O Pão que Guarda Memórias
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| Irmandade do Divino Espírito Santo celebra 112 anos com tradição açoriana |
No dia 14 de abril de 1913, quando o Rio ainda respirava os ares de um país que despertava para a força do catolicismo leigo, cinco homens, Manoel Faria dos Santos, Aníbal Natal Campagnani, Manoel Pedro de Carvalho, João Muniz Machado e Manoel de Souza Oliveira, ergueram, na Praça Barão de Drumond, nº 17, em Vila Isabel, a Irmandade do Divino Espírito Santo. Nascia ali uma devoção particular e, ao mesmo tempo, profundamente partilhada, dessas que unem pelas raízes e, sem alarde, transformam um bairro inteiro em território de fé.
Era 1913: irmandades, associações religiosas e tradições populares brotavam pelas capitais brasileiras. No Rio de Janeiro, Vila Isabel encontrava seu lugar nesse movimento silencioso e luminoso, abrindo espaço para que a devoção ao Divino ganhasse corpo, voz e casa própria.
Cento e doze anos depois, a mesma Irmandade, firme como vela acesa em dia de vento, volta a experimentar expansão. Hoje, um facho feliz parece iluminar o mundo, como se o próprio tempo tivesse aprendido a fazer reverência ao passado. A tradicional Massa Sovada Açoriana tomou conta da sede, preparada com aquele carinho que só as mãos antigas conhecem. As encomendas foram feitas com antecedência; as entregas, prometidas para amanhã, 16 de novembro, se estenderão ao longo de todo o dia. Os recursos obtidos, como sempre, destinam-se à manutenção do prédio: esse guardião silencioso de tantas memórias.
Há histórias que se repetem porque são eternas. Quando o açoriano Padre Antônio Francisco de Mello, nascido na ilha de São Miguel, chegou a Bom Jesus do Itabapoana em 18 de junho de 1899, trouxe consigo a irmã Mariquinha e a tia, dona Cândida. Foram elas que, todos os dias, por volta das três da tarde, preparavam o que o povo passou a chamar de “Pão do Padre”: a mesma massa sovada que palpita há gerações como identidade açoriana. O dinheiro arrecadado ajudou a erguer a Igreja Matriz, cuja fachada magnífica parece, até hoje, sustentar o céu local.
A massa sovada, afinal, sempre foi mais que alimento: é laço, raiz e ponte. É o ponto de união entre açorianos e açordescendentes, estejam onde estiverem.
No raiar do dia, quando o sol nascia devagar, como quem compreende o ritmo das ilhas, a Irmandade se enchia daquele cheiro quente e doce que antecede qualquer memória. Primeiro o perfume, depois a lembrança e, por fim, o silêncio breve que precede o admirar do trabalho coletivo.
A sovadeira repousava como território ancestral. Ali dentro, farinha, ovos e açúcar se encontravam como no gesto antigo das mãos que sovavam. Cada empurrar parecia uma migração; cada dobra, uma travessia. Não era preciso explicar como as mãos da Irmandade sabiam o que fazer. Elas simplesmente sabiam, como se o fermento lhes tivesse sido soprado ao nascer.
Enquanto a massa crescia , um jogo de baralho, a popular “sueca”, ajudava a passar o tempo. O jogo, tão comum nos Açores, é tradição, é pertencimento: a marca silenciosa do tempo certo da espera.
Açorianos e açordescendentes tornavam-se um pouco ilhéus quando o fermento atuava e o pão dourava no forno. Ali, identidade não era bandeira: era sabor. Era um quentinho no peito, lembrando que existir também é lembrar de onde veio o nosso doce.
Quando as roscas, arredondadas como promessa, saíram do forno, logo ficou a sensação de que, naquele instante, todos as partilhavam com os olhos.
A massa sovada, silenciosa e orgulhosa, dizia tudo o que não cabia em voz: que identidade é fermento invisível, capaz de nos levantar mesmo quando não sabemos de que lado sopra o vento. O êxito do evento pode ser avaliado pelo número de encomendas: um total de 224, que serão entregues amanhã.
E as boas notícias sobre a açorianidade continuam a brotar como massa bem levedada. Em 13 de dezembro, será reativada a tradicional Tuna Açoriana, em grande apresentação na sede da Casa dos Açores do Rio de Janeiro. Em Bom Jesus do Itabapoana, nasceu neste ano a Tuna Luso-Bonjesuense. Ao mesmo tempo, sob o apoio constante do Dr. José Andrade, Diretor Regional das Comunidades, as Casas dos Açores se multiplicam pelo mundo, num trabalho sereno e de raiz, no qual açordescendentes reafirmam, sem alarde, o compromisso com a história, os valores e o futuro.
Disse certa vez, com brilho, o Dr. José Andrade:
“O passado tem futuro.”
Talvez por isso a equipe da TV Alcance e do jornal O Norte Fluminense, de Bom Jesus, terra de açordescendentes e do açoriano adotivo Padre Antônio Francisco de Mello, percorreu cerca de 405 quilômetros, quase ali ao lado, para registrar esse momento marcante.
Porque há viagens que não se medem em quilômetros,
mas em raízes. E há histórias que não se contam apenas com palavras, mas com pão quente e memória viva.
Estão de parabéns o Presidente da Irmandade,
ANTÔNIO AMARO DA COSTA,
e todos os colaboradores do evento memorável de hoje:
Marcos Borba
Carlos Alves
Alexandre Fagundes
Srª Délia Ormonde
Srª Maria Silva
Pedro Fagundes
Alexandre Pimentel
Francisco Moraes
Manuel Tavares Toste
Maria Silva Soares
Eduardo e Cristiane Costa
Vivam os Açores, nossa Terra-Mãe!








































































Que frase linda! As raízes e o pão quente simbolizam a tradição e a cultura açoriana de forma perfeita. Parabéns ao Presidente e colaboradores pelo evento, certamente foi um momento inesquecível !👏👏👏❤️
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue lindo … muito orgulho de fazer parte disso … SALVE O DIVINO ESPÍRITO SANTO. Parabéns a irmandade da praça sete .
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