Da série Entrevistas de O Norte Fluminense
O FILHO VENCEDOR DA BRAÚNA
Mauro Borges Alvarenga e Maria Aparecida Borges de Rezende |
Mauro Borges Alvarenga é filho de Álvaro Leite Alvarenga e Elisa Teixeira Borges. Nasceu em Braúna, zona rural de Bom Jesus do Itabapoana, no dia 06 de janeiro de 1935.
Seus avós paternos são Felicíssimo Leite Alvarenga, oriundo de Caraguases (MG) e Albertina Pereira, nascida em Miraí (MG). Os avós maternos são Ancleto José Borges e Maria Leopoldina.
Mauro casou-se com Maria Aparecida Borges de Rezende em 1961, em São José do Calçado, e possui dois filhos: Maurelisa, casada com Jorge Elias Moreira Moulin, e Carlos Alberto Rezende Alvarenga, falecido.
Possui uma neta: a médica dra. Stephanie Rezende Alvarenga Moulin.
Stephanie e seu tio Carlos Alberto, na festa de 15 anos |
Teve 4 irmãos. Três do primeiro matrimônio de seu genitor: Eloisio, já falecido, Maria Aparecida e Nilda. Ivone é irmã do segundo casamento. A família de Mauro considera, ainda, Sebastião Benedito de Souza, como irmão de coração.
A Infância
Quando contava com 5 anos de idade, sua mãe, com 38 anos, faleceu.. Este fato marcou Mauro pelo resto da vida. Como seu pai casou-se novamente, Mauro foi morar com sua irmã mais velha, Maria Aparecida. Posteriormente, voltou ao convívio do pai em Braúna para, em seguida, ir residir com os tios Orestes Leite ALvarenga e Lola, em Itaperuna (RJ).
Eliza Borges Alvarenga e Álvaro Leite Alvarenga, pais de Mauro, na Braúna, em 1919 |
Quando possuía 14 anos, foi morar na casa do seu padrinho de batismo, Osório Carneiro, passando a trabalhar no jornal A Voz do Povo, de propriedade deste. Segundo Mauro, seu pai foi subdelegado em Pirapetinga, na ocasião em que Osório era delegado de polícia, nos idos de 1942. Durante um ano e e meio, trabalhou como entregador de jornal. "Eu entregava o jornal descalço. Recordo-me que Osório tinha também um serviço em Itaperuna. Trabalhavam em A Voz do Povo Athos Fernandes, como redator, e José Maria Garcia, na parte contábil. Athos, que era um gênio, era o braço direito de Osório e costumava fazer editoriais, tudo de acordo com ele", assinala.
Álvaro Leite Alvarenga, pai de Mauro, em frente à rodoviária, em 1966 |
Tiragem de 4 mil exemplares, semanalmente
De acordo com Mauro, "havia cerca de 7 funcionários que trabalhavam na oficina de A Voz do Povo. A sede era localizada na Praça Governador Portela, ao lado do antigo cinema. A Voz do Povo tinha tiragem de cerca de 4 mil exemplares, com mais de mil assinantes só em Bom Jesus do Itabapoana".
Em relação à convivência com O Norte Fluminense, Mauro diz que "não havia rivalidade. Esio Bastos e Osório eram amigos. Osório era uma das pessoas mais honestas que conheci, e procurei me espelhar nele. Era bom para a família e um amigo, mas era pesoa de pouca conversa. Ele não tinha medo de nada".
Pseudônimos de Osório Carneiro
Prossegue Mauro: "Osório costumava escrever artigos e colocar pseudônimos. Recordo-me de alguns utilizados por ele: Lírio do Campo, Salvador Santiago, Idalécio Marques e Professor Paulino Lorena, sendo este o que mais se destacou", salientou.
Segundo Mauro, Osório publicava, vez ou outra, uma entrevista com o Professor Paulino, que "segundo ele escrevia, costumava ficar ausente de Bom Jesus, por um bom tempo". Sobre a cidade, o Professor entrevistado reclamava, criticando o prefeito: " O Professor Paulino dizia, no texto: isso virou uma bagunça! Tanto tempo sem vir aqui em Bom Jesus e quando retorno, vejo as ruas cheias de buraco". Mauro, como era entregador do jornal, se recorda da reação negativa de alguns leitores do jornal, com a crítica ao prefeito: "Como pode ser que um sujeito do Rio de Janeiro venha para Bom Jesus e fique a criticar a cidade?".
Quando Osório Carneiro ficou adoentado, foi internado em Cachoeiro de Itapemirim (ES). Mauro se recorda da visita que fez ao padrinho: " Ele já não podia escrever e enchia os olhos de lágrima quando falava sobre A Voz do Povo, pois teve de vendê-lo. Morreu lá, mas foi enterrado em Bom Jesus."
História de tipógrafo (I) - Athos Fernandes
Mauro se recorda de vários episódios ocorridos quando trabalhou nos jornais A Voz do Povo, O Norte Fluminense e Gráfia Três Rios. Lembra que "Athos Fernandes era muito brincalhão. Certa vez, no jornal A Voz do Povo, ele chamou alguns tipógrafos para corrigirem um texto. Athos solicitou atenção para a matéria, enquanto a lia rapidamente.Ocorre que ele costumava ler uma palavra diferente da que estava escrita no texto, para ver se os tipógrafos apontavam o equívoco, e mostrassem que estavam prestando atenção no texto. Ao ler um texto, falou sobre a 'banda de música de São José do Calçado', enquanto o texto dizia: 'banda de música de Bom Jesus'. Como ninguém apontou a troca, ele exclamou: "Vocês não estão prestando atenção no texto escrito, enquanto eu leio.Pelo que observo, vocês só podem estar pensando em namorar!".
Historia de tipógrafo (II) - Octacílio de Aquino
Mauro, após trabalhar em A Voz do Povo, foi atuar como tipógrafo em O Norte Fluminense.
Nesta época, se recorda de uma personalidade de destaque: Octacílio de Aquino. "Octacílio de Aquino gostava de acompanhar a composição e fazer a correção das matérias. Certa vez, nas dependências do jornal, dirigiu-se ao tipógrafo Dalci e solicitou que ele lesse o texto onde estava escrito "passa-se 6" e perguntou a ele: 'Por que escreveu isso?". Dalci respondeu que fez a composição conforme estava escrito no texto. E Octacílio replicou: 'quando eu escrevi 'passa-se 6' era para alertá-lo para deixar um espaço de 6 linhas". Mauro se recorda, ainda, de que Octacílio de Aquino era considerado um homem além de seu tempo.
História de tipógrafo (III) - Luciano Bastos
"O Norte Fluminense era comandado por Ésio Bastos, com o apoio de Luciano Bastos. Na parte debaixo do prédio, ficavam as máquinas, enquanto na parte de cima ficavam os tipógrafos, compondo as matérias.Certo dia, por volta das 15 h, como não havia matéria para compor, os tipógrafos resolveram dar um cochilo e colocaram Golinha, compadre de Luciano Bastos, para ficar de vigia. Ocorre que Golinha preparou uma brincadeira para puxar o pé do funcionário José Russo, quando este subisse a escadaria. O fato é que Luciano Bastos chegou de repente e subiu a escada embalado. Quando o primeiro passo foi dado na parte de cima, Golinha lançou a mão no pé de Luciano Bastos, que, surpreendido, exclamou: 'Até você compadre?' "
História de tipógrafo (IV) - O tipógrafo que corrigiu o patrão
Outro episódio que suecedeu na tipografia, ocorreu quando Mauro trabalhava na Gráfica Três Rios, na cidade do mesmo nome:."O colega Mário, que corrigia as matérias, viu um texto intitulado 'ASSOCIAÇÃO EMPATOU AO APAGAR DAS LUZES'; e exclamou: 'Quem foi o analfabeto que escreveu este título?". Eis que o colega Álvaro apressou-se para alertá-lo: ' fala baixo que foi o nosso chefe!'. Mas Mário não se conteve: 'Mas isso é coisa de analfabeto, sim, porque o jogo ocorreu no período do dia!".
História de tipógrafo (IV) - O tipógrafo que ensinou ao professor
Mauro conta, ainda, outro episódio envolvendo ele próprio, ainda em Três Rios. "Eu estava iniciando meu trabalho por lá, quando o professor Coutinho, que escrevia sobre futebol, se dirigiu a mim e disse: " Eu escrevi a palavra 'douto' e você substituiu-a por 'doutor'. Você está querendo me corrigir? O sr. vem de Bom Jesus para dar aula para um professor?'. Sofri gozação o tempo inteiro por causa desse episódio.
Miquelina e seu Pancrácio
Mauro se recorda, ainda, de duas personagens criadas por Segisnando Martins e publicadas em O Norte Fluminense: dona Miquelina e seu Pancrácio, que criticavam os problemas do município: "Eram personagens engraçados e que divertiam os leitores".
O fim da estação de trens
Outro fato digno de nota foi a época do fechamento da estrada de ferro em Bom Jesus do Norte. "Recordo-me que, na década de 1950, João Soares era proprietário da empresa Força e Luz. Com o fim da estação de trem de Bom Jesus do Norte, houve uma coincidência com os problemas surgidos pelo fornecimento de energia elétrica. Houve uma revolta geral e várias pessoas passaram a quebrar as lâmpadas dos postes. Graças ao governador Roberto Silveira, com a construção da Usina Franco Amaral, os problemas de energia foram solucionados".
Ida para Três Rios
Quando trabalhava em O Norte Fluminense, Mauro recebeu proposta para fazer um teste, na Gráfica Três Rios. Mauro aceitou o desafio e, junto com Golinha, levaram dois dias para chegar a Três Rios. "Fui aprovado no teste e passei a receber mais de três vezes do valor que eu recebia em Bom Jesus. Nesta gráfica eu compunha para três jornais: Protetor de Petrópolis, Esportivo e Entre Rios".
Mauro: tipógrafo em Três Rios, com seu colega Sebastião Tavares |
Mauro brilhou no futebol em Três Rios |
Mauro obteve reconhecimento em Três Rios |
Ocorre que, posteriormente, o irmão de Mauro, Didi, estabeleceu um comércio de secos e molhados na rua Aristides Figueiredo, em Bom Jesus, em sociedade com Ronaldo Borges Sobrinho, e convidaram-no para trabalhar com eles. Foi assim que Mauro despediu-se de Três Rios, ocasião em que recebeu expressiva homenagem dos colegas e amigos.
Enói Borges de Rezende e Euclides Vieira de Rezende, pais de Maria Aparecida, em São José do Calçado, em 1925 |
Após o retorno a Bom Jesus do Itabapoana, Mauro casou-se e, passados dois anos, mudou-se para Divino de São Lourenço (ES) para acompanhar sua esposa, que fora trabalhar como professora.
Mauro e Maria Aparecida, no dia 16/07/1961, em Sâo José do Calçado |
Tempos depois, Mauro foi convidado para trabalhar em uma loja de secos e molhados, de propriedade de Sílvio Figueiral Ribeiro, pai de Jaime Figueiral., em Apiacá. "Ele me disse: 'você vai trabalhar para mim, vendendo tecido na Casa Santa Terezinha' ".
Mauro se emociona ao relatar esse episódio."Após um período trabalhando como comerciário, fui convidado para trabalhar na loja A Triunfante, em Bom Jesus, para ganhar três vezes mais. Aí, o Sílvio chegou e me disse: 'não vá, vou te vender minha loja'. Eu respondi :'Mas eu nâo entendo de administração de comércio'. E Sílvio replicou: 'mas você sabe como lidar com o público. Além disso, os funcionários te ensinarão tudo. Vou passar a loja para você. Fica comigo, estou cansado. É um bom negócio' ". Mauro acabou aceitando o desafio e chegou a fazer com que o comércio chegasse a ter "290 fregueses".
Osório Carneiro e Sílvio Figueiral são as pessoas que Mauro se lembra com gratidão.
Mauro, Pedro Salim e Amilcar: os vencedores do campeonato de damas do Bar Rio, em frente ao Aero Clube, em 1985:"Nunca vi um jogador como Pedro Salim", diz Mauro |
Com 51 anos de casado, Mauro olha para trás e reconhece que "tudo foi difícil". A emoção lhe domina mais uma vez, por alguns instantes, e os olhos marejam.
Mauro volta os olhos, contudo, para os dias de hoje e diz sentir um "orgulho" pela família que possui."Não sou um grande homem, mas considero acertado o ditado que diz 'por trás de um grande homem há uma grande mulher'. Minha esposa mudou minha vida. Tudo o que tenho agradeço a Deus e a minha esposa. Além disso, tenho uma filha, um genro e uma neta extraordinários".
Mauro, entre Maria Aparecida e dra. Stephanie, com o casal Jorge Elias e Maurelisa: o maior tesouro |
O menino da Braúna, que perdeu a mãe aos 5 anos de idade, e enfrentou, desde cedo, grandes dificuldades em sua vida, sobressai, hoje, como exemplo de homem vencedor que, ao invés de dedicar-se a lamentar a sorte, procurou lutar e a construir o seu próprio destino. Além disso, possui, hoje, o maior tesouro, que é sua família, composta especialmente por sua esposa, Maria Aparecida, sua filha, Maurelisa, seu genro Jorge e sua querida neta, a médica dra. Stephanie.