terça-feira, 13 de março de 2018

O HOSPITAL E A TRAIÇÃO AO POVO BONJESUENSE



Hospital São Vicente de Paulo 


O argumento dos dirigentes do Centro Popular Pró-Melhoramentos, entidade responsável pelo Hospital São Vicente de Paulo, assim como dos membros do Conselho Deliberativo, órgão que o fiscaliza, alegando sobre a necessidade de alterar os estatutos da instituição  para enfrentar os desafios dos novos tempos, constitui o que poderíamos chamar de corrupção de linguagem.

Trata-se, na verdade, de uma traição ao povo bonjesuense e aos ideais que fizeram nascer o nosocômio.

A alínea "a" do art. 5º. do estatuto vigente prevê a garantia de assistência "gratuita" para "os comprovadamente carentes de recursos". E essa foi realmente a finalidade primordial da criação do hospital: assistir os hipossuficientes economicamente.

Com efeito, por ocasião da inauguração do hospital, no dia 6 de janeiro de 1925, Cesar Ferolla assinalou em seu discurso: "Faltava-nos, pois, o hospital: era uma dívida para com os nossos pobres, era um dever a que não se pode afastar todo o povo que se diz civilizado..."

A nova proposta estatutária que vai ser apresentada, em breve, para aprovação dos atuais sócios, elimina por completo, contudo, a referência à "assistência gratuita para os comprovadamente carentes de recursos".

Dessa forma, pouco a pouco o Hospital São Vicente de Paulo vai se transformando em entidade guiada por fins exclusivamente econômicos, consubstanciando-se em verdadeira traição ao povo bonjesuense e aos princípios humanitários que foram a razão de fundação da entidade.

Fonte do hospital assegura que a proposta de alteração estatutária foi toda elaborada pelo setor jurídico da Faculdade Redentor, de Itaperuna (RJ), o que revela que é esta entidade de fins particulares que comanda de fato o hospital.

Em sintonia com isso, está a circunstância de o atual presidente do Centro Popular ser funcionário da Faculdade Redentor, o que é proibido pelo estatuto do hospital.

Sintomático, ainda, que o administrador do hospital tenha salário pago pelo nosocômio e pela referida instituição de ensino.

Nenhum dirigente do hospital se dignou, até hoje, a vir a público esclarecer à sociedade essas articulações. 

Qual o pacto realizado com a Redentor? 

Por que não se divulga o referido acordo para toda a sociedade? 

O que temem os dirigentes do Centro Popular e do Conselho Deliberativo em tornar transparente a relação com a Faculdade Redentor?

O fato é que tudo é nebuloso nas entranhas do Centro Popular e do Conselho Deliberarivo.

Os reis estão nus, mas, mesmo assim, fazem questão de se autoproclamarem imbuídos dos mais nobres ideais.

Mas, como diz o ditado, "à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta".



A alínea "a" do art. 5º do atual estatuto do hospital estabelece que deve ser "gratuita a assistência para os comprovadamente carentes de recursos"



Na nova proposta de alteração estatutária, a alínea "a" elimina a obrigação do hospital em atender as pessoas hipossuficientes


HOSPITAL FOI FUNDADO PARA ACOLHER OS POBRES


O Hospital São Vicente de Paulo e a Capela de Nossa Senhora do Rosário foram fundados no dia 6/1/1925



No dia da inauguração do Hospital, no dia 6/1/1925, César Ferolla pronunciou um discurso histórico, que foi publicado no jornal bonjesuense Nossa Terra, editado por Antônio da Costa Freitas, e do qual aqui reproduzimos uma parte:

"Inaugura-se afinal, hoje, o Hospital São Vicente de Paulo, fato que ansiosamente esperávamos. Trazendo as nossas congratulações aos denodados cavalheiros que a custa de não pequenos esforços conseguiram erigir esse grandioso monumento, é com o maior e sincero prazer que vemos Bom Jesus dotado de uma das maiores instituições que poderíamos imaginar. Uma das maiores sim, porque tudo pode ser dispensado em uma localidade, menos a igreja, a escola e o hospital; a primeira, para a alma, a segunda, para a inteligência, e a terceira, para o corpo. A igreja, graças aos esforços do ilustre amigo e virtuoso Padre Mello, aí está, obra prima de arte e bom gosto; a escola, vêmo-la nos diferentes institutos de ensino, particulares e públicos. Faltava-nos, pois, o hospital: era uma dívida para com os nossos pobres, era um dever a que não se pode afastar todo o povo que se diz civilizado, mas finalmente, eis o pujante, grandioso, e que não sei se é pelo amor que temos à medicina, ciência magna, ou por outra qualquer causa, consideramos iniciada em Bom Jesus uma nova era, farta em bênçãos divinas, e que garantidamente há de ser o reflexo da alma bondosa daqueles que erigiram e hão sustentar a nova casa de caridade...".


  Cesar Ferolla: texto histórico por ocasião da inauguração do Hospital 


O Hospital e a Capela foram fundados pela Associação São Vicente de Paulo, cujo presidente era o Dr. Diogo Cabral de Mello.

Após procissão ocorrida às 16h30min, deu-se início à solenidade de inauguração, ocasião em que o presidente da entidade convidou para a mesa o Reverendo Padre Mello e o Monsenhor Henrique Mourão, Bispo da Diocese de Campos. Fizeram uso da palavra, na oportunidade, o médico Dr. Agenor de Barros, Octacílio de Aquino e Cesar Ferolla. Padre Mello, impressionado com a qualidade dos discursos, solicitou, então, que os mesmos fossem impressos, para divulgação.

A orquestra regida pelo maestro Leopoldo Muylaert abrilhantou o evento.

Ao final, Monsenhor Mourão se disse "impressionado com a demonstração de fé que assistia", afirmando que "a verdadeira caridade é a que se origina do amor de Deus".







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