|
Merhige Hanna Saad foi homenageado no dia 18 de setembro, por ocasião da Festa da Providência, na Praça Governador Portela |
O libanês Merhige Hanna Saad foi homenageado, juntamente com Padre Mello, no dia 18 de setembro passado, por ocasião da Feira da Providência, organizada por Raul Travassos, na Praça Governador Portela, em favor das obras da Igreja.
|
Michel Saad, Maria Cristina, Patrícia, Ismélia, Maura, Eunice e Marian Saad Sauma vieram a Bom Jesus para a homenagem a Merhige Hanna Saad |
Estiveram presentes ao evento as filhas Ismélia, viúva do governador Roberto Silveira, Marian e Maria Cristina, além de Michel Saad, ex-deputado estadual e diretor do jornal A Voz do Povo, Eunice e Patrícia Saad.
|
Preciosidade arquitetônica da Praça Governador Portela foi preservada por Merhige Hanna Saad |
Ismélia Silveira afirmou ao O Norte Fluminense, na residência de seus pais, localizada na Praça Governador Portela, que chegou a ser sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro por ocasião das Festas de Agosto nos anos de 1959 e 1960, quando Roberto Silveira foi governador: "Agradeço a Raul Travassos pela homenagem.
Todos ficamos emocionados com a lembrança de meu pai, porque com ele
aprendemos a ter o amor à família de uma forma sólida. Ao nosso pai, só temos palavras de agradecimento por tudo o que ele foi para nós".
|
Edifício Monte Líbano foi inaugurado por Merhige no dia 14 de agosto de 1950, com cinema com capacidade para mil pessoas |
De acordo com Marian Saad, "meu pai era um homem
idealista e sonhador, que lutava pelo desenvolvimento de Bom Jesus do
Itabapoana. Por isso, sempre luto para que o prédio do edifício Monte
Líbano seja destinado a um fim útil para a comunidade. Recordo-me que
minha mãe recusou a proposta de uma igreja que desejava comprar o
prédio, pois ela também desejava que o imóvel tivesse uma finalidade
pública, conforme o desejo de meu pai".
Prossegue Marian: "Recentemente, ao desfazer-me de livros para um sebo, observei um que me chamou a atenção: tratava-se de uma obra sobre 'Stonehenge', que é uma estrutura de pedras gigantes dispostas em círculos concêntricos e que foram encontradas nas Ilhas Britânicas. Estas pedras são, até hoje, alvo de estudos sobre sua origem. Este livro chamou-me atenção e decidi lê-lo. Ao folheá-lo, contudo, encontrei, para minha surpresa, um papel contendo uma "Prece Árabe", que eu desconhecia. Ao lê-la, observei que ela retratava tudo o que meu pai foi em vida. E me emocionei muito.
Prece Árabe
"Deus, não consintas que eu seja o carrasco que sangra as ovelhas, nem uma ovelha nas mãos dos algozes.
Ajuda-me a dizer sempre a verdade na presença dos fortes, e jamais dizer mentiras para ganhar os aplausos dos fracos.
Meu Deus, se me deres a fortuna, não me tires a felicidade; se me deres a força, não me tires a sensatez; se me for dado prosperar, não permita que eu perca a modéstia, conservando apenas o orgulho da dignidade.
Ajuda-me a apreciar o outro lado das coisas, para não acusar meus adversários com mais severidade do que a mim mesmo.
Não me deixes ser atingido pela ilusão da glória, quando bem sucedido, e nem pelo desespero, quando derrotado. Lembra-me que a experiência de uma queda poderá proporcionar uma visão diferente do mundo.
Ó Deus! Faça-me sentir que o perdão demonstra força, e que a vingança é prova de fraqueza.
Se me tirares a fortuna, deixe-me a esperança. Se me faltar a saúde, conforta-me com a graça da fé. E, quando me ferirem a ingratidão e a incompreensão dos meus semelhantes, cria em minha alma a força da desculpa e do perdão.
Finalmente Senhor, se eu Te esquecer, Te rogo que nunca Te esqueças de mim".
Maria Cristina assentou, por sua vez: " Nosso pai nos deu exemplo de vida, de amor à família. E essa é uma preciosidade que levamos a cada momento em nossas vidas".
|
Michel Saad, ex-deputado estadual e diretor de A Voz do Povo |
Segundo Michel Saad, " quando propuseram a Merhige investir seus lucros em Niterói, ele respondeu: - Vou investir em Bom Jesus o que ganhei em Bom Jesus. Isso revela o amor que ele tinha pela cidade. Na época, ele poderia ter comprado cerca de 9 (nove) apartamentos em Niterói, mas preferiu construir o edifício Monte Líbano em Bom Jesus. Ele era um homem desprendido e exemplo de dignidade ", salientou.
Para Maura Saad, "a palavra principal que tenho de
utilizar, quando me recordo de Merhige, é 'gratidão'. Merhige esteve
sempre presente em nossas vidas, apoiando-nos em todas as circunstâncias, sempre com um gesto de proteção e de amor, que incluiu meu saudoso marido Antônio Merhige. Isso é muito raro, hoje em dia".
|
Patrícia Saad: neta de Merhige e Alzira Saad |
A neta Patrícia Saad, filha dos saudosos José Saad, ex-deputado estadual, e Olga Saad, esteve em Bom Jesus para a homenagem a seu avô. São 3 irmãos: Elizabeth, magistrada, e os empresários José (Zeca) e Ricardo, com 8 bisnetos de Merhige e Alzira. Ela assinalou ao O Norte Fluminense: "meus avós eram discretos, carinhosos e honrados. Vejo em nossas famílias uma imagem de continuidade do que foram nossos pais e avós. A união de nossa família é fruto do legado de nossos avós".
UM POUCO DA HISTÓRIA DE MERHIGE HANNA SAAD
Da Série Famílias Tradicionais
|
Merhige Hanna Saad e Alzira Sauma Saad |
Merhige
Hanna Saad nasceu nas montanhas do Líbano, na localidade de Remahala em
18 de março de 1985, filho de Hanna Merhige Saad e Bader Saad. Casou-se em 24
de janeiro de 1927, na cidade de Tombos, MG, com Alzira Sauma, nascida em Santa
Clara do Carangola, RJ, em 17 de setembro de 1908, filha de José Sauma e Marian
Feres Sauma.
Em 1912, aos
17 anos, e já estando seus irmãos mais velhos Jarim Hanna Saad, no Brasil, e
Salim Hanna Saad, na Argentina, embarca para o Rio de Janeiro em um navio de
bandeira italiana. Aqui chegando, após passar poucos dias na capital segue com
Karim para o lugarejo chamado "Matinada", na "Encruzilhada dos
Turcos", como era conhecida a pequena casa misto de residência e loja
comercial naquela área cafeeira, onde atualmente encontra-se a fazenda do Dr.
Francelino França, em Natividade.
Porém, o
jovem Merhige, ou "Jorge" como era conhecido, não sabia nenhuma
palavra em português e tinha pouca instrução em árabe. Entretanto, com uma
determinação surpreendente e ajudado por um carreiro que ali passava
regularmente, aprende a ler e a escrever em português.
Em 1914,
transfere-se para Bom Jesus do Itabapoana (RJ) e, já em 1916, abre com seu irmão
Karim (ou Quirino como era conhecido) a firma "Quirino Antônio e
Irmão", uma loja de armarinhos e tecidos localizada na Rua Buarque de
Nazareth. Nesta época, mascateia pelo interior da região montado em um
burrinho, levando um baú com as amostras das mercadorias da loja para
encomendas, que eram entregues na viagem seguinte.
Em sua
primeira viagem, é acolhido pelo casal Amélia e Joaquim Teixeira de Oliveira
em um
episódio que ficou-lhe na lembrança com demonstração da generosidade
brasileira: chegando à tardinha na fazenda e pedindo pouso, é convidado para o
jantar. Com vergonha, agradece e diz que já tinha jantado, mas é repreendido
pela mentira e por fim levado à mesa do jantar, já que a dona da casa sabia que
não havia por ali lugar onde se pudesse comer.
Por volta de
1926, os irmãos começam a negociar com café, comprando e vendendo a mercadoria
pois parte do que recebiam ao mascatear tecidos era pago em café à época de
safra.
De seu
casamento com Alzira, em 1927, nascem seus 6 filhos: Marian Bader, que casou-se
com Edmundo Sauma: Ismélia, que casou-se com Roberto Silveira; José Antônio,
casado com Olga Borges Saad; Antônio Merhige, o "Pico", falecido em
1991, casou-se com Maura Mury Saad; Geraldo, falecido ainda criança; e Maria
Cristina, casada co Luis Roldão de Freitas Gomes.
Com a grande
crise econômica de 1929, os negócios com o café sofreram uma queda brutal
obrigando-o novamente a mascatear montado em seu burrinho até que a situação se
estabilizasse. Em pouco tempo, com trabalho árduo, os irmãos conseguiram
construir na vizinha Bom Jesus do Norte, perto da antiga linha do trem, um
grande armazém para estocagem do café, negociando já em 1939 mais de 40 mil
sacas por ano. Começam também a plantar café em suas fazendas Estrela, São
Benedito, e Boa-Fé, em Itaperuna.
Na década de 1940,
os irmãos passam a fazer negócios separadamente, quando Merhige passa a
investir em novas áreas como as salas de cinema, chegando a ser proprietário de
7 salas de projeção em Bom Jesus, Bom Jesus do Norte (ES), Vila Velha (ES), Colatina (ES) e
Baixo Guandu (ES).
Em 14 de
agosto de 1950, durante o banquete comemorativo de inauguração do Cine-Teatro
Monte Líbano, recebe o título de cidadão bonjesuense do qual sentia grande
orgulho. Marco na arquitetura da cidade, foi o primeiro edifício da região,
contando com dois andares de salas comerciais e uma construção impecável que
nada devia aos melhores teatros da capital. Por ali se apresentaram os maiores
nomes do teatro e da música brasileira, que passaram a incluir Bom Jesus em
suas turnês. Sete anos mais tarde, instala no segundo andar a Rádio Bom Jesus
de sua propriedade que abrigava grande acervo musical.
Em 1951, sua
filha Ismélia casa-se com a grande promessa política do Estado do Rio, o então
secretário de Justiça e futuro Governador Roberto Silveira. Nesta época, a
família se transfere para a casa ao lado do Cinema, em frente à praça Governador
Portela, onde recebem grandes personagens da política brasileira.
Em 25 de
abril de 1973, morre vítima de um infarto do miocárdio em sua casa em Bom
Jesus, cidade que não gostava de sair porque dizia que era ali que queria
morrer.
Sua viúva,
Alzira Saad, falece em Niterói em 1992.
Em 1999, a
família construída por Merhige e Alzira conta ainda com 17 netos e 17 bisnetos.
Do
livro "RESGATANDO O PASSADO, IMPORTANTE DOCUMENTÁRIO DE BOM JESUS -
LEMBRANÇAS E RECORDAÇÕES", de Heliton de Oliveira Almeida e João Batista
Ferreira Borges, Almeida Artes Gráficas, 2000. Republicado na edição de
outubro de 2014, de O Norte Fluminense.
OS ÚLTIMOS MOMENTOS DE MERHIGE HANNA SAAD
|
Quarto de Merhige e Alzira permanece intacto há mais de 60 anos |
No dia 19 de abril de 2014, Marian Saad Sauma relatou ao O Norte Fluminense sobre os momentos que antecederam a morte de seu pai:
"Meu pai, certa vez, estava passando mal de saúde e resolvemos trazer um médico de avião do Rio de Janeiro. Esse médico recomendou a ida dele a Niterói. Recuperou-se na casa de Ismélia. Papai ficou cerca de 3 (três) meses até receber alta. Quando
retornou a Bom Jesus, fez questão de ir ao Cine Monte Líbano e
cumprimentar seus funcionários. Em seguida, foi até a sua casa e entregou um chinelo que trouxera de presente para a mamãe. Segurou-a, então, pela mão, e andou com ela em
cada canto
da casa. Ao final, ele disse à mamãe com emoção: '- É aqui que temos de
ficar!'. Em seguida, minha mãe foi preparar uma canja para ele. Papai
foi tomar banho e, como de costume, não trancou a porta do banheiro.
Passado algum tempo, mamãe chamou por ele, que não respondeu. Mamãe
resolveu então entrar no banheiro e viu papai caído no chão, envolvido
na toalha: ele teve um colapso cardíaco e faleceu".
BONJESUENSE QUER HOMENAGEM OFICIAL A MERHIGE HANNA SAAD
No dia 25 de junho de 2014, o cidadão André Luiz de Oliveira encaminhou ofício à Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana indicando o nome de Merhige Hanna Saad para ser homenageado com o nome de via pública.
|
André Luiz de Oliveira quer homenagem oficial a Merhige Hanna Saad |
Segue o teor de seu ofício.
Bom Jesus do
Itabapoana, 25 de junho de 2014
Ilmo. Sr.
Presidente da Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana, Dr. Luciano
Nunes,
ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, residente à rua
Itaperuna, n. 175, Bairro Lia Márcia, nesta cidade, vem
respeitosamente indicar a Vossa Excelência, que, consultando seus pares,
realize necessárias homenagens, através de nomes de ruas, às seguintes personalidades:
Merhige Hanna Saad, libanês que aqui se radicou e colaborou
para o grande desenvolvimento de nosso município. Foi ele quem construiu com
sua capacidade visionária, por exemplo, o prédio Monte Líbano, localizado na
Praça Governador Portela, com cinema com capacidade para mil pessoas. Certa
vez, quando lhe sugeriram que aplicasse os seus lucros na cidade do Rio de
Janeiro, ele replicou: - aplicarei em Bom Jesus do Itabapoana, o que aqui eu
ganhei. Deve ser mencionado, ainda,
que, ao retornar de Niterói (RJ) onde fora para um tratamento de saúde, dirigiu-se
ao cinema, cumprimentou os funcionários; em seguida, entrou em sua casa e, em
companhia da mulher, Alzira, percorreu cada cômodo da residência, dizendo à mesma:
- aqui é o nosso lugar. Momentos depois, faleceu.
Manoel Araújo dos
Santos, conhecido
como Neneco, ex-vereador pelo distrito de Calheiros. Foi amigo, desde infância,
dos governadores Roberto e Badger Silveira. Quando crianças, todos se
deslocavam até a escola da Barra do Pirapetinga, onde estudavam com a
professora Olga Ebendinger.
Indica, ainda, que sejam conferidos títulos de cidadãos
bonjesuenses a
Faustino Ruiz Fernandez, espanhol radicado em Bom Jesus do
Itabapoana há vários anos. Seu pai e tio, oriundos da Espanha, construíram a
porta e os bancos da majestosa Igreja Matriz. Casado com a bonjesuense Maria
Aparecida Baptista, é pai do famoso jornalista esportivo Tino Marcos. Certa
vez, em entrevista a um jornal local, afirmou: “Sempre vou a Madri, rever os
parentes. Quando chego lá é tudo uma grande emoção por revê-los e aos amigos
mas, passado um mês, já fico com vontade de retornar a Bom Jesus do Itabapoana,
ao meu cantinho, onde vivo com tranqüilidade e paz. Aqui é o lugar que adotei
para viver” e
Tino Marcos, filho de Faustino Ruiz Fernandez,
com a bonjesuense Maria Aparecida Baptista, constitui uma personalidade
nacional. Foi criado em Bom Jesus do Itabapoana e é casado com a bonjesuense Virgínia
Maria Baptista. Está sempre em nossa cidade, por quem nutre carinho e
consideração.
Atenciosamente
ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA