que procurar emprego e mudaram para a sede dos municípios, provocando o despovoamento de um lugar que hoje poderia estar bem mais populoso e desenvolvido" (pág. 50)
Em relação à cultura, as autoras salientaram que "o folcore da região era muito rico, segundo moradores antigos, tinha: o 'boi pintadinho', 'jaguará', 'mineiro pau', 'caxambu', as festas juninas e etc"
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Casas abandonadas podem ser vistas no trajeto até o distrito de Serrinha |
Quem se desloca até o distrito da Serrinha pode observar várias casas abandonadas.O distrito, embora apresente sinais de certa estagnação econômica, revela, por outro lado, alguns sinais de recuperação. A única loja da localidade é a Lojinha da Alessandra, estabelecida há cerca de 8 anos. O Salão de Beleza da Natalícia, fundado há cerca de 10 anos, é outro ponto de destaque.
Há notícia de que, futuramente, possa ser estabelecida ali uma fábrica de confeção, o que poderia resultar no emprego para cerca de 24 pessoas, o que traria, novamente, a esperança de dias melhores.
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Lojinha da Alessandra: 8 anos de funcionamento |
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O salão de beleza de Natalícia foi inaugurado há 10 anos |
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1a. Escola Estadual de Serrinha, "José Edson Ananias", fundada em 1959: mais um prédio histórico abandonado pelo poder público |
NOMES DE DESCENDENTES QUE AJUDARAM A CONSTRUIR SERRINHA
CATARINA. Foi a 1a. professora de Serrinha. Vive hoje na Rua dos Mineiros, em Bom Jesus do Itabapoana.
ANTONIO BARBOZA. Motorista, esposo da professora Norma, a segunda professora de Serrinha. Esta dava aulas para alunos da 1a. à 5a. séries e todos aprendiam muito.
JOSÉ DOMINGOS DE ANDRADE. Pessoa muito estimada. Possuía uma farmacinha. Não era farmacêutico formado, mas receitava medicamentos. Foi vereador por 4 mandatos.
JOSÉ BROTINHO. Pessoa estimada da família dos Nunes.Foi o primeiro a levar uma máquina de picolé para Serrinha, assim que a energia foi instalada por lá. Era a atração da criançada.
EDUARDINHO. Possuía um carrinho puxado por cabrito, que levava a família para a Igreja.
ARTÊMIO. Era sapateiro. Produzia chinelo com solado de pneu, que não acabava nunca. Quem comprava um, portanto, não precisava comprar outro.
JOSÉ NEVES. Rezador, benzia água e curava todas os problemas de quem tinha fé. Sua fama se espalhou. Pessoas vieram até do Rio de Janeiro para se tratar com ele. Faleceu provavelmente de doença de Chagas.
MANOEL CAIXEIRO. Homem trabalhador, criava seus filhos levando o que colhia para vender na Usina Santa Maria. Ia a pé tocando uma mula com o nome de Rodela. Esta mula costumava parar na estrada e rodopiar, o que chamava atenção.
JOÃO CAIXEIRO. Irmão de Manoel Caixeiro, era proprietário de uma vendinha com diversos tipos de mercadoria.
ELPÍDIO VELASCO. Conhecido como Pico, andava muito a cavalo. Era sua mulher, Maria Bento, contudo, quem pegava o animal e o arreava para que ele montasse no mesmo.
FRANCISCO VELASCO. Possuía uma linha de ônibus e costumava carregar as pessoas de graça. Quando chegava no final do dia, normalmente não havia nada no bolso do trocador.
NEM GUIMARÃES. De família respeitada, cujos descendentes moram atualmente no bairro Asa Branca, em Bom Jesus do Itabapoana.
VALDEMAR NUNES. Possuía um sítio um pouco retirado da Serrinha. A terra era muito boa e, segundo comentários, não era necessário plantar para colher.
JOSÉ RIBEIRO. Seus filhos eram ótimos jogadores de futebol. Jogavam no time local conhecido como Brasileiro.
JOÃO BARBEIRO. Cortava cabelo e tocava sanfona com habilidade. Realizava bailes por toda a região.
CHICO LIVINO. Possuía uma venda, que era muito frequentada. Neste comércio, vendia até carne de porco.
ALÍPIO FREITAS. Fazendeiro que possuía um jeepe, considerado um "carrão", na época.
OSCAR PERÓ. Homem muito sério, nunca tirava o chapéu.
MANOEL GOMES. Fazendeiro. Quase todos os filhos foram para o Rio de Janeiro. Era tratado como Manoel Gominho.
ANTONIO APOLINÁRIO. Na Serrinha, o padroreiro era São José. Como a igreja era pequena, ele cedeu um terreno para ser construída outra igreja, mas ele queria que o nome do padroeiro fosse trocado para Santo Antõnio. Sua sugestão, contudo, não foi aceita. Conta-se que, depois, ao limpar uma arma, acidentalmente disparou um tiro, que acertou em sua vista. Esse episódio foi interpretado como uma mensagem do padroeiro São José.
ANTONIO VELASCO. Homem que socorria todas as pessoas que procuravam por sua ajuda.
MANOEL GOMES. Conhecido como Manoel Gomão. Gostava muito de ir à venda e pedir carne-seca e cebola. Comia até ficar satisfeito.
LIOBINO. De família qualificada. As visitas não saiam de sua casa sem tomar café e comer alguma coisa.
JOÃO ROCHA. Fazendeiro. Família morava em Campos. Ele levava frutas para a família e trazia as cascas para tratar dos porcos.
GODOFREDO NUNES. Possuía um salão onde ocorriam os matinês do Carnaval.
MANOEL BENTO DE ALMEIDA. O Neca Bento. Homem forte, gostava muito de falar. Tinha saúde, enquanto sua esposa, conhecida como Quiquinha, costumava ficar adoentada. Ele, contudo, faleceu com cerca de 40 anos, enquanto sua esposa viveu até os 104 anos.
SILVÉRIO ANDRADE. Homem rígido, possuía uma máquina de pilar arroz e de café. Era conhecido como Filim Andrade.
Dessas 27 (vinte e sete) pessoas, 3 (três) estão vivas: CATARINA, SILVÉRIO ANDRADE e NEM GUIMARÃES.