Somente em meados do século XIX a região começou ser frequentada em virtude do recuo das populações indígenas. 
Seria criada, então, a Vila de Limeira às margens do Itabapoana, local de um dos núcleos de povoamento de Vila da Rainha. 
De fato, a partir de meados do século XIX verifica-se uma grande 
expansão na província do Rio de Janeiro e no interior de Minas Gerais. A
 criação de vias de acesso para o interior eram imprescindíveis. E o 
mais fácil, considerando-se os meios de transportes disponíveis na 
época, seria a exploração das vias fluviais e a melhoria dos acessos a 
elas existentes. O rio 
Itabapoana era
 considerado de 
extrema importância, sobretudo pelo presidente da Província de Minas 
Gerais. No relatório encaminhado ao Senador Manoel Teixeira de Souza 
pelo vice-presidente da Província de Minas Gerais, este ressalta a 
relevância dos portos de 
Limeira, do Rio Muriaé, e o de São João da Barra para escoar as produções de café, madeiras e outros gêneros. Faltava, no entanto,
Prover de remédio a lavoura e o comercio dos povos do Itabapoana,
 únicos que se achão até o presente fazendo a exportação de seus 
produtos com grande dificuldade e dispêndio, ora procurando os portos 
vizinhos, onde há vapores, ora descendo o Itabapoana em canoas para aproveitarem os barcos a vela que do Itabapoana navegão para a corte…  
Principalmente após 1860, observam-se as notícias sobre a criação da freguesia de 
Limeira, seu desenvolvimento, projetos de estradas, de canais e da navegação fluvial no 
Rio Itabapoana.
 Também os grandes levantamentos topográficos e cartográficos sobre 
Província do Rio de Janeiro passam a incluir maiores informações sobre o
 
Itabapoana e os seus arredores.

O Conselheiro considerou tão importante 
prover de remédio essa
 situação que se empenhou em ajudar a incorporar uma sociedade e 
contratá-la com os governos das Províncias do Rio de Janeiro e Espírito 
Santo para saná-la. O projeto visava prover de
(…) 
navegação a vapor do rio Itabapoana, em uma extensão de 10 léguas, desde o Porto da Limeira
 até a povoação de São Sebastião da Barra de Itabapoana, onde deve tocar
 duas vezes por mês, logo que encetada seja a navegação fluvial, os 
vapores de quaisquer das linhas que actualmente partem da Corte para os 
portos vizinhos à dita povoação.
 
O Conselheiro mostrou-se extremamente esperançoso de que em futuro 
muito próximo todos da população ribeirinha possam usufruir desses 
benefícios.
 E conclui, ressaltando a extrema necessidade de fazer melhorias urgentes nas vias de acesso à 
Limeira
 e suas ligações à Barra de Pirapitinga e à Natividade.  Infelizmente, 
esse projeto revelou-se muito mais complicado do que parecia ao otimista
 Conselheiro Vicente Pires da Motta.
O porto
 ficava no modesto povoado da 
Vila da Limeira, 
originado a partir de uma aldeia de pescadores que ali se instalara 
desde que os nativos deixaram aquela região. Esse povoado conheceu uma 
efêmera expansão com a 
criação do Porto da Limeira que, segundo 
Alberto Lamego, foi instalado no local da antiga Vila da Rainha, fundada
 por Pero de Góes[1].
A partir de 1850 os relatórios de presidente de Província dão notícias frequentes sobre a criação do 
Porto da Limeira
 e da disputa do município de São João da Barra para inseri-lo em sua 
jurisdição. Inclusive, com a expansão desse povoado, o Município de São 
João da Barra pede que se revejam os limites acordados com o município 
de Campos dos Goitacazes, projeto que já havia sido aceito por São João 
da Barra em 1856.
Os relatórios dos anos seguintes mencionam seguidamente o projeto de navegação para o Rio 
Itabapoana,
 as dificuldades para executá-lo e os adiamentos requeridos pelos 
engenheiros. Reiteradas vezes menciona-se a necessidade de melhoria das 
estradas e pontes que dão acesso à 
Vila da Limeira para Pirapitinga, imprescindíveis à viabilidade da navegação do rio 
Itabapoana.
O relatório encaminhado em 1863 à Assembleia Legislativa Provincial 
de Minas Gerais pelo Presidente da mesma província, Conselheiro João 
Crispiniano Soares, demonstra a profunda insatisfação com a situação não
 resolvida acerca da instalação da navegação no 
Itabapoana. Ele faz uma detalhada exposição comunicando que se dirigira ao
 Cidadão Carlos Pinto de Figueiredo à respeito da empresa que se acha à testa cobrando-lhe
 as providências necessárias para resolver o problema de comunicação das
 três províncias. Seguiu-se um longo e detalhado relatório organizado, 
segundo ele, com a colaboração do 
engenheiro Aroeira no qual ele 
exorta as autoridades competentes e as províncias envolvidas para que 
encontrem os meios de resolver as dificuldades 
e simultaneamente atender ao commercio das três províncias.  O relatório chama a atenção para a situação estratégica do 
Porto da Limeira, no Itabapoana,
 observando que por sua posição mais ao norte é o porto que mais 
vantagens oferece ao comércio e aos sobreditos municípios e à 
comunicação com a corte
.
As providências foram tomadas pelas informações prestadas pelo 
Desembargador Luiz Alves de Leite de Oliveira Bello ao passar a 
administração da província do Rio de Janeiro em 1863. Ele anuncia que 
celebrou os contratos com os engenheiros Carlos Pinto de Figueiredo 
Eduardo Joaquim Pereira de Oliveira conforme a Lei 1233 de novembro de 
1861 para a exploração do Rio Itabapoana. O relatório de 1863 informa 
sobre os melhoramentos da estrada de 
Limeira à Barra de Pirapetinga
.
Finalmente, o relatório encaminhado em 3 de maio de 1864 pelo 
primeiro vice-presidente Tavares Bastos ao presidente da Província do 
Rio de Janeiro, Conselheiro João Chrispiniano Soares, traz uma notícia 
alvissareira:
Com satisfação dou conhecimento a V. Sa., no dia 20 de abril da inauguração da linha de navegação fluvial no Itabapoana
 a esforços da sociedade representada pelos comendador Carlos Pinto 
Figueiredo e Major Eduardo Joaquim Pereira de Oliveira abrindo assim os 
empresários uma estrada rápida para o prospero futuro ao commercio e 
lavoura de vários municípios e de não menos três províncias 
interessadas.
Depois de uma viagem a São João da Barra, em 3 hora e meia e de 
rebocar para fora da barra do Itabapoana 2 navios que seguião para a 
Corte, empreendeu o pequeno vapor da sociedade a subida do rio até então
 usado por canoas e balsas, e tocando na foz do rio Preto e na de Santa 
Cruz, galgou o Porto da Limeira, saudando-o numeroso concurso dos povos do interior.
Dissipadas as dúvidas da praticabilidade da navegação, que nascião
 das muitas voltas e correnteza do rio, ficou reconhecido que com alguns
 mais melhoramentos e aperfeiçoando o vapor, o serviço de navegação 
far-se-a mais rápido e na razão das mais agradáveis aspirações da 
empresa e do público.  
 Ao que parece, no entanto, não foram feitos os 
aperfeiçoamentos necessários pois os numerosos relatórios subsequentes 
informam as dificuldades com a navegação, com as obras ainda pendentes, 
com as plantas não entregues pelos mencionados engenheiros responsáveis 
pela sociedade de navegação. O relatório de 1865 informa que haviam sido
 prorrogados os prazos requeridos pelos procuradores da empresa de 
navegação do Itabapoana. A justificativa alegada pelo vice-presidente da
 Província, o conselheiro Tavares Bastos, para a concessão solicitada, 
era o interesse que várias famílias norte americanas haviam demonstrado 
em se fixar na região, 
dispostas a virem viver na comunhão brasileira.  
O relatório de 1866 informa que tendo em vista as dificuldades 
experimentadas e por não ser naquele momento considerável a afluência de
 cargas e passageiros, a pedido da sociedade de navegação resolve o 
Governo Provincial reduzir, como de fato fez, 
a quatro o número de viagens mensais (…).
Os relatórios subsequentes informam sobre as muitas dificuldades 
relativas ao projeto em curso e há contínuas reclamações sobre o atraso 
das obras necessárias para que funcionasse a contento a linha de 
navegação
. No entanto, a necessidade de transporte fluvial como 
meio de interligação com o interior das Províncias do Rio de Janeiro, de
 Minas Gerais e do Espírito Santo foi minimizada a partir da instalação 
da estrada de ferro. A região que passaria a ser atingida através da 
navegação no Rio Itabapoana viu-se atendida pelo transporte ferroviário,
 como se pode ver no mapa, de 1887
 e no mapa esquemático organizado a partir das informações coligidas em 1888.
 
A ligação com o interior de Minas Gerais e com Santo Eduardo no 
Itabapoana atenderia aos problemas de transporte. O projeto da navegação no Itabapoana afundara nas muitas dificuldades e o 
Porto da Limeira
 viu-se abandonado. O mapa de 1887, mandado organizar pelo presidente da
 Província Dr. Antônio da Rocha Fernandes para servir ao serviço de 
imigração mostra-nos um panorama interessante: a região em torno do 
Itabapoana
 ainda permanece pouco ocupada. E a informação desse mapa corrobora os 
mapas de 1868 e o mapa esquemático levantado a partir das informações de
 1860: uma grande concentração de engenhos e fazendas pode ser observada
 em torno do Paraíba e em direção ao Muriaé. As setas indicam a 
navegabilidade do rio Itabapoana, mas 
Limeira, cuja indicação aparece no mapa de 1868, já não consta mais nesse mapa. Há, sim, a indicação da ferrovia chegando a Santo Eduardo
.
 Em 1896, seria criada a ferrovia Estrada de Ferro Itabapoana, ligando 
inicialmente essa estação à fazenda da Boa Vista, hoje cidade de Apiacá,
 e a estação de Santo Eduardo perderia grande parte de sua utilidade.
Além disso, o próprio povoado de 
Limeira viu-se em decadência 
em virtude de febres palustres que atingiram seus moradores. Assim, 
tendo sido transferido para a região montanhosa com o nome de São Pedro 
de Itabapoana. E essa situação justificaria o comentário feito muitos 
anos depois por Alberto Lamego sobre o engenho de 
Pero de Góes:
Onde hoje existe o decadente povoado de Limeira, havia sido construído, 300 anos antes, um engenho de açúcar movido à água, o primeiro
 que existiu na terra goytacá. [1]
[1] Lamego, Alberto. 
Terra Goitacá, 
op. cit., t. V, pp. 259.
 http://gerson-franca.blogspot.com.br/2009/11/serpa-estao-tranformando-limeira-do.html
Serpa, estão tranformando Limeira do Itabapoana em Vila da Rainha!
Você sabe quem foi Phocion Serpa?
Talvez, 
principalmente se você for da área da medicina, o conheça. Ele, além de 
médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, escreveu 
uma famosa biografia de Oswaldo Cruz; e ele foi também Secretário Geral 
do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) na década de trinta. Se
 você for natural de Campos/RJ, talvez também o conheça. Ele é natural 
deste Município, onde nasceu em 1892.
Serpa, onde quer que esteja
 hoje (ele faleceu em 1967), não deve estar satisfeito com a recém 
"descoberta" das "inéditas" ruínas que os pesquisadores do Museu 
Nacional "acharam". Afinal, Serpa nasceu ali, na antiga e hoje 
desaparecida Limeira do Itabapoana, da qual só sobraram as ruínas. Estão
 dizendo que o seu torrão natal, que por muitos anos quedou enterrado 
sob sedimentos e mato, seria a antiga e quinhentista Vila da Rainha, 
edificada por Pero de Góis provavelmente em 1536.
O que deve 
deixar Serpa mais triste é o fato de que ele foi Secretário do Conselho 
Nacional de Cultura, no final da década de trinta. Como pesquisador e 
escritor que foi, ligado à área da cultura, deve estar pensando: "como 
podem os pesquisadores do Museu Nacional confundirem as ruínas da antiga
 Limeira do Itabapoana como se fossem da extinta Vila da Rainha?"

Documentos
 sobre a existência do povoado e porto de Limeira de Itabapoana são 
fartos. Todos os trabalhos sobre a geografia e história do Espírito 
Santo elaborados no século XIX, contemporâneos à existência do núcleo, 
citam Limeira como povoado e porto, informando que ficava este até onde o
 Itabapoana era navegável desde a foz.
Quando os mineiros e 
fluminenses penetraram na região do vale do Itabapoana, no final da 
primeira metade do século XIX, e iniciaram a colonização local abrindo 
fazendas de café, o porto de Limeira acabou se tornando escoadouro 
natural para toda a produção cafeeira do médio e alto Itabapoana. Toda a
 produção regional era transportada por tropas até os arraiais de Bom 
Jesus e de Limeira, descendo desta última em pequenas embarcações até a 
Barra do Itabapoana, de onde seguia para a cidade do Rio de Janeiro, 
então capital do Império.
História e Estatistica da Prov. do Esp. Santo - José Marcellino P. Vasconcellos - 1858
O
 arraial se transformou em povoado, e cresceu. Com o passar do tempo, 
foi erigida uma Capela (da qual ainda hoje existem as ruínas), foi 
estabelecido posto fiscal e de arrecadação, foi construída uma escola, e
 até uma linha de navegação à vapor ali operou. Obviamente que os 
povoados interioranos do século XIX não podem ser comparados às nossas 
cidades interioranas de hoje; mas, para a época e para a região, Limeira
 era um povoado relativamente próspero.
Narrativa do Dep. Affonso Celso na Sessão da Câmara dos Deputados - 04/06/1864 
 
E
 agora, por desconhecimento de nossa história local, estão sepultando de
 vez o povoado e porto de Limeira do Itabapoana, imputando aos seus 
restos, única coisa que sobrou de um rico passado, a alcunha de Vila da 
Rainha.
Por favor, não façam essa desfeita para com Phocion Serpa!
E, pensando bem, Pero de Góis também não deve estar muito satisfeito...
Gerson Moraes França
Fontes -
Biografia de Phocion Serpa:
http://www.coc.fiocruz.br/areas/dad/guia_acervo/arq_pessoal/phocion_serpa.htm
Ensaio sobre a História e Estatistica da Provincia do Espírito Santo
Por José Marcellino Pereira de Vasconcellos - 1858
Anais da Câmara dos Deputados, Volume 2, 1864
Arquivo pessoal
 
 
 
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