domingo, 14 de dezembro de 2025

Nasce no Rio a Tuna Açoriana: Tradição, Cultura e Identidade

 


















A noite em que as ilhas cantaram no Rio

No dia 13 de dezembro, às 20h30, a Casa dos Açores do Rio de Janeiro viveu um daqueles instantes raros em que a memória deixa de ser passado e se transforma em presença viva. Foi a noite de estreia da Tuna Açoriana da Casa dos Açores do Rio de Janeiro, um acontecimento que se inscreve não apenas na cronologia da instituição, mas no afeto coletivo de uma comunidade inteira.

Havia, naquela sala, um silêncio atento antes da primeira nota, o mesmo silêncio que antecede os grandes encontros. A Tuna trazia consigo a herança da antiga Tuna Terceirense, que existira por breve período, mas cuja chama jamais se apagou. Agora, refundada, surgia renovada, com sete membros e uma alma cheia, reafirmando que tradição não é repetição: é continuidade com sentido.

Uma tuna açoriana é um grupo musical e cultural que preserva, celebra e divulga a identidade açoriana, sobretudo por meio da música, do canto coletivo e do convívio comunitário. Mais do que executar canções, ela cria pertencimento, fortalece vínculos e transforma herança em gesto vivo.

O caráter memorável da noite foi reconhecido para além das paredes da Casa. A TV Alcance, de Bom Jesus do Itabapoana, percorreu cerca de 400 quilômetros para registrar o momento. À frente da cobertura estavam Isac Nascimento, fundador da emissora, acompanhado por André Luiz de Oliveira e Paulino José Rocha da Silva, testemunhas de uma noite que já nascia histórica. Junto com a equipe da TV Alcance seguiram exemplares do jornal O Norte Fluminense, veículo que divulga a açorianidade do Vale do Itabapoana e acompanha, com atenção e compromisso, os eventos açorianos realizados na cidade do Rio de Janeiro.

A Tuna foi consagrada a Nossa Senhora de Fátima, sob o olhar emocionado de seus padrinhos, José Toste e Idalina Gonçalves, num gesto que uniu fé, cultura e pertencimento, marcas profundas da identidade açoriana.

O repertório foi, ao mesmo tempo, travessia e reencontro. As canções desenharam pontes entre os Açores, Portugal e Brasil; entre o sagrado e o popular; entre o ontem e o agora. Soaram “A 13 de Maio”, “Olhos Negros”, eternizada na voz de Teresa Salgueiro; “Romaria” e “Tocando em Frente”, de Renato Teixeira; “Lira”, de Adriano Correia de Oliveira; “Sangue Latino”, de João Ricardo Carneiro Teixeira Pinto e Paulo Roberto Teixeira da Cunha Mendonça; “Ilhas de Bruma”, de Manuel Medeiros Ferreira; “Vinho Verde”, de Juergen Bockelmann, Michael Kunze e Santos Modesto Pereira da Silva; e o belo Hino do Divino Espírito Santo, composto por Francisco Amaro Borba Gonçalves, autor de mais de quarenta canções dedicadas aos Açores.

Houve ainda “Chamateia”, de António Melo Sousa e António Zambujo, reconhecida como hino não oficial do arquipélago, que retornou no bis, atendendo ao pedido entusiasmado do público. A despedida veio em tom brasileiro, com “Não Deixe o Samba Morrer”, lembrando que identidade também é diálogo, troca e encontro.

O público, de pé, aplaudiu longamente, daqueles aplausos raros, que reconhecem trabalho sério, qualidade artística e respeito profundo à cultura que se representa.

Entre as autoridades presentes, destacou-se Ana Rita Freitas Ferreira, Cônsul-Geral Adjunta de Portugal no Rio de Janeiro, que sublinhou a importância contemporânea, e não apenas histórica, de iniciativas como esta. Também esteve presente Fábio Martins, presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas, que lembrou que Portugal é pequeno em território, mas universal em dimensão, com presença em cerca de 180 países, graças às suas comunidades espalhadas pelo mundo.

O presidente da Casa dos Açores do Rio de Janeiro, João Leonardo Soares, e o Dr. José Andrade, Diretor Regional das Comunidades do Governo dos Açores, em participação por vídeo, reforçaram a relevância da diáspora como espaço não apenas de preservação, mas também de reinvenção cultural, onde a tradição se renova sem perder a essência.

Em um dos momentos mais simbólicos da noite, Idalina Gonçalves evocou José Saramago, lembrando que “somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos”. A frase, extraída dos Cadernos de Lanzarote, ecoou como síntese perfeita do espírito da Tuna: sem memória não existimos; sem responsabilidade, talvez não mereçamos existir.

A formação da Tuna Açoriana

A Tuna é formada por músicos que carregam não apenas instrumentos, mas histórias familiares profundamente ligadas à Casa dos Açores:

  • Francisco Amaro Borba Gonçalves, voz. Único açoriano do grupo, ex-diretor da Casa, único acadêmico, membro da Academia Bonjesuense de Letras.
  • José Machado, voz e contrabaixo. Neto de um dos fundadores da Casa dos Açores.
  • Alexandre Pires Fagundes, voz e percussão. Ex-ensaiador do Grupo Folclórico Padre Tomás Borba e filho de Anselmo Fagundes, integrante da Tuna Terceirense.
  • Pedro Fagundes, voz, violino, violão, viola da terra e percussão. Diretor da Casa, membro da Tocata do Grupo Folclórico Padre Tomás Borba. Toca com o violino herdado do avô e também participou da preparação da tradicional massa sovada servida na noite.
  • Maria Clara, voz, saxofone e percussão. Ex-integrante do Grupo Folclórico Padre Tomás Borba e solista da Banda do Colégio Militar do Rio de Janeiro.
  • Marcos Godinho Borba, voz. Conselheiro da Diáspora Açoriana pelo estado do Rio de Janeiro, diretor da Casa e integrante do Grupo Folclórico Padre Tomás Borba.
  • Carlos Henrique Faria Alves, voz, violão, flauta, gaita, bandolim e viola da terra. Filho do ex-presidente da Casa dos Açores, Albino Alves, neto de um dos fundadores e ex-integrante da Tocata do Grupo Folclórico Padre Tomás Borba.

Uma casa, muitas gerações

Fundada em 17 de julho de 1952, no bairro da Tijuca, a Casa dos Açores do Rio de Janeiro nasceu do desejo de reunir imigrantes açorianos e seus descendentes, preservar tradições e promover valores culturais em solo brasileiro. A iniciativa foi fortemente inspirada pelo escritor açoriano Vitorino Nemésio, que incentivou a criação de um espaço dedicado à identidade das ilhas.

Menos de quatro meses após a fundação, graças ao esforço coletivo da comunidade, a Casa adquiriu sua sede própria na Avenida Melo Matos, inaugurada em 24 de abril de 1954. O salão principal, batizado com o nome de Vitorino Nemésio, tornou-se palco de encontros, festas, música e memória.

Mais de sete décadas depois, a Casa dos Açores segue cumprindo sua missão: transmitir às novas gerações aquilo que não cabe apenas nos livros, o sentimento de pertencimento. A estreia da Tuna Açoriana foi prova disso. Naquela noite, os Açores não estavam apenas representados. Estavam vivos, cantando, emocionando e lembrando a todos que, no fim das contas, somos todos açorianos.

Casa dos Açores do Rio de Janeiro: Datas e Tradições

Datas marcantes

  • 17 de julho de 1952, Fundação da Casa dos Açores do Rio de Janeiro, idealizada por imigrantes açorianos e seus descendentes residentes na capital fluminense.
  • 24 de abril de 1954, Inauguração da sede própria, no bairro da Tijuca, marco da consolidação institucional da entidade.
  • O salão principal da Casa recebeu o nome de Vitorino Nemésio, escritor açoriano cuja atuação intelectual foi decisiva para a criação das Casas dos Açores no Brasil.

Fatos históricas

  • A Casa dos Açores do Rio de Janeiro integra uma rede internacional de Casas dos Açores, espalhadas pelo Brasil, América do Norte e Europa, voltadas à preservação da identidade açoriana fora do arquipélago.
  • A Tijuca foi escolhida como sede por concentrar, à época, um número expressivo de imigrantes portugueses, especialmente oriundos dos Açores.
  • A entidade sempre funcionou como espaço de acolhimento, não apenas cultural, mas também social, auxiliando recém-chegados e fortalecendo vínculos comunitários.

Eventos e manifestações culturais

  • Festa do Divino Espírito Santo, considerada a principal celebração açoriana, mantém rituais religiosos e culturais herdados diretamente das ilhas, como coroações, cânticos e partilha comunitária.
  • Grupo Folclórico Padre Tomás Borba, ligado à Casa dos Açores, é responsável por preservar e divulgar danças, músicas e trajes tradicionais açorianos, apresentando-se em eventos culturais no Rio de Janeiro e em outros estados.
  • Encontros culturais, palestras e jantares típicos, promovem a gastronomia, a história e as tradições açorianas, fortalecendo a transmissão cultural entre gerações.

Importância cultural

Ao longo de mais de sete décadas, a Casa dos Açores do Rio de Janeiro consolidou-se como guardião da memória açoriana no estado, contribuindo para a preservação de costumes que influenciaram profundamente a formação cultural do Brasil, especialmente nas regiões litorâneas e no interior fluminense.

Diretoria da Casa dos Açores do Rio de Janeiro, Biênio 2025/2026

Presidente: João Leonardo Soares
1º Vice-Presidente: Álvaro Neves da Silva Mendonça
2º Vice-Presidente: Fernando Pires Fagundes
1º Secretário: Juliana Evangelho Gonçalves
2º Secretário: Leandro Vieira Borges da Rocha Lopes
1º Tesoureiro: Davi Mendes Faria de Toledo
2º Tesoureiro: Antônio Amaro Soares da Costa
1º Procurador: Antônio Carlos de Andrade
2º Procurador: Paulo Renato da Silva Torres

 Diretores por Departamento

Diretores Sociais:

  • Daniel Fernando de Jesus Pacheco
  • Marcelo Cota Ormonde

Diretores Culturais:

  • Francisco José Oliveira Valadão
  • Stephanie Ventura Valadão

Diretores Artísticos:

  • Patrícia Maria Fernandes Moreira Soares
  • Ana Paula da Silva Nascimento

Diretores de Esportes:

  • Pedro Henrique Pires da Rocha Machado Fagundes
  • Marcos Godinho Borba

Diretores de Relações Públicas:

  • Rosemary Fernandes da Costa Moreira
  • Daniel Ferreira Abreu

Diretoras do Departamento Feminino:

  • Sonia Maria Veloso de Andrade
  • Patrícia Maria Fernandes Moreira Soares

 Conselhos

Conselho Fiscal:

  • Alexandre Gonçalves Pimentel
  • Francisco de Assis Lemos Rocha
  • Magali Carneiro Amorim

Conselho Deliberativo:

  • Presidente: Anselmo Pires Fagundes
  • 1º Secretário: João Marcos da Rocha Pires Fagundes
  • 2º Secretário: José Galante Gonçalves Toste



































































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