terça-feira, 16 de junho de 2020

ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE



Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"


Enviado por Antonio Soares Borges

2 comentários:

  1. Maravilhoso!!
    Amo os poemas de Camões!!❤❤

    Extremos são de amor os que padeço,
    Ó humano tesouro, ó doce glória;
    E se cuido que acabo então começo.

    Assim te trago sempre na memória;
    Nem sei se vivo, ou morro, mas conheço,
    Que ao fim da batalha é a vitória.

    Luís de Camões

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